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22 de Setembro de 2013
Flávio Jorge: um milagre da vida
“Bom, foi difícil escrever esse pequeno resumo sobre o nascimento do meu bebê. Já tentei ser forte para não chorar, mas não consigo. O que passamos marcou para sempre as nossas vidas. Meu nome é Luma Guimarães. O nome do meu guerreirinho é Flávio Jorge, que nasceu aos 6 meses de gestação, pesando 1 kg, chorou na hora que nasceu e teve nota Apgar 8. Uma nota ótima para um prematuro extremo. Aqui começa a minha história.
Sempre tive vontade de ser mãe. Quando soube que estava grávida, eu e meu marido ficamos super felizes com a notícia e fizemos muito planos. Corria tudo normal na minha gravidez até o 5º mês, exames e ultrassons, tudo estava certo. Até que, quando chegou o mês de junho e fui fazer o exame de rotina, acusou infecção urinária, então, passei a tomar a medicação cefalexin. Até então tudo certo, pois tinha lido na internet que muitas grávidas sofriam disso e que só tinha que me cuidar.
Mas percebi que meus pés estavam inchados e achei estranho. Perguntei a uma amiga se ela, quando esteve grávida, também tinha ficado assim e ela disse que só no final da gravidez. Foi aí que eu fiquei preocupada, pois sabia que tinha algo errado. Fui até minha médica urgente. Descobri que estava com pressão alta (eu sou bem magra e nunca tinha tido problemas de pressão, mas meu pai é hipertenso e creio que isso influenciou), então a ginecologista me passou metildopa de 12 em 12h. Recomendou monitorar a pressão, cortar o sódio da comida, parar de trabalhar e ficar em repouso absoluto. Mas nada da pressão baixar, pelo contrário, ela só subia.
Na outra semana, fui à médica e ela relatou que estava com pré-eclampsia, que a situação era muito grave. Disse que eu e o bebê corríamos perigo de vida e que, se a pressão não parasse de subir, ia ter q fazer o parto e seria um caso de prematuro extremo, pois só tinha 6 meses de gravidez. Concedeu-me 15 dias de licença, metildopa de 6 em 6h, repouso absoluto e zero de sódio.
Bom, 4 dias se passaram eu passei muito mal. Fiquei sem enxergar durante 24 horas, tive convulsão, muita dor na cabeça, e passei 1 noite internada na UTI em observação. No outro dia, 30/06, o médico plantonista veio falar comigo e, graças a Deus, já o enxergava. Ele me falou que iria fazer o parto de imediato, pensando na minha vida e não do bebê (como doeu escutar aquilo!). Pois bem, só lembro de me levarem para a sala de cirurgia, ainda vi meu marido e meus pais e depois mais nada! Levei anestesia geral e só acordei no outro dia ligada a vários aparelhos, mas já estava no quarto do hospital.
Passei 8 dias internadas sob constantes avaliações e medicação. Eu só queria ver o meu filho, mas só pude vê-lo depois de 3 dias de nascido. Isso foi uma tortura. Emocionei-me muito quando o vi tão pequenininho, ligado a vários aparelhos, mas tão esperto, sempre mexendo as perninhas. O Flávio Jorge passou 7 dias entubado, ainda não recebia alimentação por sonda, pois nesse período ficaram coletando o mecônio dele até ele poder se alimentar. Recebia, também, uma nutrição pela cabeça chamada nutrição enteral. Depois, ele passou para o CPAP e ficou uns 21 dias. Passou a mamar 1ml de 3 em 3h e depois só foi aumentando.
Eu passava o dia todo no hospital, numa rotina que só nós, mãezinhas, sabemos como é. Você chega de manhã cedo e só sai à noite. Passava o dia todo sentada numa poltrona, almoçava no hospital, vivi essa rotina durante o período em que ele ficou internado. E sempre ordenhando. No começo, era muito difícil tirar leite, mas depois parece que você fica tão acostumada, que tudo fica mais prático. Meu marido estava sempre comigo e visitava nosso bebezinho.
Quando íamos visitá-lo na UTI dos bebês de alto risco, sempre com todo aquele protocolo, nós olhávamos para ele e para o aparelho, era automático, sempre de olho para ver se ele não estava saturando. Ou então, quando caía a saturação, a gente mexia com ele para voltar a respirar. Era cada susto quando aquele aparelho apitava! Mas a gente sempre conversava com ele, cantava e brincava, e eu sempre dizia que mamãe e papai estavam com ele e que logo ele iria sair de lá.
Um dia, ele teve que fazer a primeira ultrassom na cabecinha e na barriguinha, e ele ainda estava no CPAP. Foi ali que eu me impressionei com ele, com a garra que ele tinha de viver. Ele chorou muito, ficou muito brabo, vermelho, se mexia todo, mesmo com o aparelho conectado. Flávio teve que a fazer a primeira transfusão de sangue. É difícil para nós, pais, vermos o filho passar por isso, mas fez tão bem a ele, que ele saiu do CPAP e foi para o HOOD. Que vitória! Rezei muito para ele agüentar firme e não voltar ao CPAP e ele conseguiu! Mas pensei em um menino agoniado com aquele capacete. Rsrsrs
Passaram-se 3 dias e a doutora resolveu passar outra transfusão de sangue para ver se ele saía do HOOD e ficava somente no O2 Circulante. E ele conseguiu, ficou tão bem o nosso bebê! Com isso, ele já tinha quase 1,500kg e eu pude carregá-lo pela primeira vez. Quanta emoção! Não sabia carregar, mas já estava valendo a tentativa.
Depois que ele completou 1,500kg, tivemos a boa notícia, que ele iria para a UTI dos bebês de médio risco, e isso significava que eu poderia passar o dia mais próxima dele. As mamadas eram de 3 em 3h e, nesse tempo, ele ficou exclusivo para aprender a sugar. Não tomava mais nenhum antibiótico, somente os remédios para refluxo, anemia e polivitamínico. Eu pensei que seria fácil fazê-lo aprender a mamar, só que, como ele era muito pequenino, tinha que ter calma. Quando a fono vinha tentar fazer ele pegar no meu peito, às vezes era eu que não tinha jeito ou ele que estava muito zangado. A fono tentou fazer copinho, mas ele não conseguiu. Logo no início se engasgou, mas todos me diziam que eu deveria ter calma.
Nesse tempo se passaram 3 semanas, eu via as mãezinhas saindo com seus bebês e pensava quando seria a nossa vez. É uma adrenalina! Você tem que ter o psicológico muito forte para agüentar toda essa situação. Mas eu tinha uma certeza muito grande: eu sabia que iria passar, que aqueles dias demorados iriam ficar no passado e que logo estaríamos com nosso bebê em casa. A primeira vez que ele mamou de verdade foi uma alegria imensa, foram 15 minutos direto. Até doeu e feriu o meu peito, mas a felicidade justificava tudo. Teve um dia que eu, tentando fazê-lo mamar, não conseguia e fiquei tão frustrada que saí da UTI chorando, chorava sozinha almoçando. Mas eu pedi muito que Deus me abençoasse e me concedesse a glória de amamentar o meu filho, porque sabia que isso iria salvar a sua vida. E consegui, meio sem jeito, mas não desisti dele.
No dia 27/08, tivemos outra boa notícia. Como ele estava internado na UTI só para sugar, ele iria para um apartamento com outro bebê, até ele ter alta da fonoaudióloga. Nesses últimos dias, fiquei mais tempo ao seu lado, mas me sentia agoniada, não agüentava mais aquele ambiente, só queria tirar o nosso bebê de lá e o levarmos para nossa casa. Enquanto isso, meu marido já corria em casa com a reforma e os preparativos para recebê-lo. Quando chegou 29/08, a fono nos deu alta, finalmente! Saiu um peso de nossas costas! Mas ainda faltava a alta da Coordenadora da UTI.
No dia 31/08/12, depois de 62 dias internados, finalmente tivemos alta! O Flávio Jorge saiu com peso de 2,035kg e 44cm. Vitória do nosso guerreirinho! Foi tão emocionante poder levar a bolsa da maternidade e poder vestir, pela primeira vez, uma roupinha nele. Ele ia sair de manhã, mas só saiu à tarde, mas saiu! E fomos sentindo uma alegria enorme, uma etapa tinha se passado. Agora seria muito melhor com ele em casa.
Contratamos a enfermeira da UTI para nos orientar em casa e passamos a primeira semana com a ajuda da minha cunhada, até nos adaptarmos. Depois disso, eu me garantia sozinha. Passei tanto tempo longe dele que, naquele momento, só queria eu e meu marido por perto. Também passamos muitos meses sem sair de casa, recebíamos visita dos nossos pais e irmãos, vivíamos indo aos médicos para fazer acompanhamento. Mas, graças a Deus, tudo certo. A retinopatia da prematuridade chegou ao nível 1 sem ter que fazer nenhuma intervenção e o seu desenvolvimento estava condizente com a sua idade corrigida, e ele sempre muito esperto. Mamava no peito e na chuquinha também.
A pedido da pediatra, restringimos as visitas. Muitas pessoas ficaram com raiva da gente, mas isso fez um bem tão grande a ele. Não teve nada de intercorrência durante os primeiros 4 meses que esteve em casa. Não fomos a aniversários, festas, nada! Depois que ele começou a fazer a fisioterapia em casa, aí que seu desenvolvimento avançou e muito.
Os meses foram passando e ele começou a virar, sentar, engatinhar e agora já ensaia Para andar. Graças a Deus! Uma benção! Um milagre da vida! Assim foi um pouco da história do nosso guerreiro Flávio Jorge!”
Luma, mãe do Flávio Jorge