Laura descobre a bicicleta do coleguinha de parque e, sem se importar se o brinquedo é para crianças maiores, encontra um jeito de subir. Coloca um pé, depois o outro e vai aprendendo a pedalar.
– É a primeira vez que ela sobe em uma bicicleta!
Os pais comemoram mais uma conquista de cada dia. Trocam os desafios de ontem pelas alegrias que hoje, aos dois anos, a filha esbanja pela vida.
Laura nasceu com 585 gramas, 32 centímetros, na 26ª semana de gestação: prematura extrema. A pressão da mãe subiu demais e a pequena não teve tempo de se preparar. Era preciso nascer!
Veio ao mundo sem conseguir, sequer, respirar sozinha.
Foram 118 dias de hospital – 94 deles na UTI –, uma cirurgia no coração, infecções repetidas, hemorragias.
Laura, tão pequenina, aprendeu a ser gigante.
– Parecia que o dia da alta nunca ia chegar.
É a mamãe, Nayara Caetano quem relembra. Ela e André Carraschi, pai da Laura, moram em Jaboticabal. A pequena, porém, ficou internada em Ribeirão Preto e foi preciso uma maratona dos dois.
Nayara tirou licença no emprego, se alojou na casa da irmã e não saia do lado da filha.
Quando a alta, enfim, chegou, comemoraram como um novo nascimento.
Laura conheceu o quartinho de corujas que lhe esperavam ansiosas com três meses e meio de vida, 1,9 quilos e uma tonelada de força.
No mês passado, dia 3, Laurinha comemorou dois anos com muita festa. Ainda não sabe falar e andou com um ano e três meses, pouco depois da maioria das crianças. Detalhes que somem entre tanta conquista.
– Cada criança tem seu tempo. A prematuridade ensina isso.
Nayara conta, com sorriso que extrapola a bochecha, que a filha já sabe tomar mamadeira sozinha e não quer dormir no colo.
Apesar da estatura menor, Laura acompanha a turma da mesma idade na escolinha. Ela vai à escolinha! É o que a mãe conta primeiro, explodindo de orgulho.
– A gente comemora todos os detalhes e, assim, tem ainda mais a comemorar. O que para todo pai é a coisa mais normal do mundo, para a gente é uma conquista. Ela não conseguia respirar sozinha, e hoje faz tudo isso!
A pequena é acompanhada de perto pelo pediatra, mas já não precisa de fisioterapia, terapia ocupacional e outras tantas coisas que antes precisou. Desenvolveu miopia, pelo longo período usando oxigênio no hospital. E se adaptou aos óculos como se adapta a cada nova fase.
O pai brinca:
– Logo vai estar na faculdade de Medicina!
Certo de que a brincadeira tem um bom tanto de verdade. Não sabe se Laurinha vai querer ser médica ou qualquer outra coisa. Mas sabe que a pequena já é tão grande quanto todos os sonhos que ainda vai ter.
– Ela ensina a gente todos os dias. Hoje já não temos mais a preocupação: será que ela vai conseguir fazer isso? Ela consegue!
É a mãe quem diz, enquanto a filha está desbravando a casinha do parque. Entra pela porta, aparece na janela e já passa para o outro lado.
– O que a gente quer é ver ela feliz!
Laurinha mostra que já é.
por Daniela Penha, jornalista e escreve as histórias das pessoas em seu site História do Dia.