20 de Maio de 2014

Marina e João Felipe, dois presentes prematuros

“Era uma gravidez tranquila, não tinha nenhum sinal aparente de que eu e minha filha amada estávamos correndo um risco tão grande. Com 30 semanas de gestação, comecei a ficar bastante inchada, mas a médica que me acompanhava disse ser um inchaço normal da gravidez. No dia 20 de julho de 2009, amanheci completamente inchada, as mãos não fechavam, os olhos mal abriam... Sabia que alguma coisa não ia bem, que aquilo não era normal! Com dificuldade, me levantei e decidi que iria até o consultório da minha médica. Ela não estava, tinha ido viajar. Sem opção, fui para casa e deitei, sem nem cogitar a possibilidade de pressão alta, pois a minha era sempre muito baixa. A eclâmpsia era algo inimaginável para mim, sequer sabia o que era isso! O meu marido chegou para almoçar e me viu prostrada, resolveu pegar o aparelho de pressão por um instinto e, para o nosso desespero, estava 22x10. Saí do jeito que estava e fomos para a única maternidade da minha cidade.

Cheguei, fiz a minha ficha, fui para o pré-parto, passei pela médica do plantão que me examinou, viu os batimentos da minha bebê e simplesmente me orientou para deitar do lado esquerdo e me deixou em observação em uma ala da maternidade. Porém, acredite se quiser, não tomei nenhuma medicação para controlar a pressão, nenhuma! Às 16h30min, veio uma enfermeira com uma injeção de corticóide e as 17h30min tive a 1ª convulsão. A partir desse momento, comecei a receber a atenção necessária. Lembro de poucos momentos desse parto, mas me recordo de estar na mesa do centro cirúrgico de mão dada com uma médica e que pedi com todas as minhas forças para ela salvar a minha filha. Ela disse que faria o possível, mas que a prioridade era a minha vida. Apaguei mais uma vez, outra convulsão durante o parto.

Com 33 semanas, a minha filha nasceu, com Apgar 7/9, com 1,745 kg e 43 cm. Teve duas paradas respiratórias logo nos primeiros minutos de vida. Conseguiram fazer ela voltar a respirar com a graça de Deus! Eu fui desacordada para o CTI e minha princesinha miúda para UTI Neo que não tinha vaga para ela. Tão pequena, tão frágil... Ficou quase 24 horas em um berço envolto por plástico filme, até que a ambulância do bombeiro chegasse para que ela fosse transferida para outro hospital em que tinha uma incubadora esperando por ela.

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Eu não vi a minha filha quando nasceu, não vi nos dias seguintes, estávamos separadas por quilômetros de distância. Eu em Angra dos Reis e ela em Resende. Foram 5 angustiantes dias sem conhecer a minha filha, não conseguia acreditar plenamente nas notícias que o meu marido me contava, eu precisava ver a minha filha.

Tive alta na sexta-feira a tarde, e no sábado cedinho já estava na estrada para encontrar minha filha. Ainda sentia muitas dores da cesárea e um mal estar enorme por conta das medicaçãoes. Cheguei naquela UTI, recebi as orientações para poder entrar e fui direto na minha filha. Eu olhei pelo vidro da incubadora, tão pequenininha, cheia de fios monitorando o seu corpinho... por um segundo, eu pensei no pior. O medo me dominava e foi uma luta diária, até começar a ver a evolução dela e saber de outras histórias de sucesso. O meu coração se encheu de esperança e tirei forças de onde não tinha para estar com ela a todo momento. A minha filha recebeu alta 19 dias depois de nascida, com 2 kg, justo no Dia dos Pais! Melhor presente que o meu marido e toda a nossa família poderia receber.

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O 1º aninho foi de muitos cuidados. Eu demorei até achar a ''pediatra ideal'', mas encontrei! Fez muita fisioterapia e muita natação. Teve um pequeno atraso motor, que já foi corrigido, mas, em compensação, sempre foi muito inteligente e falante. Hoje, com 4 anos e 8 meses continua com o seu jeitinho falante e doce de ser. Uma menina linda, branquinha, com os olhinhos verdes brilhantes, cheia de vida e de saúde. Na escola se destaca, é muito inteligente, aprende as coisas com muita facilidade. É minha amiga, minha companheira inseparável, minha vida!

Depois disso tudo, eu jurei que não teria mais filhos. Foi um trauma muito grande e eu demorei bastante a superar isso tudo, não queria mesmo, ainda estava em um certo estado de choque. Mas os anos foram passando, o susto e o medo foram se diluindo e a maternidade gritava em mim! Eu queria outro filho.

Em maio de 2013, descobri que estava grávida e sabia que a partir daquele momento já estava correndo risco. Fiz dois pré-natais simultâneos, um em Angra com a Dra. Maria Carolina Deccache e outro no Rio de Janeiro, na Perinatal-Barra. Fui muito bem assistida pela Dra. Maria Carolina, que era quem estava mais próximo de mim. Ela fez de tudo, pediu todos os exames imagináveis, tomei todas as vitaminas. Ela foi muito mais que uma médica, foi um anjo que Deus reservou para cuidar de mim, porque eu precisava mais do que um médico, eu precisava de uma amiga, de um colo que me passasse segurança de vez em quando e ela foi tudo isso. Com muita paciência, ela SEMPRE acreditou sempre, sempre, sempre!

Com 31 semanas, a minha pressão começou a subir e comecei a tomar o Aldomet, fiz o Mapa e ele mostrou uns escapes. A Dra. Maria Carolina me orientou a ir para o Rio de Janeiro imediatamente e, a qualquer sinal, ir para emergência do hospital. E eu fiz isso todos os dias.

Na 5ª feira, dia 28 de novembro, eu já estava com a dose máxima do Aldomet e, mesmo assim, na 6ª, fiz 18x10 em repouso! Fui para a Perinatal de madrugada, e a médica do plantão me medicou e encaminhou para UTI Materna. Os médicos da UTI me colocaram no sulfato de magnésio e em dieta zero de imediato, além de outras medicações. Fiquei estável até a hora do parto. Minha médica ligou e disse que já estava indo para a Perinatal e que meu parto seria naquele dia, às 19 horas.

Apesar do susto, eu estava em um dos melhores hospitais do Brasil e isso me deu uma paz e uma calma primordiais naquele momento. Fui para o centro cirúrgico com muito medo, mas consciente. Eu queria ver e ouvir o meu filho, já que eu não estava acordada da outra vez. A pediatra conversou comigo minutos antes do parto e disse para eu não ficar preocupada se ele não chorasse logo que nascesse, que isso acontecia com alguns prematuros. Só sabia rezar e pedir a Deus que tudo corresse bem. Com 32 semanas, o meu filho saiu da minha barriga aos berros, surpreendendo todas as expectivas! Meu anjo guerreiro nasceu e eu pude beijá-lo e tocá-lo ainda todo sujinho. Foi a melhor sensação do mundo, eu precisava viver esse momento! Ele foi para UTI Neo e eu voltei para UTI Materna. Em 24 horas, ele já estava em ar ambiente e eu no quarto.

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Sua melhora era muito clara, eu já tinha experiência com bebê prematuro, tive medo lógico, mas acreditava que eram só mais uns graminhas e casa. Mas não foi tão fácil assim. Com 13 dias de vida, ele teve enterecolite. Cheguei na UTI 2 e fui olhar na prancheta quantos gramas ele havia engordado naquele dia, e, quando vi UTI 1 no lugar do peso, eu já sabia que alguma coisa tinha acontecido com meu filho. Fiquei desesperada, aos prantos, as pediatras tentavam em vão me acalmar...

Aos poucos, elas foram me falando que ele tinha evacuado com sangue várias vezes pela manhã, e que elas já sabiam que o intestino estava doente, mas que estavam rastreando todo o corpinho dele para saber se mais alguma outra parte do corpo também estava. Eu pensei no pior, em uma infecção generalizada, não conseguia assimilar bem a situação. Olhei o meu filho peladinho na incubadora, cheio de acessos, com PIC, tomando 2 antibióticos preventivamente, raio-x de 6 em 6 horas, ele tava pálido, tadinho...

Foi, sem sombra de dúvidas, a maior sensação de impotência que eu já senti. Ele chorava sem parar e eu chorava junto com ele. Eu não podia dar colo, não podia fazer nada! Só um carinho, rezar, conversar e cantar para ele... As pediatras me falaram o que era essa doença, suas possíveis complicações, elas não me pouparam de nada, falaram tudo. Os exames de sangue vieram todos normais, o raio-x cada vez mais mostrava a melhora do intestino dele e só ficávamos na expectativa da cultura do sangue, que era um tormento, mas, graças a Deus, fechou negativa. A equipe agiu muito rápido com o meu filho, começaram a medicação imediatamente e isso foi primordial para que o sofrimento do meu filho fosse menor. Sou eternamente grata a essas pessoas.

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Enfim, 7 dias de antibióticos, 9 em nutrição parenteral e 5 em dieta zero. Sua melhora era progressiva. Depois de 10 dias, ele voltou para a UTI 2, que é a UTI dos bebês que não precisam de tantos cuidados especiais como os bebês da UTI 1. Foi uma festa, para mim era quase que uma alta. O meu filho sem os acessos, sem a sonda, já podia mamar no peito a vontade. Passamos o Natal na Neo, mas o Ano Novo passamos em casa todos juntos! Ele teve alta no dia 29 de dezembro de 2013, com 2,020 kg. Está com 5 meses de muito amor e gostosura!”

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Carolina, mãe da Marina e do João Felipe

Responsabilidade do conteúdo por conta do autor, não reflete o posicionamento da ONG. Não nos responsabilizamos pela veracidade dos fatos.

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