Notícia original publicada em 05 de novembro de 2014.
por Raquel Moleiro
[caption id="attachment_15301" align="alignright" width="300"] Unidade pública dos Emirados onde o Estado português encontrou vaga para Margarida, nascida de 25 semanas, não tem cirurgião nem serviço de neonatologia adequados a prematuros extremos. Médicos desaconselham transferência. (Foto: Facebook)[/caption]
Esta terça-feira, Margarida completou uma semana de vida. A data chegou em forma de boa notícia: o governo português, através da Embaixada em Dubai e da Secretaria de Estado das Comunidades, tinha conseguido a transferência da bebê, nascida de 25 semanas, para uma unidade pública menos dispendiosa do que o hospital privado onde nasceu de urgência, e que se revelou muito caro para a situação financeira dos pais.
Hoje chegou o balde de água fria: "Às 8h da manhã, visitámos o hospital no estado de Ajman, onde o Governo nos informou existir uma vaga, pois a taxa de ocupação na neonatologia é muito baixa e há sempre camas disponíveis. Ficamos sabendo que os serviços de neonatologia são insuficientes, com falta de enfermeiros, sem experiência em bebês como a Gui. Sem cirurgião, onde ela teria que ser transferida para outro hospital num outro Emirado, cada vez que precisasse de uma cirurgia", escreveu há minutos Eugénia Lemos Queirós, a mãe, na sua página do Facebook.
Juntamente com um representante do Governo, os pais falaram com o diretor de Neonatologia da unidade. Perguntaram-lhe se aconselhava a transferência da criança para o seu hospital. "E a sua resposta foi um não! Ela é um caso de risco e a viagem pode provocar danos cerebrais irreversíveis e pode até ser fatal!", conta a mãe, portuguesa de 32 anos, que emigrou para os Emirados Árabes Unidos com o marido Gonçalo Queirós, de 29, há apenas um ano. Idêntica resposta foi dada pelo médico que atualmente acompanha Margarida no Mediclinic City Hospital, o hospital privado onde a mãe foi internada em risco de vida e onde se desencadeou o parto prematuro. "O médico disse que não conhecia o hospital e, com base na informação, esse hospital não tinha condições para a nossa guerreira", revela.
Margarida nasceu em Dubai no dia 28 de outubro com apenas 25 semanas de gestação e 410 gramas de peso. O nascimento estava apenas previsto para fevereiro. A gravidez estava um pouco mais da metade quando Eugénia teve uma subida súbita e grave da tensão arterial, uma pré-eclâmpsia que a deixou em risco de vida. A sorte: estava em hospital, em uma consulta de rotina de obstetrícia com o seu médico. Fez-se uma cesariana de urgência e assim se salvaram mãe e filha. O azar: estava no Mediclinic City Hospital, um dos hospitais mais caros dos Emirados Árabes Unidos, e o 'pacote de maternidade' que tinha adquirido no início da gravidez não cobria o tratamento de prematuros nem o internamento prolongado de mãe e bebê.
[caption id="attachment_15302" align="alignleft" width="300"] A bebê prematura nasceu de 25 semanas de gestação, com apenas 410 gramas. (Foto: Facebook)[/caption]
"Em Dubai ninguém brinca com o dinheiro"
"Vi a minha mulher quase morrer nos cuidados intensivos, a Margarida tão pequenina, ainda lutando, e tive de lidar com uma conta insuportável que cresce de dia para dia, uma diária de dois mil euros. O hospital exigindo garantias, 50 mil euros de garantia para o dia seguinte. Em Dubai ninguém brinca com o dinheiro. A prioridade foi logo transferí-la para uma unidade pública, menos cara, mas está difícil, tudo é difícil", contou segunda-feira ao telefone o pai, Gonçalo Queirós.
A família - o casal tem mais um filho de 22 meses - emigrou para os Emirados, depois de Gonçalo ter recebido uma oferta de trabalho para ser chef principal do único restaurante português do Dubai - o Picante -, propriedade do grupo Sheraton. Eugénia é professora de matemática e de dança.
Amigos e família do casal criaram uma conta no Facebook para pedir donativos - Vamos ajudar a Genny e a Gui - que, entretanto, se tornou viral. Em 24 horas contava com 8 mil 'likes'. Esta terça-feira já somava mais de 53 mil. Ontem, as duas contas do casal já tinham recebido perto de 70 mil euros, chegados principalmente de Portugal.
Os donativos já permitiram saldar a conta da mãe Eugénia - cerca de 9500 euros -, que teve alta clínica no domingo. E também a fatura já emitida de 18 mil euros relativa a apenas cinco dias de Margarida na unidade de neonatologia. O saldo solidário restante seria suficiente para pagar os 50 mil euros da garantia exigida pelo hospital privado mas, com a transferência iminente da bebê para um hospital público, o montante seria usado para assegurar os vários meses de internamento que ainda a esperam. Com a manutenção da Margarida no hospital privado serão curtos: só a diária atinge os mil euros.
[caption id="attachment_15303" align="alignleft" width="300"] O 'pacote de maternidade' que tinha adquirido no início da gravidez não cobria o tratamento de prematuros nem o internamento prolongado de mãe e bebê. (Foto: Facebook)[/caption]
Vinda para Portugal assegurada
A transferência de Margarida para Portugal foi equacionada, mas de momento a equipe médica que acompanha a prematura extrema desaconselha uma viagem tão longa.
"Explicaram-me que mesmo a mudança para outro hospital envolve riscos, quanto mais um voo de oito horas ou mais até Portugal", conta o pai, que não descarta essa possibilidade quando a bebê estiver mais estável.
Mal a história foi conhecida, a Unidade de Neonatologia do Hospital de São João, no Porto, disponibilizou-se para enviar uma equipe médica a Dubai para trazer a mãe e a criança. O ministro da Saúde alargou a oferta a qualquer outro hospital nacional, principalmente os da Grande Lisboa, área de residência do casal em Portugal - cresceram ambos no Barreiro, na margem sul.
A pedido do secretário de Estado das Comunidades Portuguesas, a Força Aérea disponibilizou igualmente o Falcon para o transporte de Eugénia e Margarida.
Fonte: Expresso Sapo