Prematuridade

Nutrição

Nutrição

Todos sabemos da importância da amamentação, da importância do leite materno para os recém-nascidos, que o melhor alimento para qualquer bebê é o leite materno da própria mãe, principalmente se o leite materno for oferecido diretamente ao seio. Certo?

Porém, quando se trata de bebês prematuros, o cenário pode ser mais desafiador. Em função da imaturidade do trato gastrointestinal dos prematurinhos e da falta de reflexos de sucção e deglutição, eles podem precisar receber suas primeiras calorias por via intravenosa.

Mas nada de desanimar, a amamentação do prematuro é possível sim!

Nutrição inicial

Quando ainda não conseguem sugar, os prematuros muito extremos recebem água com glicose (soro), e com o passar do tempo, vai-se acrescentando proteínas, gorduras, vitaminas e minerais aos fluidos que recebem através da veia, o que chamamos de "Nutrição Parenteral Total (NPT)".

Se eles já tiverem uma maior maturidade gastrointestinal, iniciam a alimentação através de uma sonda, um tubo flexível que é introduzido no nariz (nasogástrica) ou na boca (orogástrica) e chega ao estômago do bebê. Dessa forma, o leite materno (da própria mãe ou de doadoras) ou mesmo fórmulas infantis, na falta do leite humano, são oferecidos para o prematuro na UTI. Não se assuste com o volume inicial da dieta dele, pois como os próprios, ele geralmente é muito pequeno e oferecido em intervalos de 2 ou 3 horas. À medida que desenvolve os reflexos naturais de sucção e de deglutição, o bebê provavelmente iniciará a via oral com o aleitamento ou receberá alimentação por mamadeira.

Geralmente os primeiros ml's de dieta que seu bebê irá receber pela sonda será o seu colostro, aquele primeiro leite super rico em anticorpos, proteínas e calorias secretado nos primeiros 7-10 dias após o parto. Por isso a importância de seguir confiante na amamentação do seu prematuro e manter a esgota do leite materno conforme descrito nos parágrafos abaixo.

Imunoterapia com colostro

O uso do leite materno (colostro, transição e maduro) como imunoterapia para recém-nascidos tem sido associado a menor morbimortalidade neonatal e aumento do uso de leite materno na alta hospitalar. Trata-se da administração do colostro por via oral e orofaríngea para prematuros e pode ser iniciada nas primeiras horas de vida. São administradas pequenas doses de colostro na mucosa oral, o que poderá exercer efeito protetor sobre a membrana da mucosa. O objetivo principal da técnica não é nutricional, mas de estímulo da imunidade do bebê.

O leite da mãe prematura

O leite materno da mãe de prematuro que teve um bebê com 29 semanas é diferente da que teve com 31 semanas e ainda distinto da mãe que teve um bebê a termo, porém todos esses leites são adequados às necessidades da criança. O teor de proteína do leite prematuro, por exemplo, é menor porque o rim do bebê é imaturo e pode não conseguir excretar grande quantidade elevada desses nutrientes. No entanto, alguns estudos mostram que os prematuros tem, durante algum tempo, uma maior necessidade de proteínas, cálcio e sais minerais, e devem, portanto, receber algum tipo de aditivo, que é adiconado ao leite humano, e que fornece os nutrientes citados anteriormente, além de calorias extras ao bebê.

Nos casos em que a produção do leite materno da própria mãe torna-se insuficiente, recomenda-se a alimentação do bebê com leite humano proveniente de banco de leite humano. Apenas quando não for possível oferecer leite de banco, deve-se recorrer a fórmulas artificiais. Existem atualmente fórmulas lácteas especialmente concebidas para prematuros. Estes leites especiais são reforçados com calorias e nutrientes para que correspondam às exigências nutricionais no período de crescimento rápido desses bebês.

Outras fórmulas infantis utilizadas em UTI Neonatal são as anti-regurgitação (nos casos de refluxo exacerbado), hipoalergênicas (utilizadas preventivamente, na suspeita do risco de alergia alimentar), hidrolisadas e à base de aminoácidos livres (utilizadas no tratamento da alergia à proteína do leite de vaca) e fórmulas de partida (de 1o semestre).

Mantendo a produção de leite materno enquanto o bebê ainda não suga

O bebê nasceu prematuro! E agora?

Se a equipe do hospital indicar que você já pode amamentar seu filho, maravilha! "Peitos" à obra!

Mas se ele for muito prematuro ou ainda não estiver estável do ponto de vista de saúde, então pode levar um tempo até ele sugar ao seio. Mas não desanime!

Muitas dúvidas podem surgir:

  • Qual a melhor forma de amamentar meu prematuro?
  • Como tirar leite materno e como armazenar meu leite?
  • Como amamentar corretamente meu bebê?
  • Estou amamentando meu prematuro, é normal sentir dor ao amamentar?
  • Ainda terei leite materno quando o bebê puder sugar?
  • Existe uma dieta para a amamentação?

Bem, mesmo que o bebê não esteja com você no quarto da maternidade, e não haja perspectivas dele sugar o seio tão cedo, é preciso pensar logo de cara na amamentação, que vai ser essencial para que ele se desenvolva forte e protegido de doenças.

Extraindo leite materno

Seguindo a orientação da equipe de profissionais do hospital, o primeiro passo é ordenhar o colostro, aquele primeiro leite mais amarelado (pela presença de vitamina A) e rico em proteínas e anticorpos, que é excretado pelo seio nos primeiros dias após o parto. O ideal é que isso seja feito nas primeiras 24 horas após o parto.

A ordenha pode facilmente ser feita com as mãos (peça orientação profissional) ou com uma bombinha (manual ou elétrica). Não tenha vergonha de pedir ajuda, não é um processo automático. Pode ser que você só "pegue" o movimento olhando alguém fazer ou com alguém lhe ensinando.

Faça a extração do leite com uma frequência aproximada de 3/3 horas, de 6 a 8 vezes por dia. No começo, a quantidade de leite que sai é mínima, mas é assim mesmo! Olhar para uma foto do seu filho no momento da esgota pode ajudar na produção e ejeção de leite.

Tente não ficar mais de 6 horas sem tirar leite, há risco dele empedrar. E sempre que sentir que suas mamas estão ingurgitadas (bem cheias), realize a ordenha. Quanto mais regulares forem as ordenhas, maior será a produção.

Você verá que logo estará craque na operação e será frequentadora assídua do lactário ou banco de leite do hospital. Não se esqueça de beber muita água, no mínimo 2 litros por dia!

Com o passar dos dias, à medida em que desenvolve os reflexos naturais de sucção e de deglutição, o bebê fica apto a alimentar-se por via oral. Daí cabe à equipe da UTI Neonatal avaliar a viabilidade de a amamentação começar.

Mas uma coisa é certa: desde o nascimento do bebê, mantenha a ordenha do leite - quanto mais você ordenhar, mais leite vai produzir!

Importante: uma vez em casa e amamentando exclusivamente, evite o uso de mamadeiras e chupetas. Se precisar sair de casa, peça para alguém oferecer ao bebê o seu leite, utlizando um copinho (veja o vídeo de como fazer).

 

Dicas para extrair leite em casa:

  • Lave bem as mãos e mamas, prenda os cabelos, retire adornos, utilize roupas limpas e, se possível, use máscara.
  • Massageie a mama no sentido aréola-tórax para liberar os ductos, e em seguida, no sentido da saída do leite.
  • Para esterilizar os frascos onde o leite será armazenado é necessário fervê-los por no mínimo 15 minutos. Despreze os primeiros jatos de leite esgotados.
  • Pode-se acumular o leite extraído dentro de 12h no mesmo frasco, ou seja: esgota-se a 1a vez, anotando o horário, e coloca-se o frasco no congelador. Na próxima coleta, acrescenta-se o leite ordenhado por cima do volume já congelado e assim por diante, por um período máximo de 12h.

Validade do leite materno armazenado:

  • Freezer ou congelador: 15 dias
  • Geladeira: 12 horas
  • Pós-pasteurizado e congelado: 6 meses
  • Em temperatura ambiente: máximo 2 horas (ideal não passar de 30 minutos)

Amamentando o prematuro

Amamentar pode não ser a tarefa mais fácil do mundo, ainda mais tratando-se de um prematurinho. Mas SIM, é possível amamentar seu bebê que nasceu antes da hora! Aliás, os prematuros são os que mais se beneficiam do leite materno, pois lele ajuda a protegê-los contra doenças e infecções.

Quanto mais prematuro o bebê, maior é a chance de você não conseguir produzir leite logo de cara para suprir todas as necessidades dele. Isso já é esperado, portanto a culpa não é sua, e sim dos hormônios. Para a maioria desses pequenos, mamar no seio é um aprendizado lento e gradual: tudo vai depender da idade gestacional com que ele nasceu, do tamanho do bebê e de seu estado de saúde.

Mas todo esforço será recompensado; conheça as principais vantagens da amamentação:

Para a mãe:

  • O sangramento pós-parto diminui.
  • Reduzem as chances de desenvolver anemia, câncer de mama e de ovário, diabetes e infarto cardíaco.
  • A mulher que amamenta perde mais rápido o peso que ganhou na gravidez.
  • Favorece a relação afetiva com o bebê

Para o bebê:

  • Na amamentação, o bebê recebe os anticorpos da mãe para proteção contra diarreia e diversos tipos de infecções, principalmente as respiratórias.
  • O leite materno diminui as chances de o bebê desenvolver alergias, colesterol alto, diabetes e obesidade.
  • O aleitamento materno também ajuda a criança a desenvolver-se bem, fisicamente e emocionalmente.
  • É um excelente exercício para o desenvolvimento da face e da fala.
  • É importante para que a criança tenha dentes fortes e bonitos.
  • Contribui também para que o bebê tenha uma boa respiração.

Dicas para amamentar o prematuro

  • Pega correta: para evitar dor ao amamentar e fissuras nos seios, o bebê deve fazer a pega corretamente. Ele deve abocanhar boa parte da auréola, e não somente o bico do seio. A boquinha deve estar bem aberta, com o lábio inferior voltado para fora e o queixo encostado na sua pele. Monitore então a efetividade da sucção: covinhas e barulhos não são bons sinais. Quando a pega está correta, o leite sai em quantidade suficiente, o bebê engole tranqüilamente e a mãe não sente dor alguma. Peça ajuda à equipe da UTI.
  • Descanso: para que a produção de leite materno seja satisfatória e seja possível tirar leite frequentemente, a mãe precisa estar descansada, isso é comprovado cientificamente! Peça à equipe da UTI para avisá-la nos horários da alimentação do bebê e aproveite os intervalos para descansar.
  • Evite o empedramento: quando há produção excessiva de leite, pode ocorrer enrijecimento da mama (ingurgitamento mamário) que provoca dor e atrapalha a sucção do bebê. Para evitar, massageie as mamas com movimentos circulares e se necessário faça a ordenha manual para facilitar a pega do bebê.
  • Apoio da família: cerque-se de pessoas solícitas que não façam cobranças ou comparações e entendam que nesse momento você deve ficar disponível aos horários e exigências da alimentação do seu filho que está na UTI.
  • Cuidados com os seios: para evitar fissuras, passe um pouco do leite materno nos bicos após o aleitamento ou coleta de leite. Troque o sutiã quando estiver molhado e só lave a região dos mamilos com água, sem usar hidratantes, cremes ou outros produtos.
  • Sem muitos conselhos: prepare-se para ouvir dicas de todo mundo. "Seu leite é fraco", "Ele está com fome", "Passe logo para a mamadeira", "Faça essa dieta, é boa para a amentação!". Diante desse bombardeio, a dica é não dar ouvidos aos conselhos sem embasamentos de amigos e famiiares. Palpites errados são uns dos principais responsáveis pelo desmame precoce.

E mesmo que os obstáculos sejam muitos, e àrduos, toda iniciativa e esforços para que a amamentação do prematuro seja bem sucedida são extremamente válidos. Toda mãe e todo bebê têm o direito de ter a chance de vivenciar juntos esse milagre da natureza que é a amamentação. Sem pressa, sem pressão, sem medo, e sem culpa caso não dê certo (e às vezes não dá mesmo, o que não é o fim do mundo!).

Se o bebê tiver alta utilizando fórmula, aí vão algumas dicas:

  • Siga rigorosamente as instruções da lata, sempre fervendo por 5 minutos a água mineral para preparar as mamadeiras. Não esqueça de esterilizar as mamadeiras, bicos, arroelas e tampas fervendo-os por no mínimo 5 minutos.
  • Utilize uma peneira de malha fina para coar o leite já preparado, evitando assim que se acumulem grumos que possam entupir o bico da mamadeira ou até mesmo fazer com que o bebê se engasgue.
  • O ideal é que a mamadeira seja preparada imediatamente antes de ser oferecida. Se isto não for possível, deve-se deixar o leite preparado pronto por no máximo 12h na geladeira.
  • Evite oferecer a mamadeira muito quente, o ideal é temperatura corporal (aproximadamente 36ºC).
  • A evolução do volume e da freqüência das mamadas será orientada pelo pediatra.

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