Estudo publicado nos Estados Unidos aponta resultados de um trabalho realizado com bebês prematuros em comparação com os nascidos a termo. Exames de ressonância magnética apontaram que os bebês nascidos entre as 37ª e a 42ª semanas, que é o período normal de gestação, tinham estruturas e conexões em partes do cérebro bem desenvolvidas no momento do nascimento.
Nos prematuros foram observadas menos conexões cerebrais entre o tálamo e o córtex e mais conexões com uma zona particular do córtex que está envolvida no processamento de expressões faciais, mobilidade labial, mandíbula, movimentos da língua e atividades da garganta. Isso explicaria por que em alguns casos os prematuros aprendem a mamar, no peito ou em mamadeira, mais rápido que os nascidos no tempo certo. Por outro lado, foram detectadas menos conexões com outras áreas do próprio córtex cerebral que podem estar ligadas a distúrbios de concentração e socialização. Os pesquisadores do King's College de Londres, na Inglaterra, pretendem ampliar este estudo e estabelecer qual a ligação entre essa diminuição das conexões e os reais problemas de aprendizado, concentração e socialização.
Outro estudo divulgado pela Academia Americana de Pediatria que busca determinar a prevalência do transtorno do espectro autista (TEA), utilizando as classificações do Programa de Observação Diagnóstica do Autismo – Versão Genérica (ADOS-G, na sigla em inglês) em prematuros extremos na primeira infância, o risco é significativamente maior para problemas de neurodesenvolvimento, com tais problemas confirmados em 21 dos 22 casos de diagnóstico positivo de TEA.
No estudo, dois grupos de crianças (2 e 4 anos de idade) foram recrutados por 12 meses, ambos com as crianças nascidas com menos de 29 semanas de gestação, para participarem do teste utilizando o Questionário Modificado para a Triagem do Autismo em Crianças (M-CHAT-FI) com Entrevista de Seguimento, do ADOS-G e de avaliações de desenvolvimento. O ADOS-G foi realizado em crianças com resultados positivos no M-CHAT-FI. Das 192 crianças estudadas, 22 (13%) apresentaram resultado positivo na triagem e 3 (1,8%) tiveram diagnóstico positivo confirmado com TEA.
Desde 2011, a Associação Brasileira da Pais, Familiares, Amigos e Cuidadores de Bebês Prematuros (ONG Prematuridade.com) baseada em publicação da Academia Americana de Pediatria recomenda aos pediatras que crianças entre 18 e 24 meses de vida sejam testadas para estes distúrbios ligados ao espectro de autismo, e que encaminhem para avaliação formal as que falharem nesta triagem, embora outras pesquisas recomendem que é melhor aguardar a criança completar 30 meses de idade (2 anos e 6 meses) para realizar os testes, uma vez que o atraso na formação das conexões pode fazer parte do desenvolvimento, sem ocorrência do transtorno.
A relação entre prematuridade e autismo também foi detectada pela enfermeira Sabrina Matos, de Araranguá (SC), após o nascimento de seu segundo filho Enzo, hoje com 11 anos. “Por conta de contrações, precisei fazer uma cesárea de emergência e o Enzo nasceu prematuro, com 36 semanas. Ele ficou internado por dez dias na UTI e recebeu antibioticoterapia por intercorrências no pulmão durante a internação. E, aos noves meses, identificamos os primeiros sinais de autismo, diagnóstico também confirmado pelos médicos”.
Sabrina também é mãe de Isis de 13 anos e Ian com sete anos, seu terceiro filho. Ela conta que durante sua última gestação, ficou 30 dias internada para tentar postergar o nascimento prematuro de Ian para evitar a possibilidade de repetir o quadro do Enzo e outras intercorrências.
Quando recebem o diagnóstico, os pais de crianças autistas passam a ver o mundo de outro ângulo. Surgem novos desafios, muitas dúvidas e necessidades. Desse sentimento nasceu a iniciativa de se unir a outras pessoas que compartilham dos mesmos desafios. “Há alguns meses criamos a Associação Autismo Araranguá, pois sabemos que nossas lutas diárias são as mesmas de outros pais que, assim como eu, enfrentam os desafios do autismo”.
Sabrina finaliza seu depoimento destacando a importância de redobrar os cuidados com a saúde durante a gestação para diminuir a incidência de partos prematuros e possíveis relações com o autismo.
Segundo comenta Aline Hennemann, vice-diretora executiva da ONG Prematuridade.com, “nossa missão é promover ações de informação para reduzir a incidência da prematuridade e diminuir os danos à saúde dos bebês, causados pelo nascimento antecipado. Alertar para a necessidade da realização dos testes relacionados ao autismo faz parte da nossa luta”.
(Foto: Arquivo pessoal)