O pediatra e infectologista Renato Kfouri fala sobre a importância de manter em dia a carteirinha de vacinação dos bebês que chegam ao mundo antes do tempo
Novembro é um mês de grande importância quando se fala em saúde neonatal: pais, médicos e outros profissionais de saúde de todo o mundo se unem em prol da conscientização acerca dos cuidados exigidos pela prematuridade. Não é para menos: todos os anos, cerca de 15 milhões de crianças nascem antes de completar 37 semanas de gestação no mundo. E o Brasil está entre os dez países com maior número de casos: cerca de 12% dos nascidos são prematuros.
Esse é um cenário que exige atenção das autoridades de saúde pública e, embora nas últimas décadas seu manejo tenha avançado, muitos desses pequenos seguem correndo graves riscos de saúde, em especial no primeiro ano de vida, devido à fragilidade de seu sistema imunológico e diversas condições e agravos associados à prematuridade.
Grande parte desse risco está ligado a doenças evitáveis por vacinas, como a difteria, coqueluche, pneumonias, doenças causadas pela bactéria Haemophilus influenzae tipo b e hepatite B. A vacinação contra essas doenças já é parte do Programa Nacional de Imunização (PNI) do Ministério da Saúde, mas exige atenção especial quando se trata de prematuros.
Outro agente que representa riscos para esses bebês é o vírus sincicial respiratório, o VSR, uma das principais causas de infecções respiratórias graves nos primeiros anos de vida. A infecção pelo VSR pode levar a complicações severas nos bebês, como bronquiolite e pneumonia, e esse risco aumenta ainda mais nos prematuros. É a principal causa de hospitalização de prematuros no primeiro ano de vida.
Um exemplo bem sucedido, observado no SUS, é a disponibilização da vacina acelular hexavalente para bebês que nasceram antes das 33 semanas ou que tem menos de 1,5 kg. A grande diferença entre essa vacina e as combinadas de células inteiras é que sua tecnologia possui um melhor perfil de tolerabilidade, além de uma única aplicação estimular a resposta imunológica contra seis agentes infecciosos causadores de doenças graves nos pequenos.
Esse é um avanço tecnológico relevante, que possibilita a proteção de forma ainda mais segura para bebês expostos aos riscos inerentes à condição da prematuridade. A ampliação do acesso ao imunizante acelular — hoje disponível para bebês que nascem entre 34 e 37 semanas apenas no mercado privado, pode reduzir o risco de eventos adversos e, assim, favorecer o aumento da cobertura vacinal no Brasil e, consequentemente, proteger ainda mais nossas crianças. Um novo anticorpo específico contra o VSR, o Nirsevimabe, também é parte importante na estratégia de prevenção de doenças entre os bebês prematuros.
Outro avanço importante seria a ampliação dos investimentos em melhorias nos serviços existentes, como a rede dos Centros de Referência para Imunobiológicos Especiais (CRIE) em todo o país, e a extensão da aplicação das vacinas em prematuros em mais Unidades Básicas de Saúde (UBS) e outros serviços da Atenção Primária.
É importante também que pais, cuidadores e toda a rede de apoio de prematuros estejam atentos aos cuidados necessários nessa fase. A desinformação é um dos principais desafios enfrentados na saúde pública, em especial quando se fala em vacinação. É fundamental a busca por informações de fontes confiáveis e as conversas com profissionais de saúde para sanar eventuais dúvidas. Pais de bebês pré-termos podem contar com uma série de instituições da sociedade civil para se informar de forma correta e tomar as melhores decisões em relação aos cuidados com seus filhos. A ONG Prematuridade, por exemplo, além de ter um site com diversos conteúdos informativos e de acolhimento, também atua promovendo diversas ações de conscientização em prol dos cuidados com esses bebês.
Campanhas sobre o calendário vacinal dos prematuros devem ser promovidas tanto para o público leigo quanto para profissionais de saúde, e os protocolos de acesso e locais de referência para imunizações precisam ser amplamente divulgados. A vacinação é um ato de amor e cuidado, e proteger nossos bebês prematuros contra doenças evitáveis é uma responsabilidade que todos devemos assumir — como indivíduos e como sociedade.
Fonte: Revista Crescer