A notícia sobre a chegada de um filho, na maioria das vezes, envolve os pais em uma série de sentimentos tais como, a alegria, o medo, a dúvida. Durante a gestação, planos tomam conta de seus pensamentos, sobre os cuidados a serem dispensados ao bebê que virá. A aparência da criança é ilustrada em seu imaginário, porém não faz parte de seus ideais o nascimento prematuro e um bebê pequeno com aparência frágil.
Independente do recém-nascido ter nascido com baixo peso ou baixo peso extremo, a separação do aconchego dos pais é inevitável. Esses pais, agora tão prematuros quanto o seu bebê, também se sentem fragilizados. As palavras utilizadas pela equipe para informar notícias sobre a criança ou palavras utilizadas pela sua rede social (familiares, amigos, comunidade) podem ter repercussões futuras, tanto positivas, quanto negativas.
Escutar da equipe "Mãezinha, não crie expectativas. Casos como o de seu filho são muito difíceis" ou ainda "não se preocupe, você é nova! Se ele não sobreviver, poderá ter outro" são frases que lhes provoca uma ansiedade elevada acompanhada da total ausência de empatia. Essa mãe passa a se sentir insegura e, para enfrentar a situação desconhecida e amedrontadora, utilizará como estratégia esquemas mentais disfuncionais, mostrará-se desconfiada e pouco colaborativa. As aflições maternas, ocasionadas pela instabilidade clínica do bebê, já impõe à mãe a experiência de conviver com a possibilidade de perda do filho (Pereira et al, 2015).
Comentários com o intuito de fortalecer a mãe, mas sem a conotação empática, podem se mostrar desastrosos! "Por que você está chorando? Aqui não é lugar de gente triste! Pode ir embora e só volte quando estiver com a cara boa": essa fala poderia ser dita de outra maneira, como, por exemplo, "estou vendo que você está chorando. Parece-me estar triste. Quem sabe você vai para a sua casa descansar um pouco". A empatia tem efeitos positivos nos relacionamentos interpessoais favorecendo os vínculos afetivos, diminuição do estresse e ansiedade e, por consequência, aumenta a capacidade de resolução de problemas e a adesão ao tratamento (Rodrigues et al, 2014).
A presença dos pais na Unidade Neonatal requer um processo psicoeducativo onde se sintam colaborativos nos cuidados com o bebê. Do mesmo modo, os familiares devem passar por esse processo, no qual os próprios pais poderão reproduzir as orientações obtidas e executadas. Quando a família argumenta sobre seu desconforto sobre a higiene de suas mãos, para após tocar no bebê ("quanta frescura, para pegar na criança tem que passar álcool gel na mão") poderá ser explicado sobre os riscos da contaminação.
Também existem outras orientações psicoeducativas pertinentes de ser fornecida aos pais. Uma delas diz respeito ao desenvolvimento do recém-nascido e a necessidade da realização da idade corrigida. É comum que haja comparações com outros bebês nascidos no mesmo período, porém com idade gestacional a termo. Assim, quando ouvirem, por exemplo, de uma vizinha "Ele não fala? O meu com essa idade já falava tudo..." não terão ativadas suas crenças de fracasso e incompetência como pais, pois saberão que está tudo certo com o desenvolvimento de seu filho.
O programa de humanização identificado com Método Canguru possui três etapas que acompanham o desenvolvimento do recém-nascido. Portanto, explicar aos pais sobre essas etapas torna-se um meio de controle das angustias e emoções negativas advindas da mesma. Medo, insegurança e estresse podem ser amenizados a partir da informação previa sobre as fases que irão enfrentar.
Um estudo cientifico (Rocha et al, 2015) constatou que o medo da separação de seus filhos é um estressor que desencadeia sofrimento e angústia. No entanto, se souberem previamente que há casos onde a hospitalização se prolonga, ao ouvirem comentários sobre a necessidade de descansar ("mas por que você fica tanto no hospital? Você precisa ficar em casa e cuidar dos outros") irão compreender e realizar o autocuidado.
Uma preocupação comum nas unidades neonatal e no meio familiar diz respeito ao vinculo mãe-bebê. O estabelecimento de uma relação de afeto se torna essencial para o investimento materno na criança e para que essa tenha estimuladas suas capacidades para trocas com o ambiente a fim de sobreviver. Mãe e filho necessitam um do outro, para o desenvolvimento de seus papéis de cuidado de cuidador. Frases como "nossa, ele chorou o tempo todo, devia estar sentindo sua falta, fiquei morrendo de dó dele!" soam como crítica, ativando seu sentimento de culpa. No caso dessa mãe ter tido uma gestação gemelar, com um bebê em alta e outro hospitalizado, torna ambivalente, confusa e estressada. O estresse ativado repercute na lactação, no estabelecimento do vínculo e pode acionar sintomas de depressão.
O acolhimento da equipe serve para amenizar tais sintomas e favorecer a interação mãe-bebê. Palavras podem construir ou prejudicar esse contato inicial.
Captar o afeto envolvido durante a vivência das mães ao longo da estadia de seu bebê em uma unidade de cuidados intensivos requer, que toda a equipe da UTIN, esteja treinada para a assistência humanizada (Veronez et al, 2017).
A humanização nos cuidados intensivos neonatal deve se basear em uma assistência singular, na plenitude e na valorização à vida está diretamente interligado ao ato de dar atenção, ter comprometimento, cuidar bem (Rubia & Torati, 2016). Portanto, o uso das palavras deve ter o cuidado de acolher, orientar, acalmar e dar as mães e pais a segurança para o desenvolvimento da autonomia no exercício de seus papéis de cuidadores.
Escrito por Marisa Marantes Sanchez
Psicóloga - CRP 07/03675
(Tutora da Atenção ao Recém Nascido de Baixo Peso pelo MS e SES/RS)