Há muito tempo queria postar esse texto da Folha.com. Além de ótima matéria, vejam quem dá o ar da graça (e que gracinha mesmo) lá embaixo? A nossa pequenina Mariana Leão e sua mamãe, Leila! A Leila contou aqui no blog a história da Mari, que nasceu de 27 semanas bem no dia em que o fatídico tsunami atingiu o Japão ano passado.
Confiram a matéria:
Folha.com (19/12/11)
"Avanços no cuidado neonatal estão permitindo a sobrevivência de bebês cada vez menores, alargando os chamados limites de viabilidade. Esse limite significa o tempo de gestação após o qual o feto é capaz de viver fora do útero, sem ajuda artificial.
A discussão sobre o tema ganhou um novo capítulo com um estudo publicado na revista médica "Pediatrics" deste mês, que acompanhou dois dos menores recém-nascidos já descritos na literatura médica.
Madeleine nasceu em 1989 após 26 semanas e meia de gestação, com 280 g. Rumasia nasceu em 2004, com 25 semanas e 260 g. As duas tiveram desenvolvimento motor e linguístico normal, apesar de um atraso no crescimento e no ganho de peso.
O uso de remédios para amadurecer os pulmões dos fetos e o sexo feminino foram fatores determinantes para a boa saúde delas, segundo os autores, do Centro Médico Universitário Loyola, em Illinois, nos EUA.
Para eles, ainda que prematuros de extremo baixo peso atraiam grande atenção da mídia, nem sempre são abordados os riscos e o desenvolvimento dos bebês no futuro.
Mesmo assim, o fato de as duas meninas, prematuras extremas (com menos de 28 semanas, sendo que o normal é de 37 a 40) terem crescido bem demonstra que é preciso ampliar a discussão sobre os parâmetros de viabilidade, concluem os autores.
Editoria de Arte/Folhapres |
POUCAS SEMANAS
O que põe ainda mais lenha na fogueira é a experiência japonesa em relação à sobrevida de prematuros extremos. Um estudo, também publicado na "Pediatrics", mostrou um aumento de 49% na taxa de sobrevivência de bebês de 22 a 23 semanas e de 81% na de prematuros de 24 a 25 semanas. Os dados foram colhidos entre 2000 e 2006.
"No brasil, estamos longe disso. No país todo, o limite mínimo está por volta das 27 semanas. Em hospitais particulares, pode chegar a 24 ou 25", diz Suely Dornellas, neonatologista do Hospital e Maternidade Santa Joana.
Segundo João Bortoletti, do departamento de medicina fetal do Hospital Santa Catarina, os limites diminuem "assustadoramente" e dependem da qualidade do berçário. "Vamos ter bebês cada vez menores, mas tratar de forma rotineira recém-nascidos de 23 semanas é um sonho muito distante."
Há 50 anos, ninguém acreditaria que um bebê de 26 semanas sobreviveria, diz Dornellas. "Mas, uma hora, esse limite vai parar de diminuir. Vai contra a genética."
SEQUELAS
Limites mais baixos trazem consequências. "Por um lado, salvamos mais bebês da década de 80 para cá, mas, por outro, começamos a ver mais sequelas, como doenças respiratórias", diz Dornellas.
A médica afirma que, abaixo de 27 semanas, o risco de dificuldades neurológicas, como problemas motores, de concentração ou até paralisia cerebral, é de 25%.
No Japão, é comum o tratamento de prematuros extremos, de 22 a 23 semanas ou com menos de 500 g. Uma razão para isso, segundo a pesquisa sobre a experiência do país, é a falta de informação a respeito de efeitos da prematuridade a longo prazo.
Para Miriam Rika, neonatologista do Hospital e Maternidade São Luiz, há pouca discussão no Brasil sobre a reanimação de bebês extremamente prematuros.
"Não temos o hábito de discutir com a família a porcentagem de mortalidade, então se tenta reanimar todo bebê com mais de 23 semanas e 400 g. Há países na Europa em que os próprios pais já pedem que não reanime se houver parada cardíaca, por causa das sequelas."
A tendência é de um número cada vez maior de nascimentos antes das 37 semanas de gestação. Gravidez tardia, uso de reprodução assistida e aumento das gestações múltiplas são algumas causas.
No Brasil, estudos apontam uma taxa de até 15% de prematuros. "A gente luta para que o pré-natal seja adequado, para diminuir a prematuridade, mas a mudança cultural está indo na corrente oposta", diz Dornellas.
MONTANHA-RUSSA EMOCIONAL
(Foto: Letícia Moreira/Folhapress) |
É como as mães de bebês prematuros descrevem a experiência de acompanhar o desenvolvimento dos recém-nascidos em uma UTI neonatal.
"Em um dia o bebê está ótimo, no outro você vê seis médicos em volta dele porque piorou", conta a economista Leila Lacerda Leão, 32. Sua filha, Mariana, de nove meses, nasceu em março com 27 semanas. Durante 70 dias, Leila passou todos os dias no hospital, das 6h30 às 23h.
A professora Ivanilda Nunes da Silva, 42, deu à luz sua filha, Helena, há quatro meses, com 27 semanas de gestação. "Tive medo de que estivesse faltando alguma coisa no bebê, algum órgão, e pensei que ela não sobreviveria."
Para acalmar outras mulheres em situação semelhante, Leila criou um blog. Lá colocou as anotações que fez ainda na UTI. Ela comenta as etapas das mães após o parto: primeiro, querem saber se o bebê está vivo e, depois, sentem culpa.
"A gente pensa que fez algo errado para o bebê nascer antes. As pessoas perguntam: 'O que você fez para ele ser prematuro?'."
No blog, Leila conta o momento mais difícil: ter alta e voltar para casa sem o bebê. "Agora tenho coragem de dizer que tinha medo de perdê-la." Hoje, Mariana está bem e é acompanhada por uma equipe multidisciplinar."
Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/1023407-tive-medo-de-que-estivesse-faltando-algo-no-bebe-diz-mae.shtml
Já leu a história da Mariana? Então clique aqui.