A força não provém da capacidade física. Provém de uma vontade indomável.”
Essa é uma frase atribuída a Mahatma Gandhi e que poderia ter sido perfeitamente inspirada em um prematuro e sua mãe.
Quanto mais ciência, quanto mais estudos, quanto mais pesquisas, mais informações importantes e comprovações sobre a ação do leite humano aparecem. E isso não é de hoje. E uma das referências importantes é que essa “descobertas” persistem válidas.
O leite materno foi considerado o alimento necessário e suficiente para nutrir um lactente desde a sala de parto até os 6 meses de idade, exclusivamente.
Só foi? Não. Continua sendo.
O leite materno é importante nutricional e imunologicamente no crescimento, desenvolvimento e proteção contra doenças até dois anos de idade ou mais.
Só foi? Não. Continua sendo.
Foi possível e adequado e recomendado manter o aleitamento materno durante toda a pandemia de covid-19, especialmente nas mães que receberam a vacina durante esse período.
Só foi? Não. Continua sendo.
Assim, diferente de muitas pesquisas que precisam de comprovação e confirmação com as novas descobertas, e que são reformuladas de acordo com a evolução, o que se “descobre” sobre as ações do leite humano só é confirmado através das evidências.
Dia 19 de maio foi celebrado o Dia Mundial e Nacional de Doação de Leite Humano.
Dia 21 de maio foi celebrado o Dia Mundial de Proteção ao Aleitamento Materno.
Duas datas próximas. Duas datas relevantes. Duas datas que se comunicam e se relacionam e, assim, se fortalecem.
Informações e ciência do leite humano
Do colostro (nos 3 a 5 primeiros dias de vida) ao leite maduro (final do 1º mês de vida), o leite de mães de recém-nascidos prematuros (RNPT) tem mais calorias e mais gordura do que o leite de mães de bebês que nasceram a termo (RNT), mas com taxas bem próximas de proteínas e lactose.
Colostro:
Calorias: RNPT – 58 / RNT- 48
Leite Maduro:
Gordura: RNPT – 4,1 / RNT- 3,0
Essa diferença está adequada para uma necessidade maior do prematuro para crescimento e desenvolvimento e dentro dos limites que seus órgãos conseguem receber e fazer o metabolismo, sem risco de excesso. E, como vem do leite humano, tem a composição necessária e suficiente para beneficiar o prematuro sem correr o risco de prejudicá-lo.
Por nascer antes do tempo, o prematuro completa seu desenvolvimento fora do útero e sem receber a proteção (física, imunológica, nutricional) do útero materno. Assim, como os cuidados necessários para que se atinjam os melhores parâmetros possíveis dependem do tempo da gestação, as adequações da nutrição do RNPT são importantes. E não existe nenhum outro tipo de alimento para o prematuro que seja igualável ao leite humano.
Amamentar ou nutrir um prematuro com leite humano (pela própria mãe ou de um banco de leite) é um desafio, mas é possível e desejável pela proteção que oferece contra infecções, e por propiciar inúmeros benefícios a curto e longo prazo. Mas, para isso, é necessário informação, uma equipe de profissionais de saúde materno-infantil acolhedora, uma “rede de apoio que apoie” de verdade.
Mais apoio à díade prematura: mãe-bebê
Em relação ao leite de mães de RNPT:
- É adaptado às necessidades individuais (proteína, gordura, sal, zinco, aminoácidos livres e ácidos graxos), promovendo a saúde física e o desenvolvimento da inteligência, visão, sistemas neurológicos e ossos de bebês prematuros.
- Tem anticorpos, bactérias úteis e prebióticos, além de outros fatores que os protegem por serem mais suscetíveis a infecções do que bebês nascidos a termo (enterocolite necrosante, septicemia, infecções respiratórias e retinopatia da prematuridade).
- Promove o desenvolvimento cognitivo, emocional e social, através de hormônios, fatores de crescimento e compostos que agem nas funções cerebrais trazendo maiores habilidades de linguagem e menor incidência de distúrbios comportamentais do que bebês prematuros alimentados com fórmula, de acordo com estudos.
- Pode ser oferecido ordenhado ou pasteurizado de bancos de leite por sonda ou copo até que estejam prontos para mamar diretamente, o que deve ser a meta assim que eles estejam estáveis e maduros o suficiente
Em relação à amamentação em mães de RNPT:
- Manter o contato pele a pele frequente e precoce - ajuda os RNPT a regular sua temperatura, frequência cardíaca, respiração e concentrações de açúcar no sangue entre mães e bebês prematuros.
- Mães que amamentam seus RNPT têm aumento da produção de ocitocina, que favorece a diminuição do estresse e pode influenciar a autoestima e a satisfação das mulheres que podem se sentir “culpadas” pelo parto prematuro.
- Por tudo o que foi dito, ajudar as mães a começar a extrair o leite materno o mais rápido possível após o parto com orientação de equipamentos adequados, educação e assistência para a extração do leite materno e apoio contínuo à lactação mesmo após a alta hospitalar.
E vale relembrar o slogan da campanha de Doação de Leite Humano de 2023.
“Um pequeno gesto pode alimentar um grande sonho: Doe leite materno”.
Não seria durante o período da minha vida ou das de vocês que acompanham a coluna e a revista que seria possível abordar todos os benefícios do leite humano e do aleitamento materno, mesmo que fosse todos dias, em todas as semanas, de todos os meses... tá. Deu pra entender né?
Então, vou focar aqui (mesmo sabendo que mesmo assim não vai ser suficiente) nos prematuros. Acho digno.
Vamos então para Nárnia, ou para Hogwarts, ou pra qualquer outro mundo dos sonhos, para acreditar que a “natureza” (ou o nome que vocês quiserem dar) programou a adequação do leite humano para bebês de qualquer idade, em qualquer fase de suas vidas, enquanto recebem esse “sopro de vida e de luz”.
Segundo várias excelentes fontes nacionais de informação disponíveis na internet para quem quiser se informar sobre aleitamento materno e alimentação complementar (ONG Prematuridade.com, Caderno de Atenção Básica nº 23 do Ministério da Saúde – 2015), “o leite de mães de recém-nascidos prematuros é diferente do de mães de bebês a termo.”
Fonte: Crescer