Notícia original publicada em 24 de janeiro de 2015.
Agência Lusa
[caption id="attachment_15739" align="alignright" width="300"] Nessas famílias há uma situação que torna a relação mais forte, com um efeito de união e não de ruptura. (Foto: Estela Silva/Lusa)[/caption]
As uniões dos casais que tiveram bebês prematuros permanecem passados cinco anos após o nascimento dos filhos, o que sugere que a prematuridade tem efeito de união e não de ruptura, conclui um estudo desenvolvido no norte de Portugal.
Dos casais estudados (20), todos do norte de Portugal, progenitores pela primeira vez e com idades compreendidas entre os 20 e os 40 anos, 65% continuavam casados ou em união de fato após cinco anos, disse à Lusa Elisa Veiga, autora do estudo “A transição para a parentalidade — o caso da prematuridade” e professora da Universidade Católica no Porto.
A investigação demonstrou que as relações de homens e mulheres com filhos prematuros têm um “movimento contrário” às elevadas taxas de divórcio registradas em Portugal, “porque há uma situação que torna a relação mais forte e tem um efeito de união e não de ruptura”, explica a psicóloga.
Apenas dois dos casais entrevistados, que foram pais de gêmeos prematuros, revelavam “muita tensão e algum desencontro na relação, estando estas dificuldades relacionadas com a “ansiedade materna”, conta Elisa Veiga, sublinhando, todavia, que “nenhum dos casais estava em situação de ruptura”.
No caso de gêmeos prematuros, por representarem uma maior sobrecarga, os pais estão mais tensos, com as mães mais ansiosas e exaustas e os pais tendem a ser mais intolerantes com as mulheres, apesar de entenderem o desgaste delas face a uma rotina muito exigente, acrescenta a especialista.
“A experiência [de ter um bebê prematuro] é muito mobilizadora”, conta a investigadora e também professora de Psicologia na Universidade Católica do Porto, referindo, por exemplo, que o pai está muitíssimo presente na educação do filho e muito “apetrechado” para prestar cuidados às crianças em todas as tarefas diárias.
A maioria dos casais optou por não colocar o seu bebê em creches pelo menos até aos dois anos de idade, e as soluções passaram pelas mães deixarem de trabalhar para ficarem tomando conta do bebê, ou então deixá-los com avós ou babás “muito especiais”, que em ambos os casos se deslocam a casa do bebê.
Apesar de a maioria dos casais se manter unida, apenas um casal estudado avançou para um segundo filho.
O estudo foi realizado em três momentos cronológicos diferentes da vida dos casais que receberam nos braços um, ou dois, bebê(s) prematuro(s).
A primeira entrevista foi realizada aos casais durante o internamento hospitalar do bebê, uma segunda entrevista se realizou dois meses depois da alta hospitalar na casa do casal. Por fim, cinco anos depois, numa altura em que os prematuros estão prestes a entrar para o 1.º ano de escolaridade.
Passados os cinco anos do nascimento do prematuro, as progenitoras estão “muito exigentes” com os seus filhos por causa da entrada para a escola. Essa exigência traduz a ansiedade das mães que querem que os filhos sejam bons alunos, valorizando, por exemplo, a opinião e orientações das educadoras de infância ou comprando fichas de trabalho para estimular os seus filhos.
Em Portugal nascem, por ano, cerca de mil bebês prematuros.
A prematuridade está aumentando em Portugal na ordem dos 20 a 30%, e o crescente número de prematuros pode estar relacionado com fatores como “infeções intrauterinas, hábitos da vida moderna, mães fumantes e estresse”, explicou à Lusa Hercília Guimarães, diretora do Serviço de Neonatologia do Hospital de São João (Porto).
Fonte: Observador