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04.02.2013

Trombofilia: trombose, prematuridade e anticoncepcional


Você sabia que mulheres portadoras de trombofilia têm mais chances de apresentar complicações na gravidez, tais como abortos recorrentes, hipertensão, restrição de crescimento intra-uterino (RCIU) e parto prematuro?

E você leu ou ouviu recentemente notícias sobre a proibição da venda do anticoncepcional Diane 35 na França, pois foi supostamente associado à morte de 4 mulheres por trombose venosa?

Pois então: nos confrontamos com esses dois assuntos nos últimos dias e, dada sua importância, resolvemos trazê-los ao site.

O tema "trombofilia na gestação" foi sugerido pela Viviane, nossa leitora. Ela só descobriu que era portadora da doença depois que sua primeira filha, que apresentava RCIU grave, veio a falecer após nascer de 27 semanas, com 435g e 27cm. Depois desse triste episódio, a Viviane investigou melhor sua saúde e descobriu a trombofilia. Mesmo tendo iniciado o tratamento para a doença, o segundo filho da Viviane também teve RCIU e também foi prematuro, de 31 semanas, em decorrência de complicações relacionadas a trombofilia. Mas, felizmente, dessa vez deu tudo certo e hoje mãe e filho estão bem.

Então vamos ao que interessa...

Afinal, o que é trombofilia?

A trombofilia é uma doença que causa alteração na coagulação sanguínea, com conseqüente aumento do risco de obstrução dos vasos sanguíneos. Esta obstrução é denominada trombose.

A trombofilia pode ocorrer por mutações ou deficiências na produção dos fatores de coagulação e pode ser hereditária ou adquirida. Nos casos de trombofilias adquiridas, a obesidade, o tabagismo, o diabetes, a pressão alta e mesmo o uso de anticoncepcionais são tidos como fatores de risco.

Tipos de trombofilia:


  • Deficiência de antitrombina: é a mais rara e a que provoca maior risco de trombose.

  • Mutação do Fator V de Leiden: é a mais comum e provoca um risco moderado de trombose.

  • SAAF (Síndrome do Anticorpo Antifosfolípede): é a trombofilia adquirida de maior importância na gravidez. Cerca de 16% dos abortamentos de repetição estão relacionados com essa síndrome.

  • Mutação do gene da protrombina: trombofilia de menor risco para trombose

  • Deficiência de proteína C e S: risco moderado.


Mas como saber se tive uma trombose, o que vou sentir?

A doença pode se manifestar em diversas partes do corpo. Se ocorrer nos vasos do coração pode levar a um infarto; se nos vasos do cérebro, pode levar a um derrame. Contudo, o mais comum é a formação de coágulos nas pernas, onde os sintomas são inchaço, dor, vermelhidão e calor.

Trombofilia e gravidez

A trombofilia associada a problemas na gravidez pode ser assintomática, o que dificulta o diagnóstico. Este costuma ser feito quando há antecedência familiar ou abortos repetidos. A doença não é detectada em exames de sangue corriqueiros, apenas em específicos.

Durante a gravidez já ocorre naturalmente um estado de “hipercoagulabilidade” do sangue materno para auxiliar na contração uterina e no controle da hemorragia pós-parto. É por isso que muitas mulheres portadoras de trombofilia descobrem a doença após alguma complicação na gestação, pois há uma maior chance de produzir trombos que podem obstruir vasos da placenta, ocasionando abortos precoces de repetição, óbito fetal, descolamento prematuro de placenta, eclâmpsia precoce, entre outros.

Agora, vale lembrar que não são todas as paciente com trombofilia que irão desenvolver complicações na gestação, isso ocorre em apenas 0,5 a 4% dos casos.

Sempre que uma paciente chegar para uma consulta com um mal passado obstétrico, temos que pensar em trombofilia. Aquelas com antecedentes familiares ou história de trombose com uso de anticoncepcional também devem ser pesquisadas.

Tratamento da trombofilia

Feito o diagnóstico (através de uma complexa investigação laboratorial), o tratamento deverá ser iniciado para prevenir as complicações. Medicações como o AAS (ácido acetilsalicílico), heparina e suplementação de cálcio serão utilizados para controlar a coagulação e evitar a formação de trombos. A boa notícia é que com o tratamento adequado, as chances de sucesso são elevadas!

Trombofilia, parto e amamentação

A trombofilia não é uma indicação absoluta de parto cesárea, porém em algumas situações pode-se indicar a resolução da gestação assim que se estabeleça maturidade fetal, afim de se evitar complicações do final da gravidez como o óbito fetal repentino. Medicações para acelerar a maturidade pulmonar do bebê também podem ser utilizadas. O tratamento deverá ser mantido inclusive no período pós-parto para prevenir a trombose materna.

A amamentação deve ser mantida e incentivada.

Trombofilia e fertilidade

A trombofilia pode ter influência na fertilidade. Embora a ligação ainda seja considerada incerta no mundo científico, o tratamento da doença costuma melhorar as chances de a mulher ter uma gravidez de sucesso.

A doença também estaria relacionada à dificuldade de implantação de embrião ou abortos de repetição. Os coágulos podem diminuir o fluxo sanguíneo e, consequentemente, a oxigenação dos tecidos, o que é fundamental tanto para que o embrião se fixe no útero, quanto para o seu desenvolvimento. "O sangue é que nutre o bebê. Se ele não chega ao bebê, ele não se desenvolve", diz Arnaldo Cambiaghi, diretor do Centro de Reprodução Humana do Instituto Paulista de Ginecologia, Obstetrícia e Medicina da Reprodução, de São Paulo.

Essa teoria não é plenamente aceita entre os médicos especialistas em fertilidade. "Existem controversas quanto à real interferência da trombofilia. Recentemente, no congresso europeu de reprodução humana, neste ano em Istambul, o assunto foi debatido em diversas mesas e não houve um consenso da indicação da trombofilia como causa", afirma o médico. Não há estudos definitivos que comprovem a relação direta.

Ainda assim, o médico afirma que o tratamento da doença costuma ter resultados positivos para a gravidez. "Pacientes que têm trombofilia e se tratam têm uma gestação normal. O efeito pode ser bloqueado por meio do medicamento", comenta Arnaldo. O tratamento é feito com uso de anticoagulantes, como a aspirina infantil, ou, nos casos mais graves, a heparina. "Numa linguagem popular, ele vai 'afinar' o sangue", diz o médico. O sangue mais "fino" facilita a circulação.

Embora a relação não seja comprovada, Arnaldo recomenda o uso dos medicamentos em pacientes que tenham histórico ou indícios de trombofilia, ou que tenham passado por abortos recorrentes ou falhas de implantação. "Na minha experiência clínica, a taxa de gravidez aumenta em 30%. Os abortamentos são evitados, quando relacionados a essa doença, em 80% das vezes", conta ele. E o remédio não traz maiores riscos. "Por isso, na dúvida, eu trato", afirma.

Anticoncepcional e mulheres com risco de trombose

'Anvisa alerta para contraindicação da pílula Diane 35 em pacientes com risco de trombose' (Notícia do Portal do Consumidor, 31/01/13)

'A Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) publicou um informe nesta terça-feira (29) sobre a pílula Diane 35, alertando para os riscos do produto para pacientes com histórico de processos trombóticos (formação de coágulos em veias ou artérias). O documento foi divulgado após agência reguladora de medicamentos francesa, a ANSM (L’Agence nationale de sécurité du médicament et des produits de santé), ter associado a ocorrência de 4 mortes ao uso do medicamento.

Nesta quarta-feira (30), porém, a França anunciou que a pílula e seus genéricos terão a venda suspensa - medida que entrará em vigor daqui a 3 meses. O princípio ativo do produto é o acetato de ciproterona e etinilestradio.

A Diane 35 é usada no Brasil como anticoncepcional e também para controle do hirsutismo (excesso de pelos), ovários policísticos e acne em mulheres. Na França, porém, apenas o tratamento contra acne era aprovado. A autoridade de saúde considera que faltam estudos para confirmar o benefício do produto como contraceptivo.

"Novos dados mostraram que o risco de tromboembolismo, incluindo o tromboembolismo venoso, é 4 vezes maior nas usuárias em relação a mulheres que não fazem o tratamento", informa o comunicado da ANSM.

A agência brasileira diz que até o momento não recebeu relatos de profissionais de saúde sobre problemas com o produto, registrado no país desde 2002, e diz que está acompanhando o caso "para avaliar quais medidas devem ser tomadas".

Procurada pelo UOL na manhã desta quarta-feira (30), depois que a agência francesa anunciou a suspensão da pílula, a assessoria de imprensa da Anvisa respondeu que, por enquanto, o posicionamento permanece o mesmo.

O informe da Anvisa lembra que a bula do produto no país já traz alertas referentes ao risco de trombose arterial ou venosa. Por isso, deve ser respeitada a contraindicaçãoi da pílula para pessoas que tenham sofrido trombose venosa profunda, embolia pulmonar, infarto ou AVC, e também para mulheres com sinais que possam preceder esses problemas, como angina (dor no peito) e episódio isquêmico transitório.

A agência de medicamentos francesa confirmou, no último domingo (27), que quatro mulheres morreram por trombose venosa profunda relacionada ao Diane 35. Outras mortes relatadas teriam sido causadas por "doenças subjacentes", concluiu a autoridade de saúde.

Nos últimos anos, outros anticoncepcionais também entraram no radar das agências reguladoras, especialmente a drospirenona (princípio ativo das pílulas Yaz e Yasmin), que foi relacionada a casos de trombose e embolia, causando inclusive algumas mortes.

A trombose é a formação de um coágulo sanguíneo em uma veia ou artéria, impedindo o fluxo do sangue. Na trombose venosa profunda, em geral a veia afetada fica nos membros inferiores. O coágulo pode causar inchaço e dor. Quando se desprende e se movimenta na corrente sanguínea, é chamado de embolia e pode provocar lesões graves no cérebro, nos pulmões ou em outra área do corpo.

O que o fabricante diz

A Bayer informou que, até o momento, o conteúdo do relatório das autoridades de saúde da França mencionado nos artigos da imprensa não foi comunicado à Bayer Healthcare França. A empresa lembra que Diane 35 é um medicamento aprovado pelas Autoridades de Saúde da França para o tratamento da acne em mulheres. O mesmo produto é aprovado para diferentes indicações nos 116 países em que é comercializado.

"Diane-35 deve ser prescrito estritamente como indicado na bula e depois de uma consulta médica, seguindo indicação e de acordo com as indicações da bula. O risco de tromboembolismo venoso (TEV) é conhecido e claramente mencionado na bula do produto. Como para qualquer droga, a prescrição de Diane 35 é monitorada de perto. Os resultados deste monitoramento são comunicados às autoridades de saúde, seguindo regulamentação aplicável de farmacovigilância", diz o comunicado.

A companhia também diz que sempre colaborou com as autoridades de saúde para fornecer todas as informações relevantes sobre a utilização e o perfil de benefício/risco do Diane 35 e vai continuar a fazê-lo.'

ATENÇÃO! Pílula anticoncepcional também é remédio! Antes de iniciar ou interromper qualquer tratamento, consulte seu médico!!!

Fontes consultadas: Terra, Vestida de Mãe (Dra. Camila Takase)Portal do Consumidor

 

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