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22.09.2021

Unidos pelo parto seguro, respeitoso e pela vida.

Estadão - Política, publicado em 18/09/2021

Estatísticas da Organização Mundial da Saúde (OMS) são alarmantes: no mundo, todos os dias, 830 mulheres morrem de causas evitáveis relacionadas à gravidez e ao parto. Já anualmente, 2,5 milhões de bebês morrem logo após nascer. O cenário se agravou com a pandemia da Covid-19, com 38 óbitos maternos por coronavírus a cada semana em 2021, de acordo com o Observatório Obstétrico Brasileiro.

Muitas dessas perdas poderiam ter sido evitadas e, para reforçar esse alerta, mais de 30 entidades se uniram e criaram a Aliança Nacional para o Parto Seguro e Respeitoso. A criação atende ao chamado da OMS, que escolheu o “Cuidado materno e neonatal seguro” como tema do Dia Mundial da Segurança do Paciente 2021, comemorado em 17 de setembro e com várias ações webnars e eventos acontecendo por todo o Brasil.

Essa união de forças tem como missão seguir dez diretrizes principais, definidas pelas entidades que a integram: Equidade, Respeito, Redes de Atenção, Parto Adequado, Prevenção à Mortalidade Materna, Prevenção da Prematuridade, Letramento, Empoderamento e Engajamento e Participação da Família.

No que diz respeito à prematuridade – foco da nossa entidade e que também integra a Aliança, ações de combate são de extrema necessidade. O Brasil é o 10º país no ranking global de partos prematuros, os quais ocasionam 10 vezes mais óbitos de crianças do que o câncer. São 340 mil famílias passando pela experiência da prematuridade todo ano em território brasileiro, 12% do total de nascimentos.

Muitos dos prematuros que sobrevivem carregam alguma sequela do nascimento antecipado. Por isso, toda forma de prevenção é de grande valia para a sociedade, se fazendo necessária a implantação de ações para o enfrentamento e que a questão seja uma das prioridades do poder público para reduzir essa problemática.

Em junho, a Comissão de Seguridade Social e Família da Câmara dos Deputados aprovou proposta nesse sentido, que foi sugerida pela ONG Prematuridade.com e segue em tramitação. Pelo texto, durante o acompanhamento pré-natal, a equipe da rede de saúde deverá alertar as gestantes sobre os sinais e sintomas do trabalho de parto prematuro; e identificar, tratar, referenciar e acompanhar gestantes com fatores de risco.

Além dos danos emocionais e físicos que a prematuridade causa, é inquestionável que o nascimento prematuro acarreta altos custos para os cofres públicos. Entre outubro de 2016 e junho de 2019, a ONG Prematuridade.com entrevistou 2.900 famílias de bebês prematuros e constatou que o tempo médio de internação desses bebês na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) Neonatal, após o nascimento, foi de 51 dias. Naquela época, para esse período, a estimativa era de que a situação resultava em um custo de, aproximadamente, R$ 8 bilhões.

Muitas vezes, somente quando se fala em cifras é que se consegue a atenção e o engajamento de quem tem ‘a caneta na mão’. Pois bem, evidências não faltam e, diante de todos os expostos, é urgente que se fale e se faça muito mais para mudar o cenário da prematuridade no nosso país, começando por campanhas em massa de conscientização e educação que visem à redução do número de partos prematuros, incluindo programas de planejamento familiar, identificação precoce de fatores de risco e acompanhamento pré-natal de qualidade.

Outros importantes pontos de entrave para que as mulheres não recebam ou deixem de procurar os cuidados durante a gestação e o parto são a pobreza, a falta de informações e os serviços de saúde inadequados. Essas barreiras, que limitam o acesso a serviços de qualidade, devem ser identificadas e enfrentadas em todos os níveis do sistema de saúde, para que haja a melhora efetiva na saúde materna. Batalhar por essas mudanças é o propósito da Aliança Nacional para o Parto Seguro e Respeitoso.

Cada perda, seja de mães ou de bebês, deve ser sentida da mesma forma por todos nós, especialmente pelos órgãos responsáveis pela segurança e saúde de todos os cidadãos. E que todas as tristes estatísticas revertam em ações sociais e públicas, de forma rápida e potente, para que aquilo que é o mais importante – a vida – prevaleça.

*Aline Hennemann é vice-diretora executiva da ONG Prematuridade.com, enfermeira neonatal, docente na área e ativista nas ações em prol dos prematuros. 

Fonte: Estadão - Política

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