27 de Fevereiro de 2014
Reinaldo, um campeão que venceu a prematuridade e muito mais
“Tudo começa com uma gestação meio complicada. Depois de três abortos espontâneos, me pego grávida. A tensão é inevitável, descobri ser um menino aos cinco meses, e, aos seis meses, já comecei a inchar. Assim que completei sete meses de gestação, a minha bolsa rompeu e perdi todo líquido amniótico. Não há alternativa, o meu filho seria prematuro.
Uma cesárea normal, mas o bebê é transferido para UTI e a mãe esperando a alta para poder vê-lo. Jamais imaginei, em meus 31 anos de idade, que passaria por tamanho sofrimento. UTI neonatal é tudo aquilo que você não quer conhecer na vida. Um misto de paraíso e inferno, onde você circula sem a menor noção do que vai encontrar, seja com o seu filho ou com a criança do leito ao lado.
Reinaldo nasceu com 1,840 kg e veio para 1,500 kg, medindo 43 cm. Das intercorrências que um prematuro pode ter, o meu teve 90% de todas: incompatibilidade ABO (incompatibilidade sangüínea materno-fetal), enterocolite, ficou ictérico, emolisou, teve duas paradas cardiorrespiratórias, precisou de transfusões, banhos de luz, dissecção de artéria, derrame cerebral grau 01, falta de resposta a estímulos externos, etc.
Foram 31 dias de muita agonia, de melhoras e pioras, dias em que pensava-mos que íamos perdê-lo e dias em que ele demonstrava que estava a espera de nossa chegada. No trigésimo dia, uma hérnia foi descoberta e teve de ser operada às pressas. Meu Deus, uma cirurgia em uma criança tão frágil, como será? Tudo deu certo, graças a Deus!
Nascido em 10 de abril de 1999, ele teve alta hospitalar em 11 de maio. Na verdade, eu nem esperava. E agora em casa? Não me sentia pronta para cuidar de alguém que quase morreu algumas vezes. O primeiro banho, o pai que deu. Eu tinha medo de manipular o meu filho e perdê-lo. O pai não podia ir até a esquina comprar pão que eu chorava feito criança, com medo de não saber reconhecer uma necessidade mais básica do meu filho.
O tempo vai passando e as coisas se acomodando. Aprendi a lidar com aquela pessoa tão frágil que nem é tão frágil assim. Sempre pequeno, a sua aparência era incompatível com sua idade, normal, afinal, era um prematuro.
Esperto, inteligente e feliz. Assim o meu prematuro cresceu até os 3 anos de idade. Na escola, percebe-se algo errado com a visão. E tome de tentar saber o que e porque. Nada... Muito sofrimento com buscas, exames e colírios. Nada...
Com 5 anos e 3 meses, uma apendicite supurada quase leva o meu pequeno. Dez dias de internação, sofrimento e medo. E a visão ruim. Descobrimos que a sua única alternativa seria transplantes de córneas, as duas. Então, vamos lá. Total de transplantes: 3, dois no olhinho direito e um no olhinho esquerdo. Resultado disso: 25% de visão no olho direito e 80% de visão no olho esquerdo. Vamos a vida porque ela não dá tempo para pensar.
Ao retornar a escola, tivemos uma enorme oferta de curso extracurriculares, mas todos perigosos para um transplantado. Ele não poderia, de maneira alguma, sofrer traumas no rosto. Então, surge um que pode ser a solução. Durante a semana, passa a praticar dois dias de aulas de natação. Descobre-se um nadador. O tempo passou e, em um ano e meio de natação, foi chamado para participar de uma equipe de natação. Hoje, nada pelo Botafogo Futebol e Regatas. Ainda não é um Cesar Cielo, mas é prata no campeonato estadual (RJ) de inverno nos 1.500 livre (ele é fundista). E aguardamos o fim desse ano (2013) para o resultado do campeonato estadual de verão.
Reinaldo R. Ribeiro Filho tem 14 anos extremamente bem vividos e amados. Sofreu nesse pouco tempo de vida o que muitas pessoas com mais 80 anos nem imaginam passar. O seu nome digo que é superação, mas, no fundo, acredito que Deus deixa uma criança ser prematura para que nós pais aprendamos a dar valor a vida, pois o ser que temos em nossas mãos para cuidar e proteger já nasce com uma imensa vontade de viver.”
Valéria, mãe do Reinaldo