Semana mundial da amamentação… que emoção!
Amamentar é sensacional
Um sentimento sem igual
Prazeroso? Nem sempre.
É preciso lembrar que apesar de lindo, é também desafiador
E romantizar o aleitamento, só aumenta a dor.
Aumenta a dor na alma!
Na alma daquela que por um parto prematuro, não pode a “hora de ouro” praticar
Dói na alma de quem se descobre recém mãe, se sentindo perdida entre o idealizado e o real
E que só quer se reencontrar
Dói na alma daquela mãe, que no puerpério só precisava de uma boa noite de sono pra respirar fundo, e continuar
Ou que precisa fazer as pazes com o corpo e se aceitar
A romantização da amamentação aumenta a dor!
É doída na alma da mulher atravessada por questões sociais e econômicas que muitas vezes impossibilitam que necessidades básicas sejam atendidas pra que então nutridas, possam nutrir!
O julgamento também dói!
Dói o julgamento de uma sociedade que os estereótipos insiste em ditar
E pensa que tem o direito de eleger quem está apto ou não a amamentar.
Comentários do tipo:
“ah… essa tem mama pequena, essa tem mama grande”
“ihh essa é mãe atípica”
“hum… essa é adotante”
“esse bebê tem mãe deficiente visual”
“esta é mãe obesa. Não vai conseguir a pega ideal”
“redução, implante? melhor nem insistir!”
“mamilo largo, mamilo invertido? não vai conseguir!”
O julgamento aumenta a dor!
Aumenta a dor dos mamilos que já sangram e das mamas que já doem quando ouvimos: “mas não é só colocar no peito?”
Aumenta a dor das que já amamentaram e que são invisibilizadas por isso,
Como se uma nova amamentação carregasse exatamente o mesmo manual de instruções da anterior.
A sua percepção de que faria melhor, também aumenta a dor.
Aquela mãe está sendo a melhor mãe que neste momento ela pode ser
E é, sem dúvidas, a melhor que o bebê poderia ter.
Que tal julgar menos e apoiar mais?
Experimente usar suas mãos para ajudar ao invés de apontar…
Alcançar um copo d'água, fazer uma massagem nos ombros…
Lavar uma louça, entre outros…
Ouça! mas sem interromper!
Talvez ela não queira sua opinião, apenas sua compreensão.
Acolha suas angústias, valide seus medos
Sabe… o preconceito também dói.
Como você acolhe as famílias constituídas por pessoas trans?
Concorde você ou não, você precisa respeitar!
E se for profissional da saúde então, tem a obrigação de se capacitar!
Para atendê-los com maestria e cumprir com seu papel ético de cuidar.
Por este poema, alguns irão me elogiar.
Outros,eu sei, vão crucificar
Já peço desculpas a quem possa se chatear
Mas não é essa a questão
Este texto é sobre empatia, promoção, e inclusão!
Apoiar a amamentação é validar e dar voz!
Pra que menos famílias sofram a pressão da responsabilidade que é nutrir uma criança
Independente se ela é aleitada ao seio ou não
Seja por impossibilidade clínica ou… opção!
Se invalidamos ao invés de empoderar
Estamos abrindo portas para a indústria de fórmula infantil se aproveitar
Fala-se tanto em as taxas de aleitamento aumentar…
Mas o que você e eu temos feito para na prática este cenário mudar?
É um discurso que se contradiz e enquanto isso quem perde é o bebê e a nutriz
Porque falar sobre isso, em uma semana que é pra incentivar?
Pode até parecer o contrário,
Mas este texto é, sim, um apoio ao líquido dourado.
Porque se você não consegue entender este contexto que assombra tantas famílias e encarar a realidade…
Me desculpe, mas você não está promovendo de verdade.
Autora: Simone Saldíbia (@simone_saldibia) - técnica em Nutrição do banco de leite do HCPA (RS) e voluntária da ONG Prematuridade.com