03 de Junho de 2018
A vitória de Giovana e Rafael
"Olá! Me chamo Roseli. Sou casada há 15 anos, mãe de um filho de 14 anos, outro de 8 anos, uma filha de 6 anos e os gêmeos de 11 meses. Como já tinha 3 filhos, não passou pela minha cabeça engravidar novamente. Não tinha sintoma algum que pudesse desconfiar que estava grávida.
Um determinado dia, levantei pela manhã e, ao tomar banho, vi meus seios vazando. Vazando? Como assim? Não estou atrasada, tomo anticoncepcional continuo. A neura bateu, sim, a neura. Na hora comprei um teste de farmácia e batata: grávida. Grávida? Sim, estava grávida. Mas como isso era possível? Sinceramente, não procurei saber. Marquei logo uma ultrassom para me certificar que realmente era verdade. Surpresa: são gêmeos! Sim, grávida de 8 semanas e de gêmeos. Como isso é possível? Não tenho casos na família. Foi uma mistura de alegria, felicidade, angustia... Resumindo, tudo junto e misturado. Mal sabia eu que o pior ainda estava para acontecer.
Pior? Sim, os piores dias da minha vida estavam por vir. Me apeguei de uma forma aos meus bebês que não consigo explicar. O amor que sinto por eles. Amo todos os meus filhos iguais, mas os gêmeos não sei explicar.
Minha gravidez não foi tão tranquila. Com 12 semanas, tive descolamento de placenta de 16mm. Logo depois, dilatação de 2m. Passou o descolamento, mas a preocupação com a dilatação precoce não. Colo de útero curto, dores e mais dores nas costas. Com 20 semanas, já não conseguia mais dormir. Com 24 semanas, a dilatação chegou a 6cm e aí a correria começou. Médico a cada 3 dias, ultrassom... nossa, perdi a conta, foram tantas. Mas eram no hospital, então ficaram lá já. As que fiz por conta própria são 9. Só não fiz mais porque não deu tempo.
Bom, no dia 29 de novembro de 2016, minha história começa a mudar. Senti como se uma agulha estivesse me esperando lá embaixo, umas dores nas costas. Mas nada que pudesse indicar trabalho de parto. Por desencargo de consciência, fui ao hospital. Cheguei lá e me disseram: "Você vai ficar internada, está com 8cm de dilatação. Não sairá do leito nem para ir ao banhheiro. Como assim nem para ir ao banheiro? Sim, se precisar fazer as necessidades, era para apertar o botão e chamar uma enfermeira que ela viria com a comadre. Fui descobrir na maternidade o que era comadre, nunca havia usado.
Pois bem. No dia 30, amanheci com dilatação total: 10cm. "Mamãe, um dos bebês está sentado. Senti no toque o pezinho, não sei se dele ou dela, mas não vamos correr o risco. Como são prematuros extremos e gêmeos, faremos uma cesária." Cesária? Já tive 3 partos normais, estou dilatada, por que não normal? Me disseram para não correr o risco. Ok, não sabia como era o parto cesária, nunca havia passado. Havia ouvido relatos e não queria aquilo para mim. Mas, pelos meus bebês, estava disposta a tudo.
E assim aconteceu. Meus gêmeos Giovana e Rafael nasceram no dia 30/11/2016, com 29 semanas. Rafael nasceu com 1,065kg, às 8:26 da manhã com 35cm. Giovana chegou com 1,105kg, às 8:27, com 35cm também. Ouvi aqueles chorinhos fraquinhos. Chorei, mas não os vi. Foram imediatamente para UTI Neo.
Era lindo ver os dois, um ao lado do outro na incubadora. Só pude ver meus bebês 8 horas após o parto. Não pude sentir, não pude abraçar, não pude pegá-los no colo, apenas tocá-los com as mãos pelas temidas janelas da incubadora. Que dor, que tristeza, que medo, que angustia. Foram assim os meus 56 dias de hospital após o parto. Chorei todas as noites quando os deixava na UTI e vinha para casa cuidar dos outros filhos que estavam em casa. Cada noite torcia para amanhecer rápido só para ir para o hospital ver os meus bebês. Que dor sentia com aqueles apitos todos não sabendo se era bom ou ruim. A única certeza que tenho é que cada prematuro é um milagre de Deus. Somos escolhidas a dedo por ele para gerar esses milagres.
Meus bebês não tiveram intercorrências. Ficaram 21 dias na UTIN, 1 semana apenas entubados e 35 dias na UCI, Unidade de Cuidados Intermediários, apenas para ganhar peso. Sou muito grata a Deus por ter me dado 56 dias de provas, pois foi neles que aprendi o que realmente é amar além da própria vida, o que é ter fé e crer em milagres. Acho que antes não sabia o que era isso.
Hoje meus milagrinhos estão aqui, lindos, fortes e saudáveis. Mas os 56 dias intermináveis, doloridos, jamais são esquecidos. Rafael saiu do hospital uma semana antes da irmã, e, por isso, minha aflição foi duplamente dolorida, mas vitoriosa. O mais importante é saber que a prematuridade é um aprendizado constante. Quem está passando por isso, só digo uma coisa: fé, esperança e força são as únicas coisas que nos mantém de pé. Pode acreditar: a vitória é certa."
(relato da mamãe Roseli, enviado em 2017)