A coqueluche (também conhecida como tosse comprida) é uma doença infecciosa respiratória aguda, altamente contagiosa, causada pela bactéria Bordetella pertussis. Ela afeta principalmente as vias respiratórias e pode causar acessos de tosse intensos e prolongados, seguidos de um som agudo na inspiração (guincho), característico da doença1.
A coqueluche é transmitida de pessoa para pessoa por meio de gotículas respiratórias expelidas ao tossir, espirrar ou falar. A transmissão é mais intensa nas fases iniciais, quando os sintomas ainda são semelhantes a um resfriado comum2.
Embora acometa indivíduos de todas as idades, lactentes menores de 1 ano (especialmente os com menos de 6 meses) não vacinados ou com esquema vacinal incompleto são o grupo de maior risco para desenvolver formas graves e óbitos pela doença. As principais complicações são a pneumonia, convulsões e a encefalopatia1.
A imaturidade imunológica, a baixa transferência de anticorpos maternos e a menor capacidade funcional pulmonar fazem dos prematuros um importante grupo de risco para o desenvolvimento de formas grave da coqueluche3,4.
Mais de 50% dos casos notificados de coqueluche ocorrem em lactentes, especialmente nos que nascem com baixo peso (peso ao nascer < 2.500g), com risco relativo de 1,86 (IC 95% 1,33 a 2,38) quando comparado àqueles com peso ao nascer maior ou igual a 2500g3. Em outro estudo prospectivo realizado na Austrália, a prematuridade foi independentemente associada a infecções graves por coqueluche (OR 5,00, IC 1,27-19,71)4.
Uma importante característica da doença, é que a imunidade conferida pela infecção natural e pela vacinação, não é duradoura, favorecendo a ocorrência, de tempos em tempos, de um aumento de casos, fruto do acúmulo de suscetíveis. Vale destacar que algumas alterações da bactéria, melhorias do padrão de notificação e baixas coberturas vacinais podem também contribuir para eventual incremento de casos5.
Desde 2024 o Brasil vem enfrentando um aumento importante no registro de casos, afetando especialmente crianças e adolescentes, porém com maior incidência de hospitalizações em lactentes jovens e a totalidade dos óbitos em menores de um ano de idade6.

A principal forma de prevenção da doença é a vacinação, que tem como objetivo principal, a proteção dos grupos mais vulneráveis, ou seja, recém-nascidos e lactentes jovens no primeiro ano de vida7.
Além da imunização oportuna da criança (aos 2, 4 e 6 meses de vida), a vacinação materna, há uma década, vem se mostrando a melhor estratégia de proteção do bebê no primeiro semestre de vida. A transferência transplacentária de anticorpos (imunização passiva) faz com que as crianças fiquem protegidas enquanto não completam seu esquema vacinal7.
Uma grande limitação dessa estratégia está relacionada aos prematuros, que acabam por não se beneficiar da passagem de anticorpos, já que a grande concentração se dá ao término da gravidez.
Neste cenário, imunizar o prematuro, sem atrasos, é fator preponderante para sua prevenção. Não podemos abrir mão da vacinação dos contactantes e conviventes desses bebês, quase sempre a fonte de infecção para eles. Estima-se que cerca de 75% dos casos de coqueluche são adquiridos dentro de casa, através do contato com familiares8.
Vacinas recomendadas
Existem diversas vacinas combinadas que contém o componente coqueluche em sua formulação, entre elas destacam-se:
• Vacina combinada com componente coqueluche de células inteiras (DTP) pentavalente, incluindo proteção para difteria, coqueluche, tétano, hepatite B e Haemophilus influenza tipo b. Esta vacina está disponível somente no SUS como rotina.
• Vacina combinada com componente coqueluche acelular (DTPa) pentavalente, incluindo proteção para difteria, coqueluche, tétano, poliomielite e Haemophilus influenza tipo b.
• Vacina combinada com componente coqueluche acelular (DTPa) hexavalente, incluindo proteção para difteria, coqueluche, tétano, poliomielite, Haemophilus influenza tipo b e hepatite B.
Vacinas da coqueluche disponíveis no Brasil

A vacina de células inteiras está disponível somente no SUS, para imunização de rotina das crianças brasileiras. Já as vacinas acelulares estão disponíveis nos serviços privados de imunização e para alguns grupos no Programa Nacional de Imunizações (PNI): gestantes, profissionais da saúde e bebês prematuros nascidos com menos de 33 semanas de idade gestacional, além de alguns grupos que apresentam contraindicação para receberem vacinas de células inteiras por evento adverso grave com doses anteriores9.
Pelo fato de bebês prematuros apresentarem maior risco de eventos adversos graves, especialmente cardiovasculares (apneia, crise de cianose e bradicardia), as vacinas acelulares são preferencialmente recomendadas no esquema primário para essa população, já que apresentam a mesma eficácia com melhor perfil de segurança e tolerabilidade10.
Dr. Renato Kfouri - Pediatra neonatologista e infectologista (CRM: 59492-SP)

