Por Raquel do Carmos Santos para o Jornal da Unicamp
"Gestantes com quadro de doença periodontal (infecção na gengiva) têm risco 3,47 vezes maior de um parto prematuro e outras ocorrências perinatais.
Estudo da periodontista Marianna Vogt, do Cecom, Coordenadoria de Serviços Sociais da Unicamp, indica que as grávidas devem realizar tratamento odontológico adequado em caso de necessidade, preferencialmente durante o segundo trimestre da gravidez.
No Ambulatório de Odontologia do Hospital das Clínicas, a cirurgiã-dentista avaliou 334 mulheres com baixo risco gestacional atendidas pelo Centro de Atenção Integral da Saúde da Mulher (CAISM), acompanhando-as até o parto. Constatou que 97% das gestantes tinham gengivite (inflamação que acomete a gengiva) e 47% apresentavam periodontite de moderada a grave - esta infecção acomete a gengiva e outras estruturas que dão sustentação aos dentes. No final do estudo, observou-se relação da periodontite com o parto prematuro, baixo peso dos recém-nascidos e rompimento prematuro da bolsa.
Para melhor comprovar sua hipótese, Marianna Vogt realizou uma análise estatística multivariada, método que permite avaliar interferências na gestação como as do fumo, bebidas, drogas, hábitos alimentares, algumas doenças e outras variáveis. Além de identificar um risco de parto prematuro 3,47 vezes maior em gestantes com infecção periodontal, o estudo mostrou que o risco de nascimento de bebês com baixo peso aumenta 2,93 vezes. Em relação à amniorrexe prematura (rompimento da bolsa sem as contratações do útero), o risco sobe para 2,48 vezes.
A periodontista observa que a doença periodontal vem ganhando mais atenção dos profissionais a cada ano, não só por se tratar de doença infecciosa que reabsorve o osso ao redor dos dentes, com a conseqüente perda do dente, mas também porque várias pesquisas recentes apontam para a sua interferência importante na gravidez.
A pesquisa financiada pela Fapesp e intitulada Doença periodontal e resultados perinatais adversos em uma coorte de gestantes, foi orientada pelos professores Antônio Wilson Sallum (da Faculdade de Odontologia de Piracicaba) e José Guilherme Cecatti (da Faculdade de Ciências Médicas). A importância dessa dissertação está na indicação de que a relação entre a periodontite e o risco na gravidez existe e deve ser tratada como um problema de saúde pública.
Tabu
Na opinião de Marianna Vogt, persistem o tabu e a falta de informação quanto ao tratamento odontológico durante a gravidez. Ela admite a necessidade de alguns cuidados especiais, mas assegura que não há grandes contra-indicações. Por outro lado, as evidências da ligação direta da condição bucal com as ocorrências perinatais indesejáveis mereceriam mais atenção por parte dos dentistas e profissionais da saúde.
Na revisão bibliográfica feita pela pesquisadora, os números indicam um risco de 2 a 7 vezes maior de parto prematuro e de bebê de baixo peso em gestantes portadoras da doença periodontal. "É importante entender que a doença da mãe não passa para o bebê. O risco está na ocorrência de piores resultados no parto", explica.
Segundo ela, a prematuridade é uma das maiores causas de mortalidade e de problemas de saúde nos recém-nascidos. Além dos cuidados especiais que se deve ter com o prematuro, como a necessidade de incubadora, devem ser considerados outros comprometimentos na saúde geral do bebê, a exemplo de possíveis distúrbios neurológicos a curto e longo prazo e risco de doenças na fase adulta.
Diante dessas evidências, a periodontista pretende persistir no tema durante o doutorado, oferecendo tratamento às gestantes com infecção periodontal atendidas no Caism e HC. Espera, assim, ter condições de detalhar melhor a relação entre a doença e a gravidez, uma vez que estará tratando a infecção durante a gestação. "Pretendo trabalhar no tratamento periodontal das gestantes e verificar os beneficios disso em sua saúde geral e nos resultados dos partos, assim como em um programa preventivo e de manutenção da saúde bucal", afirma. Ela considera tal atendimento importante também para reduzir os custos operacionais dispensados com problemas de parto prematuro e de nascimento de bebês de baixo peso."
Fonte: Saúde em Movimento