Notícias

Notícias

03.03.2022

Todos nós precisamos de proteção: Sobre os Cuidados Paliativos e a Neonatologia

As estatísticas apontam quinze milhões de nascimentos prematuros a cada ano no planeta. Um número que insiste em não parar de crescer. Bebês precisando de proteção para seu sofrimento clínico: a respiração frágil, o metabolismo instável, a fragilidade imunológica. Proteção também para seu sofrimento emocional: o medo, a solidão, a privação materna e familiar. Proteção para seu sofrimento social: como garantir a qualidade técnica do atendimento ideal que a sua condição exige? Mas suas famílias da mesma maneira precisam de proteção.

Proteção para a dor física decorrente do nascimento prematuro e suas causas. Proteção para as consequências do sofrimento familiar que esse nascimento acarreta. Proteção para as dores emocionais de uma prematuridade que traz sempre perguntas difíceis de responder, mais fortes ainda quando essa prematuridade é acompanhada pelos dias difíceis de uma UTI Neonatal. Proteção para os caminhos espirituais para os quais o pensamento é levado nessas situações sempre delicadas. Proteção para as dores familiares que se veem envolvidas na mesma dor ligadas ao nascimento prematuro. Proteção para a dor social que vai da vaga na UTI à busca da garantia da medicação e das terapias no período pós alta. E da dor social que vai ser o custo da integração de um bebê muitas vezes com condições especiais em uma sociedade que precisa recebê-lo por fazer parte da sua história.

Precisam de proteção, da mesma maneira, as dezenas de profissionais que cuidam desses bebês. Proteção para o desgaste físico das longas jornadas de trabalho. Proteção para os seus sofrimentos emocionais decorrentes das perdas e dos apegos não trabalhados num ambiente onde se convive com uma clientela sempre em grande risco de vida. Proteção para seus sofrimentos sociais quando muitos precisam lutar por salários e condições dignas de trabalho. Proteção para suas dores familiares, quando elas são deixadas muitas vezes por dias seguidos em nome dos cuidados prestados aos pequenos pacientes.

Eis aí exposto o sofrimento deste pedaço do mundo. E se nos damos conta de que todo sofrimento é uma urgência, torna-se cada vez mais necessário compreender que os cuidados paliativos, mais do que cuidados oferecidos a pacientes em fim de vida, são cuidados de proteção de sofrimento que devem nos alcançar a todo momento e em todos os níveis profissionais. A prática de cuidados paliativos dentro da Neonatologia deve estar cada vez mais envolvida com a própria prática da Neonatologia diária.

O sofrimento não escolhe dia certo. Gente certa. E de alguma forma o modo mais objetivo que se conhece para poupar-se dele é cuidando da própria história. Cicely Saunders disse uma vez que "o sofrimento só é intolerável quando ninguém cuida". Os Cuidados Paliativos em Neonatologia são nossa forma mais terna e mais firme de cuidado. Porque todos nós precisamos de proteção.

Autor: Luis Alberto Mussa Tavares

Compartilhe esta notícia

Histórias Reais

Veja histórias por:

Receba as novidades

Assine nossa newsletter e fique por dentro de tudo que acontece no universo da prematuridade.