21 de Agosto de 2012

Histórias Reais | A pequena Júlia: uma valente de 670g


Vinte e nove semanas, 670 gramas, 118 dias de UTI, 2/3 do intestino removido... e hoje essa princesa de 6 aninhos, linda e saudável. Uma vitória triunfal da VIDA sobre as estatísticas e probabilidades da medicina...

Lígia, mais uma vez te agradeço muito por compartilhar a história da tua pequena gourmet conosco. Desejo muita saúde pra ela por toda vida! Beijos pra vocês.



"Há 6 anos atrás, os meses de junho e julho foram os mais longos da minha vida.

Eu estava grávida de 21 semanas quando, num exame de rotina, foi descoberto que as artérias que levam sangue para o cordão estavam obstruídas (uma total e outra parcialmente).

Os médicos me mandaram para casa esperar o aborto.

Meu marido tentou me consolar dizendo: vamos fazer outra Júlia. Eu só respondi: só existe uma Júlia e ela está na minha barriga. Se vier outra, pense num nome diferente.

Com 29 semanas, pesando 670g, a minha menina nasceu no dia 29 de julho.

Mesmo na incubadora, com os olhinhos vendados e alguns fios pendurados, eu achei ela o bebê mais lindo do mundo. Quando a colocaram no meu peito para fazer canguru pela primeira vez, eu senti que era justamente ela a mesma pessoinha que esteve na minha barriga.



Depois de 118 dias na UTI Neonatal, 2 cirurgias de intestino com extração de ⅔ do mesmo por causa de um volvo e enterocolite, ela estava pronta para ir para casa, onde os cuidados com o intestino continuaram até ela se alimentar perfeitamente.

Aos 2 anos de idade já comia absolutamente tudo, sem qualquer restrição. Para comemorar, nessa mesma época eu e meu marido levamos ela para uma viagem pela França e Suíça durante 25 dias, onde provou as melhores comidas e se revelou uma gourmand como nós dois.

Por saber da importância da alimentação no desenvolvimento dela, sempre fomos insistentes em promover uma alimentação rica, saudável, variada e saborosa. Deu tão certo que hoje ela nos acompanha em todos os prazeres da mesa. Sempre de forma saudável. Ela virou um exemplo de boa alimentação para mim, que sou viciada em chocolate e doces - que não atraem ela de jeito algum, porque ela nunca experimentou antes dos 2 anos, durante a formação do paladar e dos hábitos alimentares.


Hoje ela tem seis anos e é uma garotinha perfeita, formidável em todos os sentidos.
Daqueles dias intermináveis na UTI, posso dizer algumas coisas:

• A generosidade e as boas palavras das pessoas tem um efeito inacreditável sobre os pais e, consequentemente, sobre o bebê. Quando encontrar pais nessa situação, não sinta pena, mas admiração porque são verdadeiros guerreiros, prontos para ir até o fim para tudo dar certo.

• As mães nem sempre são atendidas como deveriam. Mesmo no hospital onde estive, o suporte psicológico mais forte não veio da psicóloga, mas de uma médica que num determinado momento percebeu minhas forças se esvaindo. A dica dela foi que eu fizesse bolos em casa para me distrair. Depois de fazer muitos bolos, percebi que isso me ajudava realmente. Até porque eu não conseguia mais, ver TV, conversar qualquer assunto que não fosse meu bebê.

• A solidariedade entre os pais na UTI oferece o apoio que nem a família consegue dar. Quem não está lá dentro não tem como imaginar o sofrimento e a angústia dos pais. Mesmo assim, muitos deles ainda conseguem se mostrar otimistas, bem-humorados. Algo que indiretamente ajuda o bebê aberto a sentimentos.

• Minha filha reconhecia minha voz com 30 semanas, ou um mês de vida fora da barriga. Quando me ouvia, franzia a testa até eu chegar pertinho dela.


• A presença do pai é fundamental para a mãe e o bebê. Com a mãe, ele precisa ter paciência principalmente por causa do frágil estado emocional e mental (fiquei burra e confusa por um bom tempo). Com o bebê, é importante que ele também crie vínculos por meio do canguru, do toque e da voz (minha filha é louca pelo pai e sabe que o primeiro banho foi dado por ele).

• É importantíssimo compreender, respeitar e sentir carinho pela equipe que cuida do bebê. Só assim a mãe consegue dormir tranquila em casa e ter jornadas menores no hospital. Não adianta a mãe se esgotar porque não contribui em nada, muito pelo contrário. Nesse momento, ela não pode ficar doente.

• Dar de mamar ou tirar o leite no banco de leite ajuda a mãe a fortalecer o vínculo com o bebê. Mesmo sem minha filha aceitar meu leite, eu ia religiosamente fazer a coleta 3 vezes ao dia. No final, doei mais de 100 litros para outros bebês. Até hoje tenho a sensação que amamentei, porque eu tinha cheirinho de leite o tempo todo.

• Minha filha não tem traumas daquela época. Mas eu fiquei dois anos num estado de apreensão e medo constantes, até que o desenvolvimento dela permitiu uma vida totalmente normal.

• É inevitável comparações de peso e tamanho com outros bebês da mesma idade. Com cerca de um ano, quando minha filha começou a falar e caminhar, isso passou.

• Durante todo o tempo da UTI eu não conseguia ver outras grávidas sem sentir falta da “minha barriga”. Sentia uma certa inveja também, mesmo lutando contra isso. Por outro lado, eu não sentia pena de mim, nem me culpava de nada.

Aprendi coisas demais com essa experiência toda. Hoje eu me sinto mais humana e mais feliz do que em qualquer outro momento da minha vida. Agora, eu sei que estar vivo e poder levar uma vida normal é um milagre que se renova a cada instante, a cada sorriso da Júlia."

Lígia, mãe da Júlia.



Responsabilidade do conteúdo por conta do autor, não reflete o posicionamento da ONG. Não nos responsabilizamos pela veracidade dos fatos.

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