Notícia original publicada em 07 de março de 2015.
Jornal A Cidade / Daniela Penha
[caption id="attachment_15895" align="alignright" width="300"] Com apenas 64 dias de vida e pouco menos de 1 quilo, a pequena Laura se revela uma grande guerreira. (foto: Milena Aurea/A Cidade)[/caption]
Laura não teve tempo de se preparar. A pressão da mãe subiu demais e, de repente, era preciso nascer. Nayara Caetano não teve escolhas. Entre o diálogo com o médico e o parto se passaram apenas 30 minutos.
- O senhor está me dizendo que minha filha vai nascer com seis meses de gestação?
- A gente precisa salvar a sua vida.
Além da pressão alta, Nayara teve uma síndrome grave, que faz o sangue parar de coagular. Laura precisava nascer, e rápido. Veio ao mundo com 585 gramas, 32 centímetros e, em resposta ao susto, uma vontade imensa de viver.
Era tão pequenina que parecia de brinquedo. “Eu assustei muito. Ela parecia de plástico. A gente demora para processar o que está acontecendo”, a mãe também precisou ser firme.
Laura foi direto para a UTI neonatal da Maternidade Sinhá Junqueira, mas não demorou a mostrar que vinha para ficar. “Na primeira vez em que eu coloquei a mão no pezinho dela, com algumas horas de vida, ela já deu chute. É brava!”, brinca o pai, André Caraschi.
Laurinha já passou por uma cirurgia cardíaca para resolver imperfeições da prematuridade e enfrentou uma grave infecção de urina. “Ela é guerreira demais. Surpreende todo mundo”, a mãe diz, cheia de orgulho.
Depois de 50 dias entubada, a pequena já começa a respirar sozinha. Em exercício, passa duas horas por dia no respirador, duas sem. O peso dobrou em 64 dias de vida. “Ela está engordando!”, os pais comemoram cada grama. Já são 990 gramas e 35 centímetros. A meta é passar de dois quilos, condição para a alta.
O casal, de Jaboticabal, se dividiu para estar o tempo todo com a filha, a primeira. Nayara está ficando na casa da irmã, que mora em Ribeirão. André precisou voltar ao trabalho, mas se desdobra para vir aos finais de semana e sempre que a saudade aperta.
“Foi tudo muito diferente do que a gente imaginou. É difícil não poder ir com ela para casa”, a mãe passa apenas duas horas por dia com a bebê, nas três visitas permitidas na UTI. A noite, último momento com a pequena, faz as recomendações. “A mamãe te ama. Dorme bem que já estou de volta”.
O sonho é pela alta. Mediante tanta vida, porém, os pais não têm pressa. “A gente tem paciência. O importante é sair no tempo certo”, diz o pai. No sorriso largo de Nayara, é mais do que amor que transborda. Laura tem a quem puxar. “Se eu tenho vontade de chorar, faço longe dela. Temos que ter força para ela sentir essa força também”.
‘Tratam os bebês como filhos’, mãe se sente acolhida
A única tranquilidade de Nayara e André é saber que Laurinha está em boas mãos. “Eu me emociono de falar. O trabalho das médicas e enfermeiras é incrível. Tratam os bebês como filhos”, a mãe agradece.
Na UTI neonatal do Sinhá, as 20 vagas estão sempre ocupadas por bebês de Ribeirão e região.
A médica Rita Márcia Pinelli, coordenadora da UTI, explica que o tempo de permanência dos bebês no hospital é muito variável. “O bebê só pode ter alta quando está respirando sozinho, com boas condições clínicas e mais de dois quilos. Cada criança tem seu tempo”.
No caso de Laurinha, não há previsões ainda. Mas a evolução da pequena tem sido boa. “Ela é guerreira. Aqui, pais e filhos são guerreiros”, a médica diz.
Quando chega o tão esperado dia da alta, não só os pais comemoram. A equipe toda fica em festa.
“Nós nos sentimos aliviados. Mais uma missão cumprida”, Rita traduz.
Os laços, porém, ficam. “A gente adiciona os pais nas redes sociais, eles nos mostram fotos, trazem os bebês para vermos como estão bem e acompanho alguns em consultório. É uma relação muito forte. Passamos muito tempo com eles”.
Fonte: Jornal A Cidade