A palestrante Dra. Denise Harrison, da Universidade de Ottawa (Canadá), vem ao Brasil na próxima semana para um ciclo de palestras sobre pesquisa científica. A pesquisadora ministrará duas conferências no Rio Grande do Sul intituladas "From little things, big things grow: From a single research question to a program of research", que em tradução livre significa "Das pequenas coisas, grandes coisas crescem: De uma simples questão de pesquisa a um programa de pesquisa". Ela vai abordar como é possível construir um programa de pesquisa a partir da elaboração de questões de pesquisa e como os estudos primários evoluem para estudos de Tradução do Conhecimento. No dia 4 de julho, terça-feira, às 9h, estará em Porto Alegre, no Auditório da Escola de Enfermagem da UFRGS, e na quinta-feira, dia 6, também às 9h, estará em Pelotas, no Auditório da Reitoria da UFPEL (Campus Anglo). A entrada é franca e os lugares são limitados. Participe!
Iniciativa do projeto Seja Doce com os Bebês
Denise Harrison é a líder e condutora das ações do projeto Seja Doce com os Bebês, iniciado no Canadá com seu grupo de pesquisa e aqui no Brasil conduzido por Mariana Bueno (USP), que pretende usar a mídia social para ajudar na redução da dor dos bebês prematuros. Conheça mais sobre o projeto aqui. No Rio Grande do Sul, a representante é a professora da UFPEL Ana Cláudia Vieira, que estuda a dor desde 2000 e realizou recentemente um estágio de pós-doutorado no Canadá. Ana conta que conheceu Denise através da Mariana, que por sua vez foi apresentada por Denise Gastaldo, professora em Toronto e que tem proporcionado uma rede de contatos para as enfermeiras brasileiras que desenvolveram seus estudos no país da América do Norte. Ela comenta ainda: "Quem reuniu todas nós foi a pesquisadora da Universidade de Toronto Bonnie Stevens. A primeira vez que fui ao Canadá para iniciar os estudos de dor, fui encontrar a Bonnie, criadora da escala PIPP (Perfil de Dor do Recém-nascido Prematuro), que foi atualizada e revisada recentemente. A Mariana Bueno também trabalha com ela e fez a validação da PIPP para o português do Brasil". Segundo Ana Cláudia, "temos uma capacidade de trabalho muito parecida e somos corajosas nessa luta para reduzir a dor das crianças, gostamos de trabalhar com os pais (eu sou Freiriana desde que nasci) e empoderá-los para cuidarem muito bem dos bebês. Somos entusiasmadas com o que fazemos e adoramos instigar os jovens estudantes para melhores práticas de cuidado em enfermagem neonatal e pediátrica. Enfim, amamos o que fazemos!".
Visão brasileira
Ana Cláudia conta que sempre trabalhou com os pais, desde o início da carreira como enfermeria pediátrica no Hospital da Criança Santo Antônio. Ela diz: "O meu jeito de cuidar é proteger a delicadeza da vida e isso significa manter os vínculos afetivos e promover o apoio às famílias nesses momentos em que estão muito fragilizados. E quando falo em família, eu me refiro aos avós, irmãos e tios. A educação das equipes no sentido amplo (pesquisa, cultura, sensibilidade, empatia), compromisso dos gestores em cumprir as leis (ECA) e promover uma cultura de cuidado às crianças e famílias são medidas que podem fazer com que os pais estejam mais presentes na UTIs Neonatais brasileiras".
Em relação a dor do recém-nascido, o divisor de águas nesse tema foi o estudo "Pain and its effects in the human neonate and fetus", de K. J. Anand, publicado em 1987. Desde então, pesquisadores canadenses, ingleses e australianos tem produzido um conhecimento fabuloso sobre todos os aspectos que envolvem o sistema nociceptivo em recém-nascidos pré-termo e as repercussões da dor sobre o cérebro em desenvolvimento. No Brasil, segundo a especialista, há grupos de pesquisa de excelência e serviços que se esforçam para promover a redução da dor, mas há muitas lacunas entre o conhecimento produzido e as práticas nos cenários clínicos, tanto em nível hospitalar quanto em atenção básica. A literatura atual é publicada majoritariamente na língua inglesa, assim como as diretrizes clínicas e isso é uma barreira para a adoção das recomendações internacionais (guidelines e protocolos). "Há excelentes instrumentos que foram validados, mas eles ainda estão mais presentes nos “nichos acadêmicos” e os profissionais da linha de frente carecem de informações, treinamento de como usá-los, há “modismos” em relação às escalas de dor e os pais ainda não participam do manejo, resultando em pouca efetividade e resultados que mostram que a dor é tratada de modo insuficiente ou inadequado", acrescenta.
Para Ana Cláudia, "o papel da equipe interdisciplinar quanto aos cuidados para prevenir e tratar a dor é fundamental o trabalho colaborativo, principalmente quando se trabalha com famílias e recém-nascidos." Por isso, é tão importante a troca de conhecimento e experiências em eventos como os da próxima semana.