"Ah, as comparações....
Infelizmente as pessoas não pensam antes de falar. Aquelas perguntas básicas que sempre são feitas quando a gente vê um bebê, para nós, mães de prematuros, às vezes machucam.
"Quantos meses ele tem?" (ele já tem um ano e pouco!)... "Ele já tem um aninho?" (e o meu tinha completado 2!!!).
Um dia, no limite da minha paciência, uma mãe com um bebê de 1 ano e pouco, gordo, grande, me perguntou a idade do meu. Pensei, falo a verdade ou invento? Falei a verdade. O meu era uns 3 meses mais velho e metade do tamanho do dela. "Nooosssa, o meu tem um ano e meio!!!" - com aquele ar de espanto. Contei até 10, mas não resolveu. Olhei pra ela e perguntei: "o teu nasceu vivo?? Porque o meu nasceu morto!" Virei e saí. Quem fala o que quer, ouve o que não quer.
Aprendi a não perguntar tudo o que tenho vontade. Temos que aprender a não comparar. Como isso é difícil! Mas acho que é super necessário.
Estes dias no consultório da fono, um bebê que parecia ter 1 mês estava esperando a consulta com sua mãe. Olhei pra ele e aqueles olhos de prematuro não me enganaram. Calei-me. Na consulta, soube que ele tinha 6 meses. A mãe fala para todos que ele tem 2, para evitar ouvir bobagens e uma longa explicação. Para uma mãe de prematuro, a simples pergunta "quantos meses ele tem?" já provoca um turbilhão de conflitos até que é dada a resposta (seja ela verdadeira ou não).
Agora, noto que realmente cada bebê tem o seu tempo. Cabe a nós, com toda a paciência que fomos obrigadas a adquirir no período da UTI, esperar este tempo, fechar os ouvidos para os outros e escutar apenas o nosso coração. Só a gente sabe o que estes guerreiros passaram e o simples fato de estarem vivos já nos enche de orgulho e gratidão.
Repito, temos que aprender a não comparar. A ficar feliz com cada conquista dos nossos sem nos importar se o fulano é mais novo e já faz isso há tempos. A ver que para eles tudo pode ter sido mais difícil, mais lento, mais frágil, mas isso fará deles pessoas batalhadoras, guerreiras, que lutam por suas conquistas e que saberão, com certeza, viver com as diferenças e evitar comparações."
por Vanessa Gottert, mãe dos prematurinhos Matheus e Thiago.
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