Na decoração do apartamento, o menino Jesus na manjedoura foi escolhido com cuidado pela contadora Ana Maria Escobar. A imagem, comprada no último Natal, guarda o mesmo tamanho de Pedrinho ao nascer. “Ele era até mais magrinho que esse Jesus, acredita?”, detalha a mãe. Ela faz questão de lembrar como ele chegou.
Pesando 550 gramas, medindo 26 centímetros. Nascido no sexto mês de uma gestação de alto risco. Com o pequenino fora da UTI, a família se anima para celebrar um Natal em casa.
O ambiente hospitalar, o leito de UTI, os diversos aparelhos para permitir que vida continue fora do útero materno. Aquilo tudo pareceu familiar e esteve guardado em algum lugar do inconsciente de Marina Maia. Ela, que nasceu prematura há 26 anos, descobriu no último ano o que é ser “mãe de UTI”. É sentir angústia e encontrar solidariedade em outras mães. É se apegar à fé e aprender sobre tantos cuidados que os filhos vão precisar. Ela continua a jornada agora em casa, comemorando cada conquista do filho Theo, que nasceu no oitavo mês de gestação.
Quem também teve contato prévio com a prematuridade foi a neonatologista Eveline Maia, ajudando os filhos das pacientes na luta pela sobrevivência. Sem adivinhar que passaria pela mesma situação. Que veria a filha Gabriela, por cinco vezes, adquirindo a mesma aparência de prematuros enfrentando os minutos finais da vida. Mas, entre sustos e alívios, a menina segue internada. “Sei que vou passar o Natal com ela na UTI. Eu não desisto dela, ela não desiste da vida. Acredito que ela tem uma missão muito forte”, diz emocionada.
Na literatura médica, a criança é prematura quando nasce antes das 37 semanas de gestação — equivalente a oito meses e meio. No entanto, há pelo menos três graus de prematuridade: extrema, moderada e tardia. Quanto mais cedo a idade gestacional no nascimento, mais delicados tendem a ser os casos. O limite de viabilidade para que a criança sobreviva fora do útero fica entre a 23ª e 24ª semana (sexto mês) da gravidez.
“A essa altura, o bebê está com os órgãos formados, mas não completamente maduros. Ele precisa de uma assistência adequada na UTI neonatal para realizar funções que ele não consegue”, explica Francielze Lavor, neonatologista da Maternidade Escola Assis Chateaubriand (Meac). São os cuidados para ajudar na respiração, na nutrição e na manutenção da temperatura do corpo, por exemplo.
Um novo tempo
Numa luta diária, os pequeninos vão reunindo forças para sobreviver. Sem saber que, ao redor de cada leito, a dinâmica dos familiares é virada ao avesso. E, tal como na tradição cristã, o natal de cada um deles abre uma pausa na correria da vida. Entram em cena a contemplação e o cuidado com o recém-nascido indefeso, num caminho que leva à união e põe desavenças em segundo plano. De repente, nada é tão importante ou tão frágil quanto a vida.
Fonte da notícia: O Povo (notícia original publicada em 18/12/16)