09 de Dezembro de 2013
Giovanna, um presente de Deus
“Meu nome é Aline Henriques e tenho 28 anos. A minha gravidez foi muito planejada e até a 26º semana de gestação estava tudo muito bem. Não senti nada, nem enjoo eu tive. Mas, na consulta de rotina do pré-natal, tivemos uma surpresa. Estava tudo ok com meus exames, mas quando a minha obstetra foi aferir a minha pressão, como fazia em todas as consultas, ela estava 16x10. Ela pediu imediatamente que o meu marido me levasse ao hospital e que eu fizesse o pré-natal com ela e no Alto Risco da maternidade da minha cidade. Disse que podia não ser nada, mas era melhor ir ao hospital, pois lá eles teriam mais recursos do que ela no consultório. E assim fizemos. Saímos de lá e fomos ao hospital. A pressão já tinha regularizado, mas o médico que me atendeu receitou um remédio para a pressão que eu tomaria 2 vezes por dia, de 12 em 12h.
Uma semana depois, a minha pressão subiu novamente e voltei ao hospital. O médico aumentou a dose do remédio para 3x por dia, de 8 em 8h. A minha consulta no Alto Risco estava marcada para a semana seguinte e o médico me deu um atestado para ficar de repouso. No dia da consulta, a médica olhou todos os meus exames e estava tudo bem, a pressão também estava normal. Perguntei se eu podia voltar a trabalhar e ela disse que dependeria da minha profissão. Como sou professora e trabalhava em uma comunidade difícil, ela achou melhor me afastar até o parto e me deu 60 dias de atestado.
O meu marido trabalha de madrugada, então passo a noite sozinha. Uma noite acordei às 3 da manhã para ir ao banheiro e senti que tinha alguma coisa errada. Acendi a luz e vi que o vaso sanitário estava cheio de sangue, assim como a minha calcinha. Liguei desesperada para a minha irmã, que mora perto da minha casa, e ela me levou ao hospital. A médica fez o exame de toque e disse que estava tudo normal, mas pediu um ultrassom para ver o que tinha causado o sangramento. Como era uma sexta-feira, não consegui vaga para fazer o exame no sábado, apenas na segunda. Passei o fim de semana apreensiva.
Na segunda-feira, fui fazer o ultra e o médico disse que estava tudo bem. Tive uma triste surpresa. Liguei para a minha obstetra, expliquei o que tinha acontecido, disse que tinha feito o ultrassom e queria que ela desse uma olhada. A secretária disse que ela só atendia gestante na sexta. Como eu esperaria até lá para saber o que tinha acontecido? Então, fui para o SUS e a médica que me atendeu disse que pode ter sido da pressão alta, que podia ter rompido um vasinho, mas que era para eu não me preocupar e ficar de repouso absoluto. Fiquei mais aliviada.
No sábado seguinte, estava em casa com o meu esposo, pois ele estava de folga nesse dia. Pedi que ele fosse comprar um lanche para nós e fiquei em casa. Senti uma dor no pescoço, como um torcicolo. Achei que fosse por eu estar deitada no sofá. Mudei de posição e, pouco depois, ele chegou com o lanche. Antes de comer, pedi que ele aferisse a minha pressão. A minha irmã é enfermeira e nos emprestou o aparelho de pressão dela, pois eu tinha que fazer um mapeamento da pressão todos os dias, 3 vezes por dia. A minha pressão estava 20x12. Ele pediu que eu deitasse um pouco. Depois de alguns minutos, olhamos novamente e estava 18x10. Resolvemos ir ao hospital. Cheguei lá e estava 17x10. A médica me medicou e me deixou em observação. A pressão baixou para 14x8 e ela me liberou.
Às 2h30min da manhã, acordei com uma dor de cabeça insuportável. Chamei o meu marido, ele olhou a pressão e estava 17x10 de novo. Ele falou que era pra eu arrumar uma malinha, pois a médica já tinha falado que se a pressão subisse de novo, ela iria me internar. Cheguei ao hospital e ela resolveu de fato me internar. No domingo, comecei a tomar as injeções de corticóide para fortalecer o pulmãozinho da minha filha. A médica que estava de plantão na segunda disse que eu não teria previsão de alta, que eu poderia ficar internada até o fim da gestação. Eu estava com 32 semanas. Na segunda à noite, começaram com bomba de infusão com sulfato de magnésio.
Na terça de manhã, veio mais uma surpresa. O médico de plantão entrou no quarto e disse que eu estava tomando muito remédio (o que eu já tomava aumentou para 6 em 6 h, estava tomando um outro e o sulfato de magnésio), que a minha pressão não abaixava e essa carga excessiva de remédio podia prejudicar o meu bebê. Então, eles decidiram que o melhor seria fazer uma cesárea de emergência.
Às 9h45min do dia 28 de maio de 2013, a minha filha nasceu, pesando 1,295 kg e 38cm. Ela nasceu chorando, ouvi seu chorinho, bem baixinho. Não pude vê-la, porque saíram com ela na incubadora direto pra UTI Neo. Fui vê-la no dia seguinte, e tomei um susto: tão pequenininha, tão magrinha, nunca tinha visto um bebê assim. Graças à Deus, ela nasceu bem, seu índice Apgar foi 9/10, ficou na fototerapia e alguns dias no CPAP. Depois foi para o Capacete de Oxigenação e, mais tarde, ficou só com a sonda de alimentação.
Por consideração, liguei para a obstetra e avisei que a Giovanna havia nascido. Até hoje espero uma ligação dela para saber como a minha filha se recuperou. Ela apenas me disse ao telefone: “Como assim nasceu?”. Expliquei o que havia acontecido e pronto, nunca mais ouvi falar da fulana.
Quando tive alta e voltei para casa, comecei a pesquisar tudo sobre bebês prematuros. Li diversos artigos, entrei em vários sites e fóruns, pois nunca tinha vivenciado essa situação e não sabia nada sobre prematuros.
Foi uma emoção muito grande, depois de 4 dias, finalmente poder tocar minha filha. Com 15 dias, pude tê-la em meus braços pela primeira vez. Os médicos diziam que ela estava fazendo do hospital um spa, que não tinha nada, estava lá só para engordar.
Depois de 28 dias, cheguei para visitá-la. A UTI Neo tem uma janela de vidro por onde nós olhamos o bebê. A Giovanna estava bem pertinho dessa janela. Quando cheguei perto, vi que a incubadora dela estava vazia. Sinalizei para a enfermeira e ela me disse que ela tinha saído e ido para a UI (unidade intermediária). Fiquei super feliz, mas ainda estava na incubadora. Quando ela fez 1 mês, nos deu um grande presente: saiu da sonda e já mamava no copinho. No dia 4 de julho, dia do aniversário do meu esposo, outro presente. A enfermeira pediu que eu ficasse depois da visita para amamentá-la. Comecei a ir em todos os horários das mamadas para amamentar. Antes ia só pela manhã e à tarde para deixar o leite e visitá-la.
Sempre que a visitávamos, conversávamos com ela, falava do quartinho, dos presentes que ganhou, as coisas que estávamos preparando para ela aqui fora e, acima de tudo, sempre que chegávamos perto da incubadora, nós colocávamos as mãos nela e rezávamos juntos pedindo a Deus para abençoá-la.
Ela já estava no bercinho. Então, arrumei tudo para ir para participar do Projeto Canguru do hospital e ficar com a minha filha, mas não pude. Ela teve uma recaída, não pude amamentá-la e ela voltou para a incubadora. À noite, quando fomos para a visita, a médica nos chamou para conversar e disse que ela teria que voltar para a UTI, pois ela estava muita cansadinha. Eles tinham feito exames e não acharam nada, mas era melhor colocá-la no antibiótico.
O meu mundo desabou. Estava tudo bem, já estávamos planejando a alta e aí ela retrocedeu e voltou para o capacete de oxigenação e para a sonda. Foi muito difícil vê-la voltando para a UTI, parecia que estávamos começando tudo de novo. Mas os médicos nos diziam que ela estava evoluindo bem e que nos exames não aparecia nada. Um domingo, cheguei para a visita e atrasou mais de meia hora. Sabemos que quando estão fazendo algum procedimento eles não liberam a visita. Quando liberaram, a enfermeira que estava me ajudando a vestir o avental, disse que a visita tinha atrasado por causa da minha menina. Perguntei se não era nada grave e ela disse que teriam que transfundí-la, para dar uma forcinha a ela. Para mim, acabou naquele momento. Já entrei chorando, e, quando o meu marido entrou, não entendeu nada. O médico veio conversar com a gente e disse que ela estava com anemia e que precisaria tomar uma bolsa de sangue, pois com remédios não adiantaria. Fiquei mais calma, assim. Os dias foram passando. O antibiótico da minha filha terminaria no sábado, completaria os 10 dias previstos e, como disseram que não acharam nada, tirariam a Giovanna do antibiótico.
No domingo de manhã, cheguei ao hospital para ordenhar e passei pela janelinha da UTI. Vi que a minha filha ainda estava ligada a bomba de infusão. Aquilo foi um desespero. Queria saber porquê ela ainda continuava na bomba, será que tinha piorado? Teria que continuar com o antibiótico? Pedi para falar com a médica de plantão e ela mandou me avisar que só conversaria comigo na presença da psicóloga. Aí que entrei em desesperei mesmo! Fiquei contando os minutos para chegar a hora da visita e poder vê-la de perto.
Quando cheguei para a visita, ela já não tinha mais nada e, finalmente, depois de 10 longos dias, pude ter a minha filha novamente em meus braços. Ela se virou em direção ao meu peito e começou a abrir a boquinha. Comentei com a enfermeira e ela disse que pediria ao médico para que eu pudesse amamentar. Ele autorizou e ela perguntou se eu não me importava de amamentar ali na UTI. Eu disse que lógico que não e pude amamentar a minha filha novamente. Quando o médico chegou para conversar conosco, nos disse que ela estava ótima e que teria alta no dia seguinte ou no posterior. Fiquei muito ansiosa, mas não me ligaram para avisar que ela teria alta e a alta só sai pela manhã, que é o horário que a médica responsável pela UTI está no hospital. Já sem esperanças, fui ao hospital para ordenhar o leite. O meu marido sempre me acompanhava. Quando fui entregar o leite, veio a surpresa: a médica passou e me disse que estava assinando a alta da minha filha. Que felicidade!
Como o médico já tinha me adiantado no dia anterior, eu já tinha deixado no carro a malinha com as roupinhas dela e, então, depois de 55 dias internada, a minha filha veio para casa no dia 22 de julho de 2013.
Hoje, ela está super bem, engordando muito e, a todos os médicos que levamos para as consultas de rotina de prematuro, a fala de todos é a mesma: que ela está ótima e que não tem nada. Agradeço muito à Deus, que me deu força para suportar essa fase tão difícil e a Santa Rita de Cássia que nunca me desamparou, intercedendo por mim e por minha filha junto à Deus. Agradeço também ao meu marido, que mesmo cansado do trabalho, não deixava de ir ao hospital. Ele ia comigo pela manhã para me ajudar a ordenhar o leite e à tarde para a visita. Agradeço também aos meus pais e à minha irmã que estavam ao meu lado me dando força.”
Aline, mãe da Giovanna
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