11 de Junho de 2013
Emanuel: a vitória da vida
"Olá, meu nome é Tânia, meu marido é Marcos e nosso milagre se chama Emanuel. Moramos em Tarumã (interior de SP) e estou escrevendo pra compartilhar minha história.
Tudo começou em maio de 2009, quando descobri minha gravidez. Eu tenho IIC (INCOMPETENCIA ISTMO CERVICAL), meu colo nao segura a gestaço quando o bebê começa a pesar e, devido a isso, já havia perdido quatro bebês (um deles fiz cerclagem, mas não o repouso, então perdi com 24 semanas).
Meu médico me orientou a fazer a cerclagem e repouso absoluto. Então com 10 semanas fui para o hospital e fiz o que ele recomendou (costurar o colo do útero). Voltei pra casa e desde então passei a fazer repouso absoluto, cama 24h por dia. Nesse período, minha mãe ficava em casa praticamente em tempo integral, agradeço muito a ajuda dela, pois era tudo na cama: remédios (tomava Ultrogestam e Inibina), refeições e até mesmo banho.
Com meu obstetra (Dr. Luiz Alberto Ramos Guimarães, a quem também agradeço muito pela atenção) eu só falava por telefone e ficou agendado com 24 semanas para eu fazer a ultrasom morfológica, e foi a única vez que saí de casa antes do Emanuel nascer. Em setembro fui fazer a ultra e lá descobrimos que teríamos um menino (já tínhamos escolhido o nome: Emanuel) e que, graças a Deus, ele era perfeito e saudável. Infelizmente meu colo só estava com 1,5cm e o médico me orientou a ir pra casa e manter o repouso, pois pra ele nascer não faltava mais nada, e ligou para meu obstetra passando a situação.
Fiquei apavorada, com medo de outra perda. Voltamos para casa e ainda consegui segurar mais 3 semanas. No dia 30 de setembro, passei mal e fui pro hospital, onde fiquei com medicação para tentar manter a gravidez. Também já deram as injeções pra amadurecer o pulmãozinho. Consegui manter por mais uns dias quando, no dia 06 de outubro de 2009, começaram as contrações fortes. Tive contrações o dia todo (minha irmã estava comigo) e elas foram diminuindo de tempo. Às 17h, a enfermeira me examinou e disse que chamaria meu obstetra, pois não tinha mais como segurar a gestação. Chorei muito, pois na minha cabeça eu estava perdendo outro sonho.
Meu médico chegou, me deixou mais calma e fomos para a sala de parto. Às 18h25min meu Emanuel veio ao mundo pequenino, com 1,170kg e 35cm, mas com muita vontade de viver, tanto que nasceu chorando. A pediatra me mostrou ele e logo o levou pra UTI Neo. Fiquei feliz e ao mesmo tempo com muito medo de ele não resistir. Quando cheguei no quarto, lá estavam meu marido, minha irmã e minha sogra e já me deram os parabéns, o que me deixou mais aliviada. Naquela noite não vi mais o Emanuel.
No outro dia de manhã fui à UTI Neo com meu marido. Quando cheguei perto da incubadora dele eu travei, não consegui ir até lá, pois era tão pequeno, mas tão pequeno, de um jeito que eu nunca tinha imaginado. Respirei e fui até ele. Nessa hora pedi muito a Deus, pois sabia que só Ele poderia dar a vitória de eu levá-lo pra casa. E assim começou a luta do Emanuel, os médicos da Neo já nos avisaram que ele era um bebê grave e não tinha previsão de quando iria pra casa, teríamos que ter muita paciência e muita fé em Deus.
Um dos piores dias foi o 09 de outubro, quando tive alta. Como foi difícil ir pra casa e deixá-lo lá, tão pequeno, indefeso. E, para piorar, nós moramos numa cidadezinha do interior de SP, e o Emanuel ficou internado na cidade vizinha a 18km. Desse dia em diante eu passei a praticamente morar no hospital, pois chegava cedo e só ia pra casa à tarde. Foram 66 dias de UTI Neo, eu tirava o leite pra ele na hora das mamadas e as enfermeira davam pela sondinha, começou com 1ml. Quando ele ganhava 5 gramas parecia que tinha ganho 1kg, e quando eu chegava e elas me diziam que ele havia perdido 10 gramas... nossa, como era triste!
Na UTI Neonatal a gente aprende o valor de 1 grama, 1ml, essas coisas que no dia-a-dia nem ligamos. O Emanuel passou dias difíceis na UTI, ele nunca precisou do tubo, foi direto pro CPAP e sempre usava o mínimo de O2. Para sair desse mínimo foi muito difícil, uma das últimas coisas que ele conseguiu.
Foram muitas intercorrências: fez fototerapia, recebeu alimentação parenteral, teve anemias, muitas infecções e fez várias tranfusões de sangue. Com 22 dias de vida, pesando 1kg, o médico nos informou que ele necessitava de uma cirurgia no coração, pois tinha PCA (persistencia do canal arterial) que conhecemos como sopro. Por ter nascido muito pequeno, o dele não fechou e estava atrapalhando no desenvolvimento do Emanuel. Se não operasse, ele não se desenvolveria para ir pra casa, que sofrimento! Pensei: MEU DEUS, o Senhor me deu com vida, será que vai levá-lo agora? COMO SOFREMOS...
Fomos pra São José do Rio Preto - SP fazer a cirurgia, pois na cidade que ele estava (Assis – SP) não tinha cirurgião cardio-infantil. Foi tudo bem lá, ele operou numa quarta-feira e na sexta já estavámos de volta em Assis. Tranqüilizaram-me, dizendo que seria mais fácil, ele ganharia peso e, quem sabe, passaria o Natal em casa! Fiquei feliz por 4 dias, foi quando apareceu uma nova infecção, então voltamos à estaca zero. Ele já estava mamando 20ml na sondinha, teve que fazer jejum e voltamos a 3ml.
Ele venceu mais essa, acho que o Emanuel era mais forte do que eu, viu? Eu vivia desabando em choro, e aqueles sons da UTI Neo eram uma tortura, tantos bips... Como é duro ver um filho da gente naquela situação. Eu via os bebês nascendo com 3kg e já iam pra casa, pensava: Deus, por que o meu tem que passar tanto sofrimento? Mas ele foi e é um guerreiro, venceu mais essa infecção e depois disso só foi ganhando peso.
Lembro quando um dos médicos me disse: mãe, acho que nesse final de semana teremos a festa do 1,300kg. Depois que atingiu esse peso, ele só se desenvolveu. Passou a ser estimulado a mamar no peito, eu podia ficar mais tempo com ele no colo, só o O2 que ainda não conseguia ficar sem. Devido ao pulmão ainda não estar totalmente pronto no nascimento, ele desenvolveu a bronco displasia pulmonar, que também atrapalhava muito.
Já no começo de dezembro ele estava ótimo, ainda na Neo por conta do O2, mas graças a Deus não demorou muito e ele conseguiu ficar sem. Então fomos para o quarto, onde ficamos juntos o tempo todo, para ele se adaptar ao ambiente fora da Neo e eu me adaptar com ele. Emanuel estava com 1,600kg e eu tive que aprender a dar banho, mamá, essas coisas que a gente faz, mas geralmente em bebês de 3 ou 4kg.
Foram mais 18 dias quando, finalmente, em 29 de dezembro de 2009, o levamos pra casa, nosso lindo bebê com 42cm e 1,885kg. Foi o dia mais feliz da minha vida!
Hoje o Emanuel já está com 3 anos e 5 meses, é um lindo garoto, saudável, arteiro, tagarela e, às vezes, birrentinho (faz manha de se jogar no chão), essas coisas que criança faz. Quem não sabe da história não fala que ele nasceu tão pequeno e passou por tantas dificuldades.
Agradeço primeiramente a Deus, por ter nos dado o Emanuel; a todos os médicos e equipe da UTI Neo do hospital HMA - Assis (que foram anjos que Deus colocou no nosso caminho) que cuidaram do nosso bebê e também me deram muito apoio; em especial à pediatra Dra. SANDRA REGINA RAMOS e meu obstetra Dr. LUIZ ALBERTO RAMOS GUIMARÃES (por toda a atenção e dedicação). Ao meu marido, que me apoiou incondicionalmente; à minha família; e também agradeço a comunidade aqui da minha cidade. Por ser cidade pequena, todo mundo fica sabendo e, às vezes, pessoas que eu nem conhecia me paravam e diziam: estou orando, rezando pelo seu bebê.
Agradeço muito também às mamães de prematuros que me ajudaram muito, mas muito mesmo naquela época. Espero que, compartilhando minha história, possa ajudar as mamães que estão passando por isso agora. Não percam a fé, pois esses bebezinhos que parecem tão frágeis são, na verdade, GRANDES GUERREIROS QUE LUTAM PELA VIDA.
E NOSSO EMANUEL É MAIS UM DELES. EMANUEL: A VITÓRIA DA VIDA."
Tânia, mãe do Emanuel