Notícia original publicada em 19 de maio de 2014.
Se, em 2013, a solidariedade de 13.081 gaúchas posicionou o Rio Grande do Sul no terceiro lugar do ranking dos estados com maior número de doadoras de leite materno, neste ano, de acordo com as contagens parciais, esse feito não vem se repetindo.
Segundo dados da Rede Brasileira de Bancos de Leite Humano (BLH), de janeiro a maio apenas 1.168 mulheres doaram leite no Estado — número pouco maior do que a média mensal do ano passado, computada em 1.090 doadoras. O número se reflete na baixa dos estoques de alguns bancos de leite credenciados no interior Estado, como o da Santa Casa de Bagé e o do Hospital Universitário Dr. Miguel Riet Corrêa Jr., vinculado à Universidade Federal do Rio Grande (Furg), que, em pleno Dia Nacional da Doação de Leite Materno, estão em busca de novas doadoras.
[caption id="attachment_14090" align="aligncenter" width="640" caption="A bioquímica Adriana Drevin alimenta a filha Pietra e doa o excedente ao Hospital de Caridade de Ijuí. Foto: Allan Fonseca/Divulgação"][/caption]
De 2011 a 2013, o Estado perdeu apenas para São Paulo e Paraná no número de doações. Em 2014, porém, está atrás de onze outros estados.
— Falta um pouco de investimento em campanhas que divulguem essa possibilidade que as mães têm de doar seu excedente de leite. A saúde pública precisa, primeiramente, estimular a amamentação e, a partir disso, incentivar também a doação — afirma a nutricionista Daniela Ribeiro, responsável pelo banco de leite da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre, referência para o Estado.
Junto a esse motivo, opina ela, o baixo número de bancos de leite no Rio Grande do Sul. São oito: além de Bagé e Rio Grande, há cinco na capital e um em Ijuí, no noroeste.
— Grandes cidades como Santa Maria e Caxias do Sul, por exemplo, acabam ficando de fora — diz.
Em Bagé, conforme a nutricionista Bárbara Palma, responsável pelo setor, a projeção para o mês de maio é de coletar apenas 30 litros de leite materno, quando o estoque normal varia entre 50 e 60 litros.
— Quando acontece isso, precisamos fazer uma seleção e priorizar os bebês em estado mais grave — diz a funcionária.
A situação ainda é mais severa no hospital da Furg: a média dos últimos meses está em torno dos 11 litros — suficiente para amamentar apenas um dos dez recém-nascidos que ocupam leitos da UTI Neonatal (os outros nove têm recebido fórmula industrializada). O normal seria coletar, por mês, 25 litros de leite.
— No momento, estamos bem abaixo do esperado. Quase não temos doadoras externas e muitas das mães que estão internadas não podem doar devido ao seu diagnóstico. É um dos nossos piores meses desde 2007, quando iniciamos — relata a nutricionista Grace Santos.
Leite materno também é ferramenta de combate à mortalidade infantil
Os bancos de leite são serviços importantes às mães que têm dificuldades de amamentar seus bebês. Mas, além disso, são ferramentas do Sistema Único de Saúde (SUS) para assegurar, através da segurança alimentar, a redução da mortalidade infantil, cuja taxa, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), vem em uma decrescente: em 2000, era de 30,1 para cada mil nascidos vivos; em 2013, ficou em 19,6.
As garrafas de leite materno armazenadas nos hospitais atendem recém-nascidos impossibilitados de ir direto ao seio da mãe — seja devido à prematuridade, ao fato de apresentarem alguma patologia ou, simplesmente, ao baixo peso.
(Confira aqui a publicação "Doação de leite materno ajuda na recuperação de prematuros")
— Quando o leite chega, ele passa por controles de qualidade sensorial e físico-químico. Depois, é pasteurizado, com o objetivo de se tornar seguro microbiologicamente para os bebês — afirma a coordenadora do controle de qualidade da Rede BHL, Danielle Aparecida da Silva.
Em 48 horas, o leite doado está pronto para uso e pode permanecer congelado por até seis meses.
É nesses locais, também, que as mães que ainda não podem amamentar seus filhos encontram assistência e estímulo para produzir leite.
— O principal estímulo que a mulher precisa ao parir é a boca do bebê no seio. Como isso não acontece no caso dos prematuros, fazemos isso de outras formas, através de massagens e ordenhas. Assim, no momento exato em que o bebê puder ir ao seio, ela vai estar pronta para recebê-lo — explica Danielle.
Anjos do leite
Outras mães, apesar do esforço, não conseguem produzir leite o suficiente e dependem do estoque dos bancos, abastecidos não só pelas pacientes internadas, mas também por doadoras externas ao hospital. A bioquímica Adriana Drevin ainda amamenta Pietra, de oito meses, mas se recusa a jogar o excedente fora. Chega a doar, sozinha, 18 litros de leite materno por mês, doados ao Hospital de Caridade de Ijuí (HCI), no noroeste do Estado.
— Como ela já está com alimentação complementar, produzo muito mais do que o necessário. Por isso, comprei até uma esgotadeira elétrica de amamentação — conta.
Adriana é uma das responsáveis por manter o bom estoque do banco de leite de Ijuí, cujo armazenamento mensal é de 60 litros, de acordo com a enfermeira responsável, Mara Noll. O hospital ainda conta com carro próprio e motorista para buscar os frascos de leite nas casas das doadoras.
Era o que acontecia enquanto Adriana estava em licença-maternidade. Quando voltou a trabalhar (ela é bioquímica no próprio HCI), passou a doar direto no banco de leite.
— A amamentação é um processo maravilhoso, mas requer dedicação e carinho, mesmo quando não é para o bebê da gente. Pensar nas crianças cujas mães não têm condições de amamentar também é um momento de doação. É o lado materno que fala mais alto. — diz.
Onde doar?
São oito os bancos de leite gaúchos credenciados na Rede BHL, cinco na capital:
# Hospital de Caridade de Ijuí — Avenida David José Martins, 152 — Ijuí/RS
# Hospital de Clínicas de Porto Alegre — Rua Ramiro Barcellos, 2.350 — Porto Alegre/RS
# Hospital Fêmina — Avenida Mostardeiro, 17 — Porto Alegre/RS
# Hospital Materno Infantil Presidente Vargas — Avenida Independência, 661 — Porto Alegre/RS
# Hospital São Lucas da PUCRS — Avenida Ipiranga, 6.690 — Porto Alegre/RS
# Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre — Rua Professor Annes Dias, 295 — Porto Alegre/RS
# Santa Casa de Caridade de Bagé — Rua Gomes Carneiro, 1.350 — Bagé/RS
# Universidade Federal de Rio Grande — Rua Visconde de Paranaguá, 102 — Rio Grande/RS
***Procure os bancos de leite na sua cidade e doe!
O Prematuridade.com apoia essa ideia.
Fonte: Zero Hora