Problemas bucais, como gengivite, piorreia, também conhecida como periodontite, e cáries, aumentam a propensão a partos prematuros, segundo o cirurgião-dentista Mario Sergio Giorgi, do Conselho Regional de Odontologia de São Paulo (CROSP).
Ele explica que os problemas bucais, principalmente causados pela má escovação, ocasionam acúmulo de bactérias na gengiva que, se chegarem à corrente sanguínea, podem se instalar no útero e na placenta, estimulando as contrações, o que leva a um parto prematuro ou aborto espontâneo.
Os problemas bucais são fatores de risco para parto prematuro, mas as principais causas do problema são história pessoal ou familiar de parto prematuro, medida do colo do útero menor que 25 mm por ultrassom com 20 semanas de gravidez, gestação gemelar e infecção urinária ou vaginal, segundo o ginecologista e obstetra Renato Augusto de Sá, da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo).
"Estudos vêm apontando que a gengivite e a piorreia possuem relação que oferece condições de parto prematuro, que consiste em nascimento até a 37ª semana, e bebês com baixo peso, tendo menos de 2,5 kg”, afirma o dentista.
As cáries também aumentam a probabilidade de parto prematuro, segundo ele, porque há necrose do nervo dental, podendo criar um foco para as bactérias entrarem na corrente sanguínea. Fatores como placa bacteriana e biofilme (comunidade de microorganismos), relacionados à deficiência de escovação, também aumentam a chances de doenças periodontais e gengivites.
Giorgi esclarece que a gestação pode favorecer o aparecimento dessas doenças por conta de alterações hormonais e alterações no pH da saliva, mas o fator principal é a higiene bucal da mulher antes mesmo do período gestacional.
“A gengivite e periodontite são doenças inflamatórias crônicas, então a gestante já tem essa condição antes de engravidar. Uma alteração na boca interage com o organismo”, afirma.
Giorgi ressalta que as consultas ao dentista durante a gestação devem fazer parte dos cuidados do pré-natal. O ideal é que a mãe faça consultas a cada três meses durante a gestação para fazer acompanhamento.
Os tratamentos para os problemas periodontais são possíveis na gravidez, mas precisam de cuidado. Nos três primeiros meses e nos dois últimos, os mais delicados da gestação, segundo o dentista, a gestante não pode realizar procedimentos mais complexos, limitando a ação do profissional a quatro meses.
O obstetra ressalta que o uso de anestesia em tratamentos dentários durante a gravidez devem ser evitados. "Sempre existe risco de absorção do anestesico pela mãe. O vasocontrictor usado é a adrenalina e pode prejudicar o fluxo sanguineo para o feto", afirma.
O dentista explica que a anestesia pode ser usada desde que não contenha substâncias vasoconstritoras e o cirurgião-dentista irá avaliar qual a solução anestésica a ser utilizada.
A deficiência na escovação também pode gerar o tumor gravídico, grande inchaço da gengiva que desaparece ao longo da gestação, explica o dentista.
Os enjoos da gravidez também podem gerar vômitos que, pela acidez, se não houver escovação, pode afetar o esmalte do dente e predispor à formação do biofilme ou cáries. A qualquer aparecimento de sangramento, mudanças na coloração da gengiva ou inchaço, a mãe deve se dirigir a um dentista.
Embora as condições de saúde bucal da mãe não interfiram na saúde bucal da criança, Giorgi ressalta que os hábitos de alimentação e higiene bucal podem ser passados de mãe para filho, como a introdução do açúcar e má escovação.
O dentista recomenda que, quando o dente da criança erupciona e a introdução alimentícia esteja acontecendo, a mãe deve começar a ter o hábito de limpar o dente do bebê, seja com uma dedeira ou com escovas infantis específicas com cerdas macias para que não haja formação de cáries gengivais.
Fonte: R7 (notícia original publicada em 13/08/18).
Fotos: FreePik