Thaís Fersoza surpreendeu os fãs ao anunciar sua segunda gestação pouco tempo depois de Melinda completar seis meses de vida. A situação não é comum e muitos começaram a se perguntar se engravidar com um intervalo tão curto entre um bebê e outro é arriscado.
A resposta é sim. “O Ministério da Saúde e a Organização Mundial da Saúde dizem que o intervalo entre uma gravidez e outra tem de ser de, pelo menos, um ano e, idealmente, de dois”, afirma o ginecologista e obstetra Fábio Cabar, membro titular da Sogesp (Associação de Obstetrícia e Ginecologia de São Paulo) e da Febrasgo (Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia).
De acordo com o médico e ginecologista Dr. Alberto Jorge Guimarães, criador do programa Parto Sem Medo, embora o corpo da mulher já possa fisiologicamente abrigar um feto poucos meses depois do nascimento do anterior (logo depois da primeira menstruação, geralmente a partir do 40º dia), o ideal é esperar um tempo para que o corpo se recupere da gestação anterior.
Como explica o especialista, o tempo entre uma gravidez e outra mínimo ideal são 18 meses. Isto porque a gravidez aumenta em até 20 vezes o útero e gera uma série de mudanças hormonais, nas articulações, no líquido circulante e, portanto, o corpo precisa de um tempo para recuperar seu funcionamento anterior. “Logo após o parto, o útero pesa cerca de 1 kg. Com dois meses, ele volta ao tamanho normal, com 70g. É muita mudança”, comenta.
O período serve para que o corpo da mulher se recupere. Entre várias mudanças que acontecem na gravidez, pode-se citar o aumento do volume de líquidos na corrente sanguínea, exigindo mais do sistema cardiorrespiratório da mãe, e a frouxidão da musculatura, que acontece para acomodar o crescimento da barriga. Há também um risco maior para a mãe de anemia por carência de ferro, já que a gestação demanda muito dessa substância do organismo materno.
Mas, se o intervalo entre uma gestação e outra é menor do que este, alguns riscos são esperados. O primeiro e mais grave deles, de acordo com o médico, é a prematuridade. “Se uma mulher engravidar antes do nascimento do bebê anterior completar um ano, o segundo tem grandes chances de nascer prematuro. Não se sabe exatamente a causa, mas uma grande observação clínica mostra que esse risco só reduz depois do 18º mês".
O médico ainda explica que nessas situações, o risco de uma mulher conseguir um parto normal no segundo nascimento - melhor via de parto para mães e bebes saudáveis - é muito menor. “Existe um risco maior de ruptura uterina porque a cicatriz é recente e pode abrir”, diz.
Além disso, pode haver restrições no crescimento fetal. “Ele começa a ter dificuldade para ganhar peso”, comenta.
Via de parto
A questão do intervalo entre gestações ganha um cuidado maior quando o primeiro bebê nasceu de cesárea. Isso porque, nessa via de parto, é feita uma incisão que atinge sete camadas de pele e é necessário dar ao corpo tempo para cicatrizar esse corte.
“Antes de um ano, há um risco aumentado de ruptura do útero na área da cicatriz da primeira cesárea, durante o trabalho de parto”, afirma o ginecologista e obstetra Ricardo Luba, também membro da Sogesp.
Segundo Luba, a complicação é rara, mas deve ser considerada durante o pré-natal. “É possível acompanhar a espessura do útero por meio de exames de ultrassom.”
Para o especialista, a grossura do órgão deve ser considerada na hora da definição da via de parto do segundo filho. “Não há um consenso se o caçula deve nascer de cesárea após um irmão nascido cirurgicamente. Há médicos que podem considerar seguro um parto vaginal”, declara Luba.
Cabar afirma que não recomendaria a uma paciente que fizesse uma cesárea simplesmente porque o primeiro filho nasceu por essa via de parto. “Mas se fosse o terceiro bebê, com os dois anteriores nascidos cirurgicamente, ele teria de nascer por cesárea.”
Mulher grávida pode amamentar?
De acordo com os médicos ouvidos pela reportagem, outra questão a ser considerada em uma gestação com intervalo menor de um ano é a amamentação.
Embora admitam que não se trata de consenso, ambos recomendariam a suspensão do aleitamento do primeiro filho em caso de segunda gestação.
A justificativa de ambos diz respeito a liberação da ocitocina no organismo materno. O hormônio responsável pela descida do leite tem como efeito a contração do útero.
“Há risco de trabalho de parto prematuro, mas é claro que pode acontecer de a mulher engravidar, continuar amamentando e nada acontecer. Em medicina, a gente trabalha com probabilidades”, declara Barca.
A amamentação, embora não seja um método contraceptivo garantido, dificulta uma gestação. Isto porque, enquanto as mulheres estão amamentando, o corpo libera um hormônio – a prolactina – que inibe a ação dos ovários.
No entanto, variações na quantidade de leite produzida ou ofertada ao bebê, além de fatores externos, podem baixar o nível deste hormônio no sangue, permitindo que um óvulo seja liberado e, consequentemente, uma gestação surja.
Neste caso, muitas mulheres ficam em dúvida se a amamentação deve seguir ou não. Embora a demanda aumente, já que agora o corpo da mãe vai ser meio nutricional de dois – do bebê e do feto – o especialista explica que não sugere a suspensão do aleitamento. “Prefiro manter. Mas, na prática, é muito comum que esse bebê abandone o peito. Ele desmama naturalmente e algumas mães passam a se sentir culpadas”, comenta.
Fonte da notícia: Bolsa de Mulher e UOL (notícia original publicada em 20/02/17)
(Foto: Reprodução/Instagram)