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20.02.2013

Pais prematuros: estresse pós-traumático e seus reflexos no organismo


"O trauma vivido por pais de prematuros é similar ao vivido em guerras". Esse era o título da matéria publicada em Julho de 2012, uma das mais marcantes do nosso site (releia aqui). Isso porque chama a atenção para um dado muito importante: a gravidade das sequelas psicológicas que acompanham pais e mães de bebês prematuros pelo resto de suas vidas. Nem todos irão desenvolver o estresse pós-trauma, porém, achamos por bem repassar o texto que resume o tema abordado pelo programa Bem Estar (Rede Globo) do dia 31/01/13. Contem informações importantes, vale conferir!

"Episódios trágicos que envolvem emoções muito fortes, como o incêndio na boate Kiss de Santa Maria (RS), que deixou 235 mortos e 143 pessoas internadas, podem desencadear não apenas reações físicas imediatas, como risco de pneumonia e morte, mas também doenças psíquicas a médio e longo prazos, como depressão e estresse pós-traumático, que acabam tendo reflexo em todo o organismo.

Segundo o especialista em neurociências da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e membro da Associação Brasileira do Trauma (ABT) Carlos Alberto Franco, as pessoas que sobreviveram têm uma capacidade individual de absorção e recuperação do susto ou luto.

A forma como as pessoas lidam com perdas e luto é muito individual, diz especialista. "Os amigos e familiares também podem se culpar indevidamente por não terem salvado alguém. Mas o primeiro instinto que o cérebro tem é de sair do lugar, é instintivo. Depois que passa o perigo, de forma consciente, a pessoa quer saber onde está o outro", explica Franco.

A forma como as pessoas lidam com a perda varia com o perfil e a história de cada um, segundo o especialista. Mas o natural seria, em três meses, começar a perceber o fato como algo pertencente ao passado, embora o mal-estar ainda esteja presente. Em três a seis meses, a dor costuma se atenuar, mas pode levar até um ano para o indivíduo voltar a ter energia para desempenhar suas atividades normais.

"No caso de uma mãe que perde um filho, porém, um ano não significa nada. Pode levar até dez anos ou mais nesse processo de perda, pois fica um vazio, algo fora do lugar, e a vida perde o sentido e a referência", destaca.

Franco diz que uma tragédia como a da boate Kiss, em que há uma inversão natural do que se espera – jovens que morreram antes de seus pais –, pode causar uma falta de ligação com o mundo real e levar familiares e amigos a negar o ocorrido, entrar em depressão, ter crises de ansiedade e até pensar em morrer.

"O estresse pós-traumático pode se manifestar de várias maneiras: como batimentos cardíacos acelerados, problemas estomacais, intestinais, de pele ou em outros órgãos, febre, diminuição da capacidade de concentração e memória, choro por qualquer motivo ou impossibilidade de andar por algum local que lembre aquele acontecimento", afirma o especialista.

De acordo com ele, se dentro de 15 dias ou mais a pessoa continuar extremamente desanimada, deve procurar algum tipo de apoio, como psicólogo, psiquiatra, especialista em trauma, pelo menos para passar por uma avaliação. Quanto antes isso acontecer, melhor.

Além disso, existem "gatilhos" que podem disparar e remeter à tragédia, como fotografias, o quarto ou objetos pessoais da pessoa que morreu. Isso pode ocorrer até anos depois, e outros acontecimentos também são capazes de trazer à tona essas emoções negativas.

"Claro que de imediato é muito difícil evitar isso. Mas, com o tempo, pode funcionar mudar a casa, a posição dos móveis, os quadros. Pois cada vez que os pais entrarem no quarto do filho, vão reavivar a memória da perda, manter a memória traumática e a tendência à depressão. O ideal é que a família entenda que a lembrança de quem se foi é suficiente – não precisa manter o pijama do filho para sentir o cheiro dele", diz.

Segundo Franco, essas são as mesmas recomendações que os psiquiatras e psicólogos costumam dar para quem rompeu um relacionamento. E os sinais que aparecem após uma perda também podem ser semelhantes aos de um trauma de guerra.

"Quanto mais você é provocado no processo de sobrevivência, maior é a marca que fica", ressalta.

O especialista diz que, no caso de bombeiros, policiais, médicos e voluntários, espera-se que eles consigam manter um nível de equilíbrio que permita que eles sejam objetivos e ao mesmo tempo ajudem as pessoas, sem serem frios.

Luto não é doença

O psiquiatra Daniel Barros explica que o luto não é uma doença, é um fenômeno da vida, então não tem cura nem tratamento específico.

"Não há algo que se possa fazer para não sentir aquela dor. Ter amparo, suporte, estar presente, falar, tudo ajuda. Mas tem gente que prefere não falar. O que preocupa e o que se deve estar atento é a evolução desse luto", afirma.

Isso porque, aos poucos, a perda vai sendo digerida, superada, e então a vida segue. Algumas pessoas, porém, não conseguem, travam, e a dor não passa nunca. Para os lutos patológicos, segundo o médico, é preciso medicação, tratamento e terapias específicas."

Fonte: Bem Estar - G1.com.br

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