Quase 76 mil mães e 500 mil bebês no mundo perdem suas vidas por causa da pré-eclâmpsia e distúrbios hipertensivos na gestação, todos os anos. É a causa de 25% das mortes maternas na América Latina e aparece entre 5 e 7% das grávidas brasileiras.
Vidas demais são perdidas ou seriamente afetadas por distúrbios hipertensivos da gestação, o que ressalta a importância da identificação dos sintomas e do tratamento rápido e eficaz por profissionais de saúde treinados.
A pré-eclâmpsia ocorre quando a grávida tem pressão arterial elevada (acima de 140/90 mmHg) a qualquer momento após a 20ª semana de gravidez, com desaparecimento até 12 semanas pós-parto. Além da pressão arterial elevada, outras complicações como excesso de proteína na urina e edema devem acontecer para se ter o diagnóstico de pré-eclâmpsia.
Além do mês de maio ser marcado pela mobilização internacional de conscientização da hipertensão, há dois anos o dia 22 de maio ficou conhecido como o Dia Mundial da Pré-eclâmpsia (World Preeclampsia Day). O objetivo é aumentar a conscientização sobre a doença, principalmente como uma complicação potencialmente letal da gravidez. A Fundação Europeia para o Cuidado dos Recém-nascidos (EFCNI), parceiros oficiais da ONG Prematuridade.com, lançou em maio uma campanha sobre a importância de identificar os riscos da pré-eclâmpsia no primeiro trimestre de gestação para verificar a necessidade de tratamento preventivo e evitar as consequências nas pacientes. Ao final desse texto, confira os apoiadores do movimento no material de divulgação, incluindo a ONG brasileira.
De acordo com Adriano Paião, médico obstetra no Hospital Ana Costa e Hospital São Lucas, de Santos – SP, diretor clínico da Afetus e especialista em cuidados materno-fetais e gestação de risco, explica que a pré-eclâmpsia está entre as principais causas de morte materna e de agravamentos e danos à vida e à saúde da mulher. Também é uma das principais causas de mortalidade fetal e neonatal por complicações relacionadas à doença, sendo a prematuridade uma das consequências da evolução desfavorável da pré-eclâmpsia.
Adriano também explica que “o rastreamento do risco para a doença, possível por meio da associação de dados clínicos, laboratoriais e ultrassonográficos, deveria ser o principal aliado na prevenção das complicações, orientando o profissional que assiste a gestante quanto às medidas de ação e cuidados, certamente impactando nos números desfavoráveis relacionados à doença, em especial em áreas de acesso mais restrito aos cuidados com a saúde da mulher e da gestante. A identificação do risco, antecipação de conduta e monitoramento materno e fetal são, com certeza, as melhores ferramentas para uma boa assistência obstétrica e melhores resultados perinatais”, finaliza.
Como consequência das ações de mobilização para conscientizar sobre os riscos da prematuridade, a Associação Brasileira de Pais e Familiares de Bebês Prematuros - ONG Prematuridade.com, também está engajada na redução das taxas de mortalidade materno-infantil relacionadas à pré-eclâmpsia.
Uma vez instalada, a pré-eclâmpsia aumenta o risco de parto prematuro induzido, já que a retirada da placenta, ou seja, o nascimento do bebê, tende a baixar a pressão arterial da mãe. Partos prematuros induzidos respondem por 20% de todas as hospitalizações de recém-nascidos para tratamento intensivo neonatal.
Para as mães, as complicações da pré-eclâmpsia são fortemente associadas com o futuro desenvolvimento de doenças debilitadoras como problemas cardiovasculares, diabetes e insuficiência renal.
O aumento da pressão sanguínea diagnosticado durante a gestação em mulheres que nunca haviam antes demonstrado o problema é classificado como Doença Hipertensiva Específica da Gestação (DHEG).
Não existe uma única causa. Há o consenso de que a condição é resultado, dentre outras coisas, da má adaptação do organismo materno a sua nova condição. Embora o começo do problema esteja na formação da placenta, os principais agravantes da hipertensão são mesmo alguns hábitos maternos. Excesso de sal na alimentação, sedentarismo e principalmente consumo de álcool e cigarro, que aumentam o risco de doenças arteriais e, durante a gravidez, causam malformações do feto e elevam as chances de parto prematuro.
No Brasil, aproximadamente 35% da população sofre de hipertensão arterial, segundo dados do Ministério da Saúde, mas metade nem sabe disso. Quem já era hipertensa antes da gravidez deve, junto com o cardiologista e o ginecologista, estudar soluções para controlar o problema durante a gestação. Não há como diagnosticar a DHEG antes da gestação, claro. Mas alguns cuidados básicos podem ajudar a controlar a pressão arterial antes e durante a gravidez.
A mulher deve estar constantemente vigilante sobre sua pressão arterial. Cheque-a sempre que achar conveniente, siga uma dieta equilibrada e permaneça na faixa de peso adequada. Converse com o obstetra e, se preciso, faça acompanhamento com nutricionista e cardiologista.
Raquel Azevedo Silva, voluntária da ONG Prematuridade.com e atendente de farmácia de 36 anos, sabe bem como a pré-eclâmpsia pode afetar a gravidez e a própria saúde de mãe e filho. Na vigésima semana de gestação começaram as alterações da pressão arterial. Os medicamentos não deram resultado e ela lembra que “numa madrugada, muito inchada, sem nem conseguir abrir os olhos, fui até um atendimento de emergência. Imediatamente fui internada. Desenvolvi uma complicação da pré-eclâmpsia o que exigiu uma cesárea de emergência com 27 semanas de gravidez. Paula nasceu com 790 gramas e 32 centímetros, prematuridade extrema”. Por conta disso, a bebê passou por cirurgias nos intestinos e para correção da visão. Os primeiros seis meses de vida de Paulinha foram no hospital.
“Após a cesárea, só depois de uma semana eu consegui levantar da cama para ver a Paula na UTI neonatal. Fiquei 15 dias internada, cheguei a ir para casa, mas tive que voltar para mais 15 dias de internação por causa das complicações. Foi muito difícil, mas hoje estamos ótimas”, comemora Raquel.