Ai, ai… poxa vida…
quanto sentimento gostoso pode ser transmitido através de um simples toquinho no nariz…
Custo em acreditar que esse cafunezinho foi inventado sem querer, sabe? Prefiro crer piamente no propósito espiritual que ele possui, e no poder que tem para nos transportar a uma dimensão tão pura, fofa e apaixonante por poucos (porém, eternos) segundos…
Embora um gesto dotado de intenções plenamente positivas, não se trata de um afago permissivo a qualquer pessoa.
Para desfrutar de vantagens promovidas à alma, é preciso que uma relação verdadeira componha o meio campo em uma bitoquinha de esquimós. Não importa a idade, o grau de parentesco (e amizade) ou até mesmo os gêneros envolvidos, pois, não foi concebido pelo mecanismo da sensualidade. O mimoso selo de napinhas é muito maior e mais valoroso aos que transbordam sensibilidade e são fascinados pela reciprocidade afetiva, ou seja, exclusividade daqueles que podemos considerar “os de verdade”.
Desta forma, procure o seu “de verdade” e lasque uma doce beijoca by Polo Norte para fortalecer a parceria.
Ah, gente… olha só que fofa essa imagem…
Sim, concordo que por vezes me torno mais pai babão que o (geralmente) convencional e tenho consciência disso.
Mas, não há como ser diferente quando a Laís domina completamente meus dois braços, entende? Ela, a grande senhoria das minhas horas de folga, faz questão de me pegar pra ela e, então, resolve tomar conta de mim em tempo integral.
Ela conhece minhas fraquezas de homem adulto e, mais ainda, já descobriu seu poder de antídoto revigorador do papi.
A Laís é malandrinha, gente. Ela me tira as dores do corpo, da alma, e quando faz minha retina de alvo, só me resta o rendimento.
– Vem, meu amor. Hora de nos transformarmos em dois esquimózinhos para vivenciar aquele momento que só a gente sente… – convido fazendo sinal com as mãos.
Olho para baixo e avisto dois bracinhos para o alto. Os pés calçam apenas 22 e já estão na pontinha dos dedos esperando o movimento de sempre do papai: agachar e segurá-la firmemente com a mão direita na coluninha e esquerda na cabeça, protegendo o pescocinho.
Já no colinho, ela conquista o primeiro afago, que é uma mordidinha no pé do ouvido comigo fazendo sons de pum no atrito da minha boca com sua pele… “bbbbrrruuuuuuuu…”
A ‘cosquinha’ causa aquelas famosas gargalhadas espalhafatosas de bebê, sabe? Sim, essas mesmas. As melhores, mais sinceras e mais delícias da raça humana. “bbbbrrruuuuuuuu…”, insisto na conquista.
Pronto. Nem precisou tanto… trago com cuidado seu rosto e o coloco na direção da minha vista. A partir daí o ambiente é tomado por um ar silencioso entre pai e filha – mas que diz tanta coisa pra gente… É um momento nosso, um instante único que sempre torço para não acabar…
Boquiaberta, os olhos rápidos da bebê Laís se mexem velozmente e exploram cada pedacinho no rosto do papai Guifer. Mas passa rápido, é uma questão de segundos, então, resolvo abrir aquele sorrisão – que é prontamente atendido por ela.
Creio que um dos momentos mais lindos para um pai ou uma mãe é enxergar toda extremidade banguela de um filhinho com os olhinhos apertados de tanta felicidade. É aquele sorriso que não sai som, exceto no finzinho dele quando busca recuperar seu curto fôlego.
Eu, um dinossaurão cabeçudo parado em sua frente;.
Ela, um bibelô que encanta o dinossaurão pela delicadeza e por ser tão forte (Laís é prematura de 29 semanas, passou 80 dias internada e venceu!).
Um olho no olho que perdura poucos segundos durante a aproximação dos rostos, mas que, lentamente, vai dando lugar ao debruçar das pálpebras conforme o imã do amor (incondicional) paterno nos magnetiza.
De olhos fechados, balanço a cabeça de um lado ao outro enquanto as pontinhas dos narizes se esbarram. Ela… sorri com os olhos esbugalhados.
Apesar de rápido, os pés parecem sair do chão, a alma quase se desgruda da matéria física e a vida passa em câmera lenta naqueles segundos que, apesar de poucos, tornam-se suficientes para trazer à tona pensamentos do tipo: “Que fantástico é ter uma filha. Que magia louca esse negócio de amar e ser amado. Obrigado, meu Deus, por esse privilégio!”
Devolvo a princesa guerreira para suas bonecas, ela volta a brincar, e eu, pouco coruja, continuo observando-a de longe e admirando essa sintonia entre a gente que desde a gravidez já se tornou eterna.
O beijinho de esquimó foi rápido, mas suficiente para fazer nosso dia melhor e mais encantador. Amanhã tem mais.
E você, já deu beijinho de esquimó?
Que tal experimentar hoje mesmo?
por Fernando Guifer, jornalista e pai da prematurinha Laís (FernandoGuifer.com.br)