24 de Abril de 2013
A prematuridade na Dinamarca: a história de Matthæus
Gostaria de agradecer o contato e o carinho da Josiane, mãe do Matthæus. Ela é brasileira, mas mora na Dinamarca há 20 anos. Ela nos conta como foi o nascimento do pequeno e como funciona o atendimento ao bebê prematuro e sua família durante a internação e no pós-alta. Coisa de primeiro mundo mesmo, exemplo que o Brasil deveria seguir. Boa leitura!
"Meu nome é Josiane, tenho 40 anos. Sou mãe de duas meninas, Charlotte de 19, Louise de 16 e dois meninos, Joahannes de 5 e Matthæus, que nasceu prematuro de 26 semanas, mais 5 dias de internação. Matthæus nasceu no dia 9 de dezembro de 2012.
Muito legal descobrir este fórum de prematuros no Brasil. Eu moro na Dinamarca há 20 anos. Achei muito interessante os depoimentos dos pais de prematuros, é bem diferente dos daqui. Bom... Vou contar minha história...
Eu descobri que estava grávida por acaso. Usava o DIU e estava completamente despreocupada.
[caption id="attachment_6494" align="alignright" width="300" caption="A primeira foto do Matthæus, com 3 horas de vida"][/caption]
Quando descobri a gravidez do Matthæus estava com 22 semanas e 2 dias. Quando estava com 24 semanas fui internada com perda de água. Fiquei de repouso absoluto no hospital de Copenhague, até a semana 26, mais 5 dias. De uma hora para outra tive febre e a parteira e o médico decidiram fazer uma cesariana de emergência. Liguei para o meu marido, e disse para ele ir para o hospital, pois em meia hora nascia o bebe. Era domingo, dia de tempestade de neve das violentas e meu marido chegou 2 horas e meia depois. Eu já estava na sala de recuperação e o Matthæus já tinha sido levado para a UTINeonatal.
[caption id="attachment_6498" align="alignright" width="300" caption="Matthæus num chameguinho com mamãe"][/caption]
Quando meu marido chegou, fomos levados até o quarto onde o Matthæus estava. Tão pequeninho meu bebê. Ele pesava 890 g e media 32 cm. Picorrucho! Cheio de fios dentro da incubadora. O médico disse que ele estava muito bem, que não precisou de respirador artificial, e foi direto para o CPAP. Eu fiquei um dia mais internada, por causa da infecção que tive (motivo da febre). Depois disto fui para o mesmo quarto do Matthæus. Dormia e ficava ali com ele dia e noite. Aprendi a dar comida na sonda, trocava as fraldinhas minúsculas dele, lavava os rostinho e as mãozinhas com água esterilizada e passava horas com ele deitado no meu peito.Matthæus quase não teve problemas durante a internação. Ficou duas vezes na luz, fez duas transfusões de sangue e passou do CPAP, para o SiPAP e por último esteve no OPTI-FLOW.
[caption id="attachment_6499" align="alignright" width="300" caption="Quarto da Josiane e do Matthæus no hospital"][/caption]
Durante todo o período que meu bebê esteve internado, eu pude contar com o melhor. O pessoal daqui é muito preocupado com o futuro dos prematuros, principalmente dos que, devido a prematuridade, têm problemas de adaptação a alguns tipos de ambientes, ruídos, cheiros, luzes. Muitos grupos de pais de prematuros se reúnem em muitas cidades para debater e ouvir palestras sobre a educação especial dos prematuros.
Aqui na Dinamarca, a licença maternidade se estende de 6 meses até 1 ano. Com o Matthæus eu vou ter 1 ano e 4 meses de licença maternidade. A prefeitura tem enfermeiras que visitam os bebês em casa para pesar, falar sobre alimentação, sono e coisas assim. Normalmente, a enfermeira visita 8 vezes um bebê no primeiro 1 ano e meio de vida. Para os bebês prematuros, as visitas da enfermeira são de acordo com a necessidade da mãe, é sem limite! E quando ganhamos um prematuro, a enfermeira que faz a visita tem especialização na área de prematuros.
Quando eu voltar a trabalhar e o Matthæus for cuidado fora de casa, a prefeitura proporciona dois tipo de cuidados para crianças de 6 meses, até 3 anos. Uma das maneiras é uma senhora que cuida de 3 a 4 crianças em sua própria casa e recebe o salário da prefeitura para este trabalho. Os pais pagam um subsidio para auxiliar no pagamento da senhora, e, se tiverem necessidades financeiras, podem pedir isenção do valor. O nome deste trabalho se é: “dagpleje”. Este trabalho é acompanhado por pedagogos que visitam a senhora e dão assessoramento e cursos para os cuidados infantis. Mas, sendo prematuros, a senhora tem somente 2 ou 3 crianças, pois os bebês prematuros precisam de um clima mais tranquilo, sem doenças e infecções. A outra forma de cuidados infantis é a famosa creche. Aqui existem creches especiais para crianças com problemas de amadurecimento e aprendizagem, mas geralmente são longe do lugar onde agente mora.
[caption id="attachment_6518" align="alignright" width="300" caption="Visita do papai Morten e o maninho Johannes, de 5 anos"][/caption]
Com este cuidado que temos aqui, fiquei espantada com uma coisa. No Brasil as mães não ficam internadas com os bebês no hospital? Eu fiquei internada desde 17 de novembro de 2012 (24 semanas), quando perdi um pouco de líquido. Fiquei quase três semanas internada sem poder fazer nada, só levantava para ir ao banheiro. E só saí com 26 semanas e 5 dias, quando tive o Matthæus.
Nas duas primeiras semanas estive internada no hospital de Copenhague com o Matthæus. E quando ele cumpriu 28 semanas fomos transferidos para um hospital mais próximo da nossa casa. Aqui todo o serviço hospitalar é gratuito, tanto para a mãe quanto para o bebê. Meu filho nasceu no mesmo hospital onde os príncipes e princesas dinamarquesas nascem. A rainha também não paga nada para ter os filhos no hospital!
Não entendo porque as mães não ficam junto com os seus bebês aí no Brasil. É importante para o bebê estar perto da mãe. O Matthæus esteve sempre grudado comigo. Depois de algumas semanas eles já não usa nenhuma forma de auxílio respiratório. Os dias foram passando até que ele começou a mamar sozinho no peito.
Saímos do hospital quando ele estava com 37 semanas pesando 2.065 kg O meu garotinho, pelo visto, não vai ter sequelas do nascimento prematuro! Nós fizemos vários exames no cérebro, no coração e está tudo normal. Seguimos fazendo controle de peso e ainda temos que fazer o exame de visão. É ótimo estar em casa com o meu garotinho!"
Josiane, mãe do Matthæus