A nutrição no recém-nascido prematuro é um dos grandes desafios enfrentados dentro de uma UTI Neonatal, assim como para a família dessas crianças.
A meta nutricional hoje estabelecida na abordagem do recém-nascido de baixo peso é alcançar crescimento pós-natal em uma taxa que se aproxime do crescimento e do ganho de peso intra-uterino de um feto normal de mesma idade gestacional, sem produzir deficiências nutricionais ou efeitos metabólicos indesejáveis. Além de ser uma meta muito desafiadora, ela é e totalmente questionável, uma vez que o bebê prematuro passa a sofrer uma série de processos e atividades metabólicas após o nascimento que dependem de uma maior demanda de calorias e nutrientes para suprir, além de que a imaturidade do seu aparelho digestivo, a possível dificuldade de absorção de nutrientes e de eliminação do resto alimentar impõe cuidados especiais à sua alimentação.
As estratégias adotadas para melhor oferta nutricional para o recém nascido prematuro, como momento de iniciar a dieta, via de administração e volume, por exemplo, são fundamentais para a nutrição adequada desses bebês, porém, um fato é importante e não poderia deixar de abordar, que é a disponibilidade de leite materno pela mãe do recém-nascido prematuro.
Já se sabe hoje a importância do leite materno para o recém nascido e para o prematuro não é diferente. Pelo contrário, o leite materno da mãe cru para o próprio filho é sempre a primeira escolha de dieta para o prematuro. É através dele que o bebê recebe propriedades imunoprotetoras provenientes da mãe que são fundamentais para o seu desenvolvimento e imunidade, porém, um dos maiores fatores que interferem na produção de leite materno é o fator psicológico, assim como tipo de parto, alimentação saudável e ingestão hídrica. Exigir de uma mãe de bebê prematuro que tenha leite materno em quantidades significativas todo o tempo não é uma tarefa fácil, é algo desafiador para toda a equipe mas, principalmente, para ela mesma, a mãe. Por mais importante que seja termos esse leite disponível, é fundamental termos empatia o suficiente para acolhermos esta família, escutarmos esta mãe e através da sua história vir a estimular, a encorajar e a orientar como proceder neste momento. Estudos mostram o quanto este processo diferencia a produção de leite materno de mães com bebês internados em UTI Neonatal.
É visando este processo que acho importante colocar que a nutrição do recém nascido vai além do ato de nutrir. Nós como profissionais da área da saúde, conhecedores da importância da nutrição para o desenvolvimento e por que não dizer, da vida desses bebês, devemos orientar, acolher e auxiliar no que for preciso para que essa família e, neste caso, principalmente a mãe, tenha segurança e confiança agora não só em nós profissionais, mas nela mesma para atingirmos o objetivo com a produção e oferta de leite materno.
Importante ressaltarmos aqui que cada corpo é um corpo: algumas terão muito, outras nem tanto e as vezes outras por algum motivo não terão, e neste momento também cabe a nós o acolhimento, a orientação do que será oferecido, como e o que contém na dieta que será ofertada para o bebê. Uma família segura é uma família bem assistida e neste contexto incluímos pai, mãe e bebê.
por Flávia Guedes, nutricionista Materno Infantil, especialista em Nutrição Clínica e mestranda em Pediatria - UFCSPA