Sabemos que nenhuma família está preparada para a chegada de um bebê antes do tempo previsto para o seu nascimento, e o impacto da prematuridade sobre esta família gera ansiedade e frustração para mães e pais que se sentem perdidos após a alta da Unidade de Terapia Intensiva Neonatal (UTI Neo). E é sobre isso que quero conversar com vocês. É uma queixa muito comum de mães que chegam até a mim buscando informações sobre o desenvolvimento de seus bebês. Após a alta da UTIN, os pais respiram um pouco aliviados, aqueles momentos de tensão e incertezas aos poucos vão passando. Mas não demora muito e o estresse volta a assombrar por não saberem como será o futuro do seu filho, ou quando procurar um profissional especializado para orientar ou acompanhar seu bebê.
Os pais são orientados e faz parte da nossa cultura ter o entendimento da rotina de consulta ao pediatra, mas quando falamos em bebês prematuros existem outros profissionais que virão para acrescentar na equipe multidisciplinar e prevenir atrasos em seu desenvolvimento promovendo qualidade de vida tanto ao bebê como também estender esse bem estar para toda a família. Exatamente esse é o ponto que quero chegar: quando procurar um especialista e qual outro profissional além do pediatra e neuropediatra devo procurar? Eu te respondo: fisioterapeuta. Isso mesmo, Fisioterapeuta Especializado em Neuropediatria. Essa é minha área de atuação e venho compartilhar com vocês minha experiência profissional.
Antes de mais nada, precisamos mudar e quebrar alguns paradigmas que fisioterapeuta atua só para tratar desordens já instaladas, sejam elas ortopédicas ou neurológicas e reabilitar nosso paciente. Fisioterapeuta atua com prevenção e promoção da saúde e, quando nos referimos aos cuidados com bebês prematuros, quanto mais cedo for realizada uma avaliação do bebê melhor, será a sua evolução e menos angústia os pais terão. Vamos ao ponto!
Agora que já sabem qual profissional procurar, mas ainda resta a dúvida. Quando devo procurar? O ideal que seja quanto antes. Alguns pais me procuram logo após a alta hospitalar ou algumas semanas depois, assim que conseguirem se organizar com a nova rotina da casa. Muitos têm essa dúvida e ficam levando em conta a idade corrigida na tentativa de esperar para ver se a criança evolui com o passar da idade. E isso vai se estendendo durante alguns meses. Devemos sim, corrigir a idade, abaixo está explicado, mas não devemos ficar esperando o tempo, pois há alguns indícios que nos mostram se a criança pode vir apresentar atraso em seu desenvolvimento.
É um erro muito comum e de alta prevalência entre os pais, visto que, mesmo que a criança possa apresentar um possível atraso em seu desenvolvimento, cabe a nós avaliarmos e orientarmos os pais para que a intervenção e cuidados preventivos já iniciem em casa, por exemplo, com o posicionamento que visa estimular ganhos posturais do bebê. Com isso, teremos uma ativação muscular benéfica para o seu desenvolvimento.
Como citei acima, devemos corrigir a idade do bebê prematuro? Sim, devemos. Só não devemos ficar à espera de uma evolução sem qualquer estímulo. Um termo que as mães interpretam de maneira equivocada se refere ao “tempo da criança”. Muitas acreditam que a criança deve se desenvolver dentro do seu próprio “tempo”, sem que ocorra interferência. Acontece que cada vez mais crianças chegam até a mim com atraso significativo que poderia ter sido minimizado sem maiores consequências. Quando falamos em tempo e estimulação precoce muitas pessoas acreditam que a criança possa ser capaz de antecipar fases em seu desenvolvimento e isso não é verdade. Por isso, adoto o termo de mais correta interpretação como intervenção precoce.
Todos os bebês prematuros terão atraso no desenvolvimento? Podemos dizer assim: os bebês prematuros são considerados bebês de risco para atraso no desenvolvimento, mas com acompanhamento do fisioterapeuta, orientação aos pais e estímulo, eles conseguem vencer obstáculos iniciais e evoluem.
Costumo explicar aos pais que o desenvolvimento do bebê depende de vários fatores: condição materna, condições do nascimento e intercorrências período neonatal, entre outras. Mas está influenciado diretamente pelo ambiente em que vive, ou seja, se nesse ambiente a criança recebe estímulo de seus familiares, consequentemente, terá mais chances de se desenvolver dentro dos padrões de evolução de seu desenvolvimento do que uma criança que não recebe qualquer estímulo, e isso vale também para os bebês nascidos a termo.
Mãezinhas, nunca se sintam sozinhas! Procurem trocar experiências com outras mães. Mas assim que possível procurem ajuda profissional! Não subestimem, nem comparem o desenvolvimento dos seus filhos. Não duvidem da potencialidade deles. Não é devido à questão da prematuridade que estarão atrás dos demais em sua evolução, mas sim, podemos dizer que este atraso ocorre devido à falta do brincar, de explorar ambiente em que vivem. Brincando a criança aprende com ela mesma, é capaz de testar seus limites e também de encontrar maneiras de resolver seus obstáculos. Brinquem e interajam sempre com eles! É através das brincadeiras que eles vão se arriscando e se desenvolvendo.
Demonstrem a eles que vocês estão orgulhosos, vibrem com cada conquista, cada passo é importante, e a cada conquista uma vitória. Eles estarão sempre atentos às suas reações. Afeto é essencial para fortalecer o vínculo entre vocês!"
por Cristiane de Mello, é fisioterapeuta com especialização em Neuro-Funcional com ênfase em Neuropediatria, atualmente trabalha com Programas de Intervenção Precoce ao Bebê Prematuro e é voluntária da ONG Prematuridade.com no Paraná