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15.10.2014

As aventuras de um pai prematuro: "26 semanas, é sério isso?"


O Giovane Gaspar Benedet é pai do Vicente, que nasceu de 26 semanas, com 960 gramas. Ele vai contar em 10 postagens, a sua visão sobre a prematuridade. Para quem perdeu o primeiro texto do Giovane, vale conferir aqui :"Fiquei grávido!".

"São 23h04min, a cerca de 30 minutos atrás Liliane pega o Vicente no colo, traz ele próximo ao meu rosto e me diz - “Benção pai, boa noite!”, eu respondo como manda tradição - “Deus te abençoe meu filho, boa noite”, ele esboça um sorriso :) , eu e ela nos olhamos e certamente cada um pensa - “ele está nos agradecendo e desejando boa noite”. Confesso que sempre que esse simples ato se repete, vem à mente por instantes de segundo praticamente uma vida até que esse momento chegasse!

Bom, mas não é do ritual de “boa noite” que vim até aqui hoje falar na coluna “As aventuras de um Pai prematuro”, mas sim sobre dois anos atrás, quando precisamos sair diretamente do ultrassom, para o hospital mais próximo. Era o segundo ultrassom que eu participava no primeiro o sexo havia sido descoberto, então, ele já tinha um nome; Vicente. Tudo ia bem até que a especialista ficasse em um silêncio longo, completamente quieta, depois voltando com a questão - Qual é mesmo a sua médica? Aquilo soou de forma estranha, logo a resposta venho, “sua dilatação já está acima do normal, o ideal é você já ir daqui diretamente ao hospital”, a gestação ainda estava em 24 semanas. Por sorte o mesmo ficava em frente à clínica. Ao chegar ao hospital à constatação já era da necessidade de internação e repouso total. Após cerca de sete dias no hospital, ela foi liberada, voltamos para casa.

Durante esse período, colocávamos músicas para que ele ouvisse e eu falava com ele coisas que um pai babão fala. É uma sensação difícil, sentir segurança é questão de tempo e quando menos imaginamos nossa vida pode ter outro sentido e prioridades diferentes. A prioridade naquele momento era a vida do nosso filho tão planejado. Passamos duas semanas intensas com minha esposa acamada esperando o máximo de tempo possível para que tudo ocorresse o mais perto da normalidade, mesmo sabendo que naquele momento, chegar a mais um mês de gestação seria algo improvável.

86502157No domingo, ela sentiu algo estranho precisando retornar ao hospital. Constatamos a necessidade de internação e repouso total novamente. Enquanto ela estava em acompanhamento em uma das salas da ala de preparação ao parto, que ainda não se tinha certeza se seria realizado naquele dia ou não, eu conversava com umas profissionais médicas que lhe acompanhava. Questionei - É sério isso? Será que eles aguentam por quanto mais tempo? E se nascer de 26 semanas? A resposta foi seca, mas correta - “Precisamos agora tentar garantir que consigamos não ter sequelas para ele e para a mãe, sabe como é, 26 semanas é muito pouco tempo...”. Eu me afastei e pela primeira vez em toda aquela situação não contive a emoção, sozinho naquele corredor senti uma das piores sensações possíveis.

Na terça, seus pais vieram para fazer companhia a ela, pela manhã recebo a ligação, que eu deveria me encaminhar ao hospital, pois o Vicente poderia nascer a qualquer momento. Vou admitir, mesmo diante de toda a situação não imaginava que realmente poderíamos ter um parto tão prematuro.

Avisei alguns familiares, que claro, por espanto total a situação questionavam a possibilidade da prematuridade de 26 semanas, um ambiente de ainda maior incerteza se criava ao meu redor, não pela reação dos outros, mas pelos momentos difíceis que sabia que poderíamos enfrentar nos meses seguintes. Passado os momentos de espanto, enchi o peito novamente de esperança e alegria, se é para ser que seja intenso, com alegria e emoção.

Ao falar com minha esposa praticamente já sedada no quarto pré-preparatório, trocamos algumas palavras, entre elas - Eu disse: “Tudo vai dar certo”, ela respondeu serena - “Já está dando”, lhe dei um beijo na testa e sai, em poucos minutos ela seria direcionada para a sala de parto. Como todo desejo de pai ansioso, diante do risco do parto, eu não poderia gravar, nem ao menos entrar e nem segurar em sua mão. Passamos mais de 5 horas na sala de espera aguardando ansiosamente por notícias, como todo pai faria. Quando recebi a notícia que ele tinha nascido, logo corri para as redes sociais, recebemos palavras de apoio de todos. Quando a vi ainda na sala de recuperação, ela disse que ele era lindo e bem pequenino. Rimos juntos depois daqueles momentos de tensão.

Passamos a noite de certa forma tranquilos, sabendo que poderíamos ver o nosso filho somente no dia seguinte, onde realmente entenderíamos em sua totalidade, o que era serem pais de um prematuro extremo de 26 semanas. Iria iniciar a maior maratona de nossas vidas, a mais angustiante e recompensadora."

Giovane – Pai do Vicente [ do Latim Aquele que sempre Vence ]

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