Notícia original publicada em 11 de janeiro de 2015.
Exibido em 11 de janeiro de 2015 no Fantástico, da Rede Globo
[caption id="attachment_15715" align="alignright" width="300"] Energia de hospital em Osasco acabou na segunda-feira. Em seguida o gerador foi ligado, mas depois de cinco horas de uso parou. (Foto: Reprodução/Rede Globo)[/caption]
A pequena Maria Luiza tem menos de um mês de vida e já é uma guerreira. Ela nasceu no dia 13 de dezembro, prematura, com apenas seis meses. Por isso, ela ainda está no hospital, em Osasco, na grande São Paulo. Na segunda-feira (05), durante um apagão provocado por um problema simples, mas que levou quase dez horas para ser resolvido, parecia que o pior ia acontecer. Até que mãos salvadoras de médicos e enfermeiras apareceram para ajudar
O vídeo acima mostra a pequena Maria Luiza, de 29 dias de vida. As imagens foram gravadas nesta semana pela mãe dela, no dia em que a prematura ficou entre a vida e a morte. “Eu pedia: ‘filha fica comigo, não vai embora, calma, respira. Tudo vai dar certo’”, conta a mãe da Maria Luiza, Viviane Aparecida da Silva.
E deu. Maria Luiza sobreviveu graças a mão que aparece no vídeo e as mãos de outras cinco pessoas. “Quando a gente lembra já dá vontade de chorar”, diz a enfermeira Eloizia da Veiga.
O pesadelo começou na última segunda-feira (5). Maria Luiza estava com outras 21 crianças na UTI Neonatal de uma maternidade de alto risco em Osasco, Grande São Paulo. Eram 16h quando a energia acabou. Em seguida o gerador foi ligado, mas depois de cinco horas de uso parou. Segundo a Secretaria Municipal de Saúde houve uma falha no sistema, que leva o combustível para o motor.
O hospital ficou no escuro. Uma cirurgia e um parto foram realizados com a ajuda da luz de celulares. Na UTI começava um drama. "Esse recém-nascido tem 865 gramas. Está sem ventilação mecânica, porque sem energia não há como. A gente não sabe por quanto tempo ele vai se manter aquecido”, destaca uma das enfermeiras.
Maria Luiza e um menino de 15 dias eram os que mais precisavam de cuidados.
A sala da maternidade está desativada porque está sendo reformada. O hospital levou para lá os aparelhos, os equipamentos que ficam na UTI Neonatal para gente mostrar o que que aconteceu naquela noite. Duas médicas, quatro enfermeiras, entre elas a Aldmeyre e a Heloísa, trabalharam durante quatro horas e meia para salvar a vida dos bebês. O momento crítico foi quando um aparelho, o ventilador mecânico, que leva o oxigênio para a criança, parou de funcionar.
Confira aqui o vídeo com a reportagem.
Fantástico: Vocês tiveram que agir?
Audimeire Alves Maia, enfermeira: Isso, nós começamos a usar a ventilação por pressão.
Elas recorreram ao balão de ventilação, que precisa ser pressionado o tempo todo. "Enquanto uma das enfermeiras estava ainda fazendo o procedimento, outra ficava esperando o momento de assumir a vez", explica uma enfermeira.
A mãe acompanhava tudo. “Aquela escuridão, todos os aparelhos desligados, Já se passavam mais de três horas e a energia não voltava”, conta a mãe.
A iluminação vinha de uma lanterna movida a bateria. A incubadora, que aquece os prematuros, também parou de funcionar.
“No próprio forrinho do bebê, nós enrolamos ele, colocamos um aventalzinho. O bebê tinha que permanecer na temperatura de 36° a 36,7°”, conta uma das enfermeiras.
“Para o meu marido, que nunca tinha colocado a mão nela, eu falei: você tem a mão muito mais quente que a minha, coloca a mão nela”, diz Viviane.
Maria Luiza correu riscos, diz a pediatra Lilian Sadeck, vice-presidente do departamento de neonatologia da Sociedade de Pediatria de São Paulo, especializada em recém-nascidos. Ela poderia ter tido uma hipotermia - que é quando a temperatura do corpo cai demais. “Em um recém-nascido prematuro, ele é um fator que, associado a outros, pode levar ao óbito”, diz a pediatra.
Também é preciso muito cuidado ao usar o balão que leva oxigênio para a criança. Se o bombeamento não for na medida, o bebê pode receber mais ar do que o necessário. “Esse ar pode começar a comprimir o pulmão causando uma dificuldade de expandi-lo”, explica a pediatra.
Por volta da 1h30, os funcionários da companhia de energia apareceram para religar a luz. Demoraram dez horas para chegar e levaram 15 minutos para trocar um fusível, que é um dispositivo de proteção exclusivo da rede elétrica do hospital.
Várias pessoas já tinham ligado para pedir o conserto. O funcionário público Anderson Rodrigues de Mello foi um deles. Chegou a anotar os 11 protocolos de atendimento. “Falava que estava passando para a equipe de emergência, que ia vir com urgência”, conta.
A empresa de energia - Eletropaulo - verificou todos os protocolos do Anderson. Disse que em seis deles, a ligação caiu por parte da linha do cliente. Dois registros não estavam no nome de Anderson. E em apenas três, o alerta de falta de luz no hospital foi registrado, mas a atendente não comunicou ao supervisor.
“Não ter acionado um procedimento de chamar um supervisor para poder despachar a equipe, foi sim um equívoco na hora do atendimento”, diz Teresa Vernaglia, vice-presidente de Cliente e Negócios da Distribuição da Eletropaulo.
“O hospital tem culpa? Tem. A Eletropaulo tem? Tem. Já havia acontecido antes. Em dezembro, acabou a energia o gerador não entrou e ficou uma hora sem nada”, destaca Viviane.
“Esse gerador nosso é antigo. Ele foi instalado aqui no ano de 2000, mas nunca teve problemas relevantes”, diz o secretário de saúde de Osasco, José Amando Mota.
Depois do sufoco da segunda-feira (05), o hospital alugou um gerador reserva. Maria Luiza está bem. Segundo os médicos, ela não ficou com sequelas. Ainda não há previsão de alta. Mas na casa, já está quase tudo pronto para a chegada dela.
“Eu todos os dias falo para ela: cresce minha filha, cresce rapidinho para gente ir para casa. Seu quartinho esta lá e eu não vejo a hora dela deitar na cama, no meio dos dois e ficar lá. Eu não quero ir para o meu quarto eu não quero. Quero ficar aqui”, diz Viviane.
Fonte: G1