10 de Dezembro de 2013
O nascimento da doce Cecilia
“Meu nome é Claudia e tenho 36 anos. Eu e meu marido queríamos um filho, apesar de já termos outros dos nossos casamentos anteriores. Em junho de 2011, descobri que estava grávida. Susto, felicidade, medo, tudo junto, pois não havia sido planejado. Mas tudo tem a hora certa. Aos 3 meses de gestação, tive um aborto espontâneo. Dor, tristeza, vazio. Seis meses depois, a minha menstruação, que sempre foi muito certa, atrasou. Insegurança, dúvida, ansiedade.
No dia 06 de junho de 2012, sob pressão das colegas de trabalho, fiz um Beta, com apenas 3 dias de atraso e quão grande foi a surpresa: positivo! Liguei para o meu marido e contei a novidade. Deu tudo certo, corri para o meu médico, pré-natal e exames certinhos. Aos 4 meses de gestação, em um ultrassom rotineiro, o meu médico me informa que a pressão uterina da artéria esquerda está um pouco alta, e isso poderia desenvolver pressão alta. Problema, pois, na minha segunda gestação, a minha filha nasceu prematura devido a pressão alta. Passei, então, a tomar remédio para controlar essa tal pressão uterina e fazer pré-natal a cada 15 dias.
No dia 02 de novembro de 2012, senti muita dor de cabeça e fui até o hospital para ver a pressão. Se confirma então o que já era esperado: pressão alta. Fui colocada de repouso por 15 dias e remédios. Nesse tempo, já tinha engordado 22 kg, mesmo com acompanhamento nutricional. Após os 15 dias de repouso, nada de melhoras e ganho de peso muito rápido. Fui detectada com
pré-eclâmpsia. Repouso absoluto e remédios. No dia 06 de dezembro de 2012, exame pré-natal e perda excessiva de proteínas. Internamento às pressas para controle. Eu estava grávida de 30 semanas e 3 dias. Fui informada dos riscos que eu corria, mas que o bebê estava bem, iria para a UTIN apenas para ganhar peso.
Eu ficaria internada para tentar levar a gravidez ao menos até às 32 semanas, mas, naquela noite, fui informada que provavelmente não seria possível, e iniciei o tratamento para amadurecimento do pulmão da minha neném. Sim, era uma menina, ao contrário de todas as expectativas. No dia 08 de dezembro de 2012, conversei com o meu médico e ele me informou que não seria possível aguardar mais 15 dias e, no dia 10 de dezembro de2012, pela manhã, faria uma cesariana.
Naquela noite, deitada, orei a Deus e pedi forças, que cuidasse das minhas três filhas, e que fosse feita a Sua vontade. Como sempre, o tempo de Deus não é o nosso. Nesta mesma noite, a pressão subiu muito e não se conseguia controlar com os remédios. Consegui chegar aos 116 kg. Sofrimento. Muito. Mas sem desanimar. Apoiava-me em Nosso Senhor Jesus Cristo e pedia forças a Nossa Senhora Aparecida. Na manhã de 09 de dezembro de 2013, fui informada que não poderia mais esperar e nem sequer aguardar o meu médico para poder fazer meu parto, pois ele tinha ido até a cidade vizinha.
Fui para a cirurgia, e, ao contrário de tudo que esperava, deu tudo certo comigo. A minha Cecilia nasceu pesando 1,300 kg e medindo 36 cm. Apesar de tudo, ela estava bem. Mas, 7 minutos depois do parto, ela chocou. Fui levada para o meu quarto, e meu marido foi vê-la. Também deixaram a minha mãe e a minha sogra visitá-la. Até então, eu ainda não sabia em que estado ela se encontrava. Às 19h daquele dia, a médica-chefe da UTIN, veio falar comigo. Ela me explicou que o estado da minha neném era gravíssimo, que não tinha PA, estava tomando dopamina, dobutamina, cafeína e mais coisas, todas terminando com “iná”, e que eu seria levada até ela assim que estivesse me sentido melhor.
Às 23h da noite, pedi ao enfermeiro para me levar até a UTIN. Deus, meu Deus, eu não estava preparada para aquilo tudo. Lembro que me sentaram ao lado do leito dela, pois, devido à eclâmpsia, ainda não estava enxergando bem, estava muito inchada. Ver minha filha naquele estado, mesmo que com os olhos embaçados, me doeu tanto, que ali mesmo eu chorei copiosamente. A sensação de ter falhado com ela era imensa. E lá estava ela, tão pequena, tão frágil, com tanta coisa presa a ela. No segundo dia após o nascimento dela, pediram para o meu marido vir, pois ela havia piorado e as chances de sobrevivência eram mínimas. Mas as previsões estavam erradas.
Um, dois, três, quatro dias se passaram e eu tive alta. Como ir embora e deixá-la? Chorei muito, mas fui. Notícias ruins todos os dias, mas, 7 dias após lá estava sua pressão arterial. Para mim, foi como se tivessem acabado de me informar que ela havia nascido. Abracei o meu marido e só o ouvi dizer: “está dando certo, vai ficar bem!”. E nisso eu acreditei.
Aos 10 dias de nascida, ela pesava 1,008 kg. Mais choros. Mas sempre me lembrava de um versículo da bíblia que diz: “Aquele que em mim crê, ainda que morra, viverá.” E, com o passar dos dias, começou a sua recuperação. Também aos 10 dias iniciava a sua alimentação: 1ml de leite artificial. Fiquei assustada com a quantidade, mas me informam que seria suficiente. Podíamos tocar nela, mas eu tinha muito medo, então, esses afagos ficavam por conta do meu Fabio, meu marido.
Aos 26 dias de nascida, Cecilia foi transferida para a Unidade semi-intensiva. Que felicidade. No dia 09 de janeiro de 2013, chegamos a UTIN para comemorar seu 1º mês de vida e uma surpresa: a espoleta tinha tirado a sonda nasal, o oxímetro e a fralda que era para recém-nascido e ainda cortada ao meio para caber, e a pequena ainda estava virada dentro da incubadora. Aos 32 dias, ela pesava 1,220 kg. Ela havia ganhado pouco peso e estava com anemia, então, resolveram tranfundir. Chorei tanto que não consegui fazer a ordenha. Mas, 2 dias depois, quanta felicidade: tinha ganhado 290 gramas! Nesse dia, uma enfermeira, brincando comigo, me disse que até o fim de semana a Cecilia iria para a pediatria. E assim foi.
No dia 14 de janeiro de 2013, resolvi colocar no carro a bolsa dela que estava arrumada já havia uns 30 dias e as minhas coisas também, para ressentimento de mãe que funcionou. Foram 14 dias na pediatria aprendendo a cuidar daquele botão de flor. Só existia um problema: ela não sugava o peito. Mas, mesmo assim, após 47 dias divididos entre 7 dias de ventilação mecânica, 3 de CPAP, 3 de Hood, Canguru, choros e risos, tive a felicidade de ir para casa com minha filha.
Hoje ela está com 9 meses, pesando 8,200 kg, medindo 73 cm e sem nenhuma sequela, só risos e cheia de vontades. Hoje tenho certeza que as vitórias alcançadas foram bênçãos de Deus em nossas vidas, e qualquer dor, sofrimento ou tristeza passadas, foram apenas uma forma de nos deixar mais fortes e unidos em nome do amor que sentimos pela nossa Cecilia! Obrigada Deus por tudo. Agradeço também à Isabela e Isadora, minhas filhas que entenderam a minha ausência, a minha mãe que tantas vezes me deu forças para seguir, a minha irmã que me apoiou e, finalmente, a meu marido, que foi a base forte na minha vida, me dando forças e respeitando a minha dor, mesmo nos momentos em que eu achava que não iria aguentar tanta dor e sofrimento, lá estava ele sendo forte e me amparando. Amo vocês.”
Claudia, mãe da Cecilia
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