Um estudo da Universidade de Princeton (EUA) parece apontar um caminho para esclarecer o que faz o desenvolvimento dos prematuros não acompanhar o de bebês nascidos a termo. Especialistas analisaram 100 bebês aos 6 meses de vida, considerando a idade corrigida para os prematuros, em um experimento de duas fases. Na primeira etapa, os pequenos foram expostos a sons – como um chocalho ou uma buzina – e logo em seguida à imagem de um desenho com um nariz vermelho. Enquanto isso, os bebês tinham sua atividade cerebral monitorada. Em um segundo momento, partindo do princípio que os pequenos haviam assimilado esse padrão que combina imagem e som, os especialistas repetiram o experimento, mas passaram a omitir a figura algumas vezes. Nos nascidos a termo, a atividade cerebral foi detectada nas áreas do cérebro ligadas à visão, mesmo quando a imagem não apareceu como esperado. Já nos prematuros o mesmo não aconteceu.
Isso mostra que com os bebês nascidos dentro do tempo previsto, as zonas cerebrais visuais responderam não apenas aos estímulos daquilo que eles enxergavam, mas também àquilo que eles esperavam ver. “Parte do aprendizado é a expectativa. Se o bebê ouve a voz da mãe ou sente seu cheiro, ele espera vê-la”, explica a neuropediatra Silvana Frizzo, do Hospital São Luiz Itaim (SP). Em outras palavras, é como se o cérebro fosse sendo moldado não apenas pelos estímulos fornecidos pelo ambiente e pelos contatos com outras pessoas, mas pela própria expectativa dos bebês. Uma parte da aprendizagem é feita por essa ferramenta de antecipação. Só que, como mostrou a pesquisa, esse processo não acontece com os prematuros e, talvez isso possa trazer dificuldades de aprendizagem mais adiante.
Para Silvana, o estudo é importante porque demonstra a necessidade de estar ainda mais atento ao desenvolvimento dos prematuros. “De acordo com a Sociedade Brasileira de Neurologia, todos os bebês prematuros que nascem com menos de 32 semanas ou pesando menos de um quilo e meio deveriam ser regularmente acompanhados por um neurologista, da mesma forma que passam por um pediatra”, explica Silvana. Só que, na maioria dos casos, isso não acontece. Apenas os prematuros que tiveram alguma intercorrência durante o período de internação, como meningite e hemorragia intracraniana, é que são encaminhados para um neuropediatra. Os demais, que passam pela UTI sem problemas, não. Foi o caso de Maria Luiza, 2 anos e 8 meses, que nasceu de 28 semanas e pesando 1 quilo. Passou 70 dias na neonatal e teve bronco displasia pulmonar, mas não fez acompanhamento com um neuro. “Ela apresentou dificuldade de linguagem, não falava. Levei à fonoaudióloga e ela disse que tinha a ver com prematuridade, mas nunca a levei a um neuropediatra. Ela foi pra escola esse ano e ainda não sei se terá dificuldade”, conta a mãe, Tais, 36 anos, fisioterapeuta. O grande problema é justamente perder a oportunidade de fazer a intervenção precoce. “Essas crianças chegam para nós mais tarde, quando já apresentam problemas no desenvolvimento.”, completa Silvana.
Cuidado extra
Vale lembrar que é preciso prestar ainda mais atenção ao desenvolvimento de bebês prematuros. “Um dos fatores importantes a se considerar é que 25 a 40% dos prematuros apresentam sequelas em seu desenvolvimento cognitivo”, explica a neuropediatra Mara Lúcia Schmitz Santos, do Hospital Pequeno Príncipe (PR). Isso acontece porque o sistema nervoso central se desenvolve de forma ordenada, assim como o processo de mielinização, que consiste em revestir de mielina, uma substância lipoproteica, os axônios, que são as estruturas que transmitem os impulsos nervosos. Durante o quarto mês de gestação, inicia-se o processo de mielinização, que ocorre em sentido determinado: de cima para baixo e do tronco em direção aos membros. “Em cada mês da gestação alguma área diferente está em processo de mielinização. Se uma criança nasce prematuramente, algumas destas áreas podem não estar desenvolvidas adequadamente, dependendo da sua idade gestacional. Quanto mais prematuro, maior o risco”, completa Mara.
Fonte da notícia: Revista Crescer (notícia original publicada em 02/03/17)
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