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20.11.2013

O ''remédio'' que faz a diferença

Ter um filho prematuro envolve uma série de desafios. O principal deles é aceitar a situação como ela é, por mais dolorida que seja. O bebê chegou antes do tempo, em situação de risco e lutando para viver. As lembrancinhas, o enfeite da porta, a camisola impecável, o chinelo adequado ficam para trás quando colocamos pela primeira vez nossos pés dentro de uma UTI neonatal e nos deparamos com um universo desconhecido, que nos desperta vários sentimentos. Medo, insegurança e tristeza se misturam com sentimentos de esperança, coragem, força e fé. Nosso bebê está ali para receber os melhores cuidados, apesar do ambiente que assusta e nos torna vulnerável diante de cada grande batalha travada por cada ser tão pequeno que luta ali dentro de uma incubadora como um gigante para vencer o desafio da vida.

A rotina diária de encarar os corredores da UTI vem acompanhada de diversas situações. Algumas são grandes desafios, e eu gostaria de falar um pouco sobre um deles e que é de extrema importância: a amamentação do prematuro. Como fazer nosso leite ajudar o bebê a se fortalecer por meio desse recurso tão valioso da natureza?

Eu vivenciei essa situação há dois anos. A propósito, essa é a primeira vez que eu consigo sentar em frente ao computador e traduzir em palavras um pouco dos meus sentimentos a respeito dessa experiência. Dentro do meu ''cenário ideal'' ter leite para amamentar a Helena era algo que fazia parte dos meus planos. Fazia mil mentalizações para que o alimento nunca faltasse para a minha bebê quando ela chegasse. Mas eu não imaginava o papel que esse leite teria diante do que estava por vir.

A Helena nasceu em São Paulo com 34 semanas em um parto de emergência. Foram 30 dias de UTI por conta de várias complicações no nascimento resultantes de problemas decorrentes da placenta prévia. Junto veio uma inesperada falta de oxigênio no cérebro e a falta de certeza de como ela sairia disso tudo. Eu precisava encontrar uma forma de ajudar a minha filha a sair daquela incubadora, se livrar daqueles fios e aparelhos o mais rápido possível, pois a dor de ver aquele serzinho tão pequeno e indefeso naquela situação era imensa. Além de driblar os meus medos e estar lá do lado da incubadora dela todos os dias incansavelmente emanando o maior amor que eu poderia dar a ela, eu precisava fazer mais. E garantir que meu leite chegasse até ela era um desses caminhos.

[caption id="attachment_9475" align="alignright" width="270" caption="Foto: Wikimedia"][/caption]

Conheci o lactário logo no segundo dia de nascimento da minha filha. Mesmo ainda com os pontos doloridos, eu caminhava com dificuldade até lá para garantir a produção de um ''remédio'' importante para a sua recuperação. No começo foi difícil. Com as orientações dadas pela equipe do local, que tinham um grande carinho para nos guiar nesse processo, comecei a produzir o leite. No começo, cada jato era um sinal de esperança e de ânimo para a vitória da minha filha. Comecei chegando a preencher cerca de um dedo da mamadeira e aos poucos esse volume foi aumentando. Mas isso se deu graças à minha persistência de não deixar que o ''remédio'' faltasse para a Helena.

Ir ao lactário se tornou uma rotina rígida, mas feliz, pois eu acreditava mesmo que o leite poderia ajudar a ''salvar'' a minha filha. Eu me organizava para que a minha retirada fosse feita a tempo de garantir que o leite chegasse até ela a tempo da próxima mamada. Com o passar dos dias e pelos estímulos constantes, eu já estava enchendo quase uma mamadeira. Quando eu chegava em casa, à noite, fazia a ordenha. Alugamos uma máquina e todas as noites estava eu lá envolvida com as mamadeiras e garantindo mais ''remédio'' para minha filha. De manhã, saia com minha bolsinha térmica com o alimento para aquele dia.

No decorrer dos dias, o leite que era dado à Helena via sonda passou a ser dado via mamadeira. Enquanto isso, eu me preparava para começar a amamentá-la. Quando ela tinha 8 dias de vida, comecei a amamentá-la. Foi um momento difícil, porém, muito especial. Por conta da fragilidade dela, ficava meio apreensiva e desajeitada. Ela chegou a perder saturação por várias vezes durante a amamentação. Eu ficava desesperada, tinha que parar tudo até ela voltar ao normal. Mas, aos poucos, ela foi estabilizando e a amamentação se tornou um processo mais tranquilo. Depois do peito, ela ainda tomava mais um pouco do leite como complemento na mamadeira.

É muito importante acreditarmos que a amamentação pode ser um ''remédio'' importante para fortalecer e nutrir o bebê enquanto ele estiver na UTI. Não deixe de estimular a sua produção, de fazer com que esse recurso chegue ao seu bebê da melhor forma possível. Pode acreditar, esse ''remédio'' faz a diferença!

por Júlia Zillig, mãe da Helena.

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