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17 de Maio de 2018
Muito amor por Alice
"Eu havia completado o sexto mês de gestação, estava tudo caminhando muito bem e sob controle, e eu jamais poderia imaginar tudo que estaria por vir. Eu não tinha feito chá de fraldas, lembrancinhas de maternidade, lavado as roupinhas, preparado a malinha e o quartinho ainda nem estava pronto para receber minha princesa em casa.
Com 26 semanas de gestação, após um sangramento, diagnosticamos um quadro de pré-eclâmpsia com síndrome de Hellp já em processo elevado. As injeções de esteroides foram administradas rapidamente e o luto da “maternidade perfeita” teve início, chorava copiosamente e só pensava: Alice não está pronta. O que eu poderia fazer se meu organismo não daria condições para ela ficar pronta dentro de mim? Rezar pra que ela estivesse em boas condições aqui fora. Não restava outra opção pra mim a não ser uma cesariana de emergência, pois a pressão estava 180×110. Já em sofrimento fetal, foi assim que no dia 08 de março de 2016, Dia Internacional da Mulher, a minha guerreira veio ao mundo pesando 713 gramas, 29 cm e 27 semanas.
A primeira visita à UTI foi fria e assustadora, sentimos um medo absurdo. A palavra UTI traz sempre uma conotação de gravidade e risco de morte.
Vê-la em uma incubadora partiu meu coração, e naturalmente, lágrimas escorreram pelo meu rosto sem parar, por mais forte que eu desejava ser. Fios, apitos, luzes, esparadrapos, agulhadas e a presença de um tubo em sua boca foram suas primeiras sensações no mundo externo, longe do colinho gostoso e quentinho que qualquer mãe ansiosa deseja oferecer.
Mas esse foi apenas o primeiro dia, com as primeiras sensações, pois com o passar do tempo, aprendi a ver a UTI com outros olhos, a conhecer mães com as mesmas experiências, e dia após dia, me dei conta que estava evoluindo como pessoa, e principalmente como mãe. São as outras mães, as “mães de UTI”, que nos dão inspiração diária para continuar a jornada, mães que se comunicam apenas com olhares e sorrisos, que falam alto no meio daquele silêncio ensurdecedor da UTI. Um olhar que diz “eu te entendo”, um sorriso que diz “vamos vencer”, valem como um abraço do seu mais sincero e velho amigo.
Os dias eram angustiantes. Como dizem os médicos, "cada dia na UTI é diferente", uma verdadeira montanha-russa: um dia há uma evolução no bebê e outro uma negativa. É difícil controlar as emoções em determinados momentos.
Ter que sair do hospital sem ela nos braços foi o pior sentimento que já tive. Foi mais profundo que tristeza, foi sentimento de perda, de falta de controle, de vazio. Sentia meu ventre vazio, meus braços vazios... Naquele momento, achei que tivesse vivido o pior momento da minha vida. Até chegar em casa e ter que entrar por aquela porta sem ela nos braços. Não foi assim que imaginei, e a dor do vazio continuava: ver o quarto vazio, as roupas que não serviam nela guardadas.
Mas, como precisamos extravasar e achar “culpados” para nossa dor, em alguns momentos essa tristeza vira ondas de raiva. Raiva dos médicos que determinam o que será feito com os nossos filhos, tomando de nós esse poder; raiva do hospital que nos afasta do bebê, com todos aqueles horários e protocolos; raiva da enfermeira, que pediu para nos retirarmos nos momentos complicados, do resultado do exame que não ficou pronto imediatamente; raiva de mim mesmo, por ter medo de sair dali com minha filha e tê-la sob meus cuidados, sem monitores conectados a ela; raiva, insegurança, tristeza, dor... Montanha-russa de emoções.
Alice teve muitas complicações ao longo dos 82 dias de internação, muitas infecções, anemias, parada cardiorrespiratória, abstinência de medicamentos graves, exames com os piores resultados possíveis, enfim, acho que Deus até apagou da memória tantos momentos difíceis que vivemos.
E, aos poucos, o milagre foi acontecendo em nossas vidas, a evolução foi progressiva e os exames foram tendo seus resultados alterados. Conto isso porque Alice, após uma tomografia que acusava um coágulo de sangue cerebral e, após refazer o exame 20 dias depois, simplesmente não existia absolutamente nada de anormal no exame.
No dia 28 de maio de 2016, foi o grande esperado dia da alta! Foi como se ela tivesse nascido naquele dia. Ninguém sabe a dor de ter seu bebê da UTI, só quem já passou por isso. Mas também ninguém sabe a alegria de sair com ele dali! O dia da alta é um dia de vitória, dia de vida, tamanha alegria.
Se você é mãe de UTI e ainda não recebeu alta, acredite no amor, na fé e que para tudo existe um motivo, talvez o sentido esteja somente lá no final! Acredite, tenha pensamento positivo e força. Em breve, será você!
Obrigada de coração a toda minha família e amigos por me enviaram muita força, carinho, orações, histórias compartilhadas. Que venha a nova fase, com todos os sentimentos que tenho direito! Acompanhe um pouco mais desta história no Instagram: @docealice01."
(relato da mamãe Mary Helen Bispo Medeiro, enviado em 2017)