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22.08.2019

"As empresas não podem esperar que o governo tome iniciativas de proteção à mãe de prematuro"

“A empresa que legítima e honestamente quer implantar uma agenda de igualdade e quer ter colaboradores engajados, tem que dar à funcionária mãe de prematuro o direito à licença UTI”.

A frase recheada de empatia e visão empresarial é de Marina Castro, 43 anos, gerente de talent (gestão de pessoas) e mãe de um bebê prematuro.

Marcelo, hoje saudável e em pleno desenvolvimento aos oito meses de vida, teve pressa de nascer e veio ao mundo antes da data prevista. O susto da mãe tornou-se orgulho ao saber que seria a primeira beneficiária de uma licença maternidade especial que ela se esforçou para implantar na Souza Cruz, líder nacional no mercado de cigarros.

Marina ocupou vários cargos na empresa e quando chegou à gerência de talentos se deparou com uma nova estratégia corporativa da empresa que incluía uma agenda de acessibilidade, política inclusiva e diversidade. Assumiu o papel de acelerar esse processo e uma das diretrizes foi a implantação de uma licença-maternidade mais flexível que beneficiasse também mães de bebês prematuros (a licença maternidade garantida por lei prevê afastamento da mãe por até 120 dias contados a partir do nascimento do bebê. Colaboradoras de empresas que aderiram ao programa de incentivo Empresa Cidadã, cerca de 20% das empresas nacionais, contam com 180 dias de licença).

O primeiro passo foi engajar o alto escalão da empresa, o que não foi difícil, já que havia uma agenda a ser cumprida. O compromisso incluía empoderamento feminino, ou seja, atingir a igualdade numérica e qualitativa em relação aos homens. Um item importante seria a implantação da licença maternidade contada a partir da alta do bebê prematuro da UTI em casos de prematuridade.

Marina estava grávida e Marcelo parece ter ouvido a reivindicação antes de todo mundo! Durante o processo na empresa, a bolsa gestacional dela estourou com pouco mais de 31 semanas (na gravidez normal são de 39 a 40 semanas) e ela precisou ser internada às pressas.

Foi quando começaram as preocupações: a primeira com o bebê, claro. Mãe de primeira viagem, bebê prematuro, a angústia por ter que se dividir entre os cuidados especiais e as atividades cotidianas e, ainda, a incerteza em relação ao trabalho pelo qual é apaixonada e a dar continuidade ao processo que vinha implantando até então.

Na vida profissional, contou com a solidariedade dos chefes. Na vida pessoal, passou pelo momento pesado de sair do hospital, sem levar o filho nos braços. Nos trinta dias seguintes, conheceu a rotina de passar o dia no hospital entre os cuidados dedicados à criança, que incluíam a ordenha do leite materno e a distância dele durante as noites, já que estava em uma UTI Neonatal.

Mas Marcelo tinha uma missão: mostrar a importância da presença da mãe nos primeiros meses de vida, mesmo depois que ele saísse da UTI neonatal. Assim, após ganhar o peso considerado suficiente e a alta, finalmente foram para casa.

Ao longo de tudo isso, a licença UTI, como é chamada na Souza Cruz, foi aprovada e implementada e Marina tornou-se a primeira “beneficiária daquele que deveria ser um direito de toda mãe de prematuro” e cuja trajetória ela mesma iniciou. A licença maternidade dela começou a ser contada a partir da saída do bebê da UTI.

Chegou a trabalhar de casa, mas conseguiu fortalecer o vínculo mãe-filho muitas vezes prejudicado pelos cuidados no hospital, não matriculou o bebê em uma creche, como é tão comum, participou da transição alimentar, quando o bebê começa a trocar o leite materno por alimentos sólidos e acompanhou de perto o desenvolvimento do Marcelo nos primeiros meses, como deveria acontecer em todos os casos.

Hoje o Marcelo está saudável e feliz. Marina trabalha normalmente e sabe bem o valor “de cuidar do filho, principalmente sendo prematuro, com tranquilidade e poder voltar às atividades profissionais estando de ‘corpo, alma, cabeça e coração’ voltados para o trabalho”, como ela descreve.

Assim consegue levar adiante o compromisso da empresa que tem 9.200 colaboradores, sendo 37% mulheres (“queremos chegar a 50%”, ela comenta), 48 das quais estão em licença maternidade no momento. Mas todas as 37% sabem que, se precisarem, poderão contar com a licença UTI e que quando voltarem ao trabalho receberão treinamento para cargos mais altos, entre outros itens previstos na agenda que ela, beneficiada pela mesma política, está colocando em prática.

“A gente não pode esperar o governo. O pioneirismo da empresa faz a diferença, realmente valoriza e motiva os funcionários. A empresa que quer trazer a mulher para condição de igualdade tem que oferecer paz e tranquilidade para a mãe de prematuro. Ela precisa deste tempo a mais para voltar ao trabalho com amor e dedicação. É uma relação ganha-ganha sem precedentes”, completa.

*O portal da ONG Prematuridade.com salienta que o ato de fumar pode contribuir para problemas de saúde e, consequentemente, aumentar as chances de parto prematuro.

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