O quartinho de Theo muito esperou até ser usado. Foram 100 dias de internação, e a alta hospitalar significou uma rotina de cuidados extras trazidos ao apartamento da jornalista Marina Maia, 26. O objetivo principal era evitar infecções e fazê-lo ganhar peso. O menino chegou em casa com 1,8kg. Agora, a mãe comemora a marca dos 5kg. Isso porque mais peso significa mais condições de acompanhar o crescimento esperado do bebê.
Não há relação de hereditariedade associada ao nascimento prematuro, explica a neonatologista Francielze Lavor. Mas a Marina, mãe do Theo, também nasceu antes do tempo, na 26ª semana de gestação. O parto dela foi antecipado pelo descolamento da placenta. E quando foi a vez de ser mãe, soube que a criança não teria muito espaço no útero diagnosticado como unicorno, com apenas uma cavidade. Para ela, ter crescido sem sequelas é um incentivo para suportar as várias dificuldades enfrentadas pelo filho.
Hoje, ele completa nove meses de nascido. Passou o último Natal protegido no útero da mãe. Agora, está fora da UTI e tem respondido bem aos estímulos para se alimentar e se movimentar. E o acompanhamento é semanal com fisioterapeuta e terapeuta ocupacional, além das brincadeiras e estímulos em casa. No caso de Theo, a previsão é que ele alcance o desenvolvimento das crianças nascidas a termo quando chegar aos três anos de idade.
O otimismo de Marina estava presente mesmo na rotina de UTI. “Eu chegava e cantava muito pra ele no leito, músicas de fé, músicas que eu achava bonitas. As outras mães se admiravam”, relembra Marina. Foi com uma conta no Instagram que ela encontrou uma forma de disseminar informações sobre a prematuridade e alcançar outras famílias na mesma situação.
A avó de Theo já conhece os cuidados pela segunda vez. A dentista Cristina Maia, 52, conta que só viu Mariana dois dias após o parto. Por outro lado, a mãe de Eveline não conseguiu ver a neta, Gabriela. Fragilizada e em fase terminal do câncer, não teve como chegar perto da menina também com baixa imunidade. “Quando minha mãe morreu, eu e minhas irmãs passamos a ter esperança na vida da Gabi. E ela tem uma força que nos lembra a nossa mãe”, conta emocionada.
Reinternação
É recebendo mensagens positivas de desconhecidos e desabafando as aflições que a atividade na rede social também tem ajudado a neonatologista Eveline Maia. Ela vive agora a angústia da reinternação da filha Gabriela, que nasceu com 540g no sétimo mês da gestação. Desde os primeiros meses de vida, a menina brinca muito movendo as perninhas no leito. Ganhou no hospital o apelido de bailarina. “Ela é ativa, vive aprontando comigo. Mexe tanto os braços que tira o tubo do nariz, a gente tem que ficar de olho e correr pra ela não ficar sem oxigênio”, detalha a mãe.
Para Eveline, ter o conhecimento técnico da prematuridade mais atrapalha do que ajuda nos dias em que Gabriela tem pioras. “Lembro que ela está sem conforto, recebendo todos os estímulos dolorosos. Mas eu deixo a equipe fazer o trabalho. Aqui eu sou mãe”, comenta. No papel de familiar, ela descobre outro lado da experiência. “Passei pela fase da revolta, questionei Deus, já chorei muito. Mas aprendi muito também. Perdoei algumas pessoas, vi que a gente dá importância a coisas pequenas. Tudo isso ela me ensinou com a força que tem pra viver”, resume. (Thaís Brito)
“Lembro que ela está sem conforto, recebendo todos os estímulos dolorosos. Mas eu deixo a equipe fazer o trabalho. Aqui eu sou mãe”, diz Eveline Maia, mãe de Gabriela
MULTIMÍDIA
Ana Maria, Eveline e Marina relatam a rotina para cuidar dos filhos prematuros: em perfis no Instagram. Para acompanhar as histórias, estes são os perfis:
Pedrinho: @milagredeum
Gabriela: @diariodagabibailarina
Theo: @diariodeprematuro
Fonte da notícia: O Povo (notícia original publicada em 18/12/16)
(Foto: Mateus Dantas)