03 de Janeiro de 2017

A luta do guerreirinho João Francisco

"Me chamo Natália, tenho 30 anos, e me casei há dois anos e meio. Desde que casei, meu marido vivia me pedindo um filho. Era o sonho dele! Após um ano casada, eu decidi então engravidar. A gravidez ia muito bem, estávamos super animados com o bebê a caminho! Eu não senti um enjôo, nada. Todos os exames estavam ótimos. E foi assim até a 31ª semana. Quando, de repente, eu senti um mal estar muito grande. Uma dor forte nas costas e uma pressão na cabeça. Fui ao pronto socorro e lá o susto: a minha pressão estava em 17x12. Ligaram para o meu médico e ele decidiu me manter internada para acompanhar o meu caso. A princípio, eram dois dias de internação... Mas a pressão não baixava! As doses de remédio iam aumentando e a pressão não ficava menor do que 14x9.

Após exatamente uma semana internada, em um domingo à noite, eu tive outro mal estar. Esse, bem maior do que o que havia me levado ao hospital. Uma dor terrível no estômago e nas costas. Fui medicada e praticamente dopada. Só assim consegui dormir. Na segunda-feira logo cedo, o meu médico estava no meu quarto, e, após alguns exames, me falou que o João Francisco iria nascer naquele dia! Foi o maior susto da minha vida. Para mim, eu estava lá pra controlar a pressão somente. Então, ele me disse que eu tinha Síndrome de HELLP e que meus exames haviam piorado muito! Que eu precisaria de 16 bolsas de plaquetas e anestesia geral para fazer o parto. Além disso, que meu marido não poderia assistí-lo, pois era de risco para mim e para o bebê. A cesárea foi feita às pressas, já que havia risco de hemorragia e de passar anestesia para o bebê. Tudo foi feito muito rapidamente. O João não respirou ao nascer e foi direto pra UTI Neonatal. Eu fui pra UTI adulto.

Vi o meu filho dois dias após o nascimento dele. Fui levada por uma enfermeira, um anjo que ficou com pena de mim quando soube que eu não havia visto meu filho ainda. Eu tive alta do hospital após uma semana e o João continuava na UTI. Eu achava que, por nascer com 32 semanas, ele teria uma recuperação super rápida, que ele estava lá somente para ganhar peso. Ele nasceu com 1,8kg e na minha cabeça, quando chegasse aos 2kg teria alta. No entanto, a história não foi bem assim. Ele não conseguia respirar sozinho, nem após 3 injeções para maturar o pulmão. Os dias iam passando e ele não evoluía. Não respirava sozinho, a saturação não era boa. Até que um dia cheguei na UTI e vi um dreno no tórax dele. Eu e meu marido ficamos sem chão! O cateter havia saído do lugar e todo o líquido havia ido pro pulmão dele. Foram muitas intercorrências. O João teve displasia broncopulmonar, trombose, citomegalovírus, muitas atelectasias pulmonares. E nem sei quantas transfusões de sangue ele fez! Ele ficou entubado mais de um mês. Eu pude pegá-lo no colo quando ele tinha quase dois meses de idade, pois ele era considerado um bebê de manipulação mínima. Ele ficou sedado praticamente um mês. Eu somente o via dormindo no início. Eu via bebês menores que ele chegando e tendo alta da UTI com muita frequência. Eu conhecia várias mães de UTI, todas iam embora e eu continuava lá. Chegou um momento em que o João era o bebê mais velho da UTI. Meu coração estava em pedaços. Eu não tinha mais coragem de comprar nada pra ele. Quase todos os dias eu entrava na UTI tremendo, morrendo de medo de ver algum remédio a mais nele, alguma agulha a mais, ou de ouvir alguma notícia muito ruim. Eu pedia ao meu marido que fosse sempre no horário da conversa com o médico, porque eu não tinha coragem de ouvir as notícias mais. Eram quase sempre desanimadoras e os médicos falavam que o caso dele era grave. Um dia ele estava bem, no outro piorava tudo. Um dia eles liberavam o leite pra ele tomar, no outro paravam. Quando ele tomava 1ml de leite, era uma comemoração da família toda. Eu não entendia como um bebê de 32 semanas tinha tantas complicações. Eu lia todas as histórias de prematuros do site Prematuridade.com. Eu buscava histórias parecidas com a minha para ter forças, para ter esperança! Foi assim por muito tempo. Foram intermináveis 88 dias de UTI. E eu fui ao hospital em todos os 88 dias acompanhada da minha mãe. Muitas vezes íamos e eu não consegui ver o João, pois a sala estava fechada para algum procedimento mais sério em algum bebê. Eu pedia a Deus que não fosse com o meu filho.

O João foi melhorando aos poucos, aprendendo a respirar sozinho, mamando muito aos pouquinhos, e parando com os remédios. Quando, enfim, teve alta, estava com 3,7kg e super bem! Sem nenhuma sequela! Fizemos uma festa pra saída dele da UTI. Todas as enfermeiras fizeram um corredor para comemorarmos a ida dele pra casa, foi muito emocionante! Foi como se ele estivesse nascendo ali para mim. Eu e meu marido estávamos morrendo de medo de como seriam os dias dele em casa. O tempo foi passando e ele se desenvolvendo muito bem! Hoje, está com 10 meses e não teve nem uma gripe após a saída da UTI. Está com mais de 8kg e 70cm, tamanho completamente normal para idade dele. Não toma nenhuma medicação. É a maior felicidade das nossas vidas! Um bebê maravilhoso! Super esperto, saudável, e carismático! Estou escrevendo a história dele (bem resumidamente, acreditem!) para mamães que estejam passando por algo parecido não perderem as esperanças. Tenham fé, conversem com outras mamães de UTI, leiam histórias reais de UTI Neo.

Esses bebês são muito mais fortes do que pensamos e tem uma vontade imensa de viver! Hoje, eu durmo e acordo agarradinha com meu João Francisco pra compensar todas as 88 noites que eu passei longe dele."

(relato da mamãe Natália, enviado em 2014)

Responsabilidade do conteúdo por conta do autor, não reflete o posicionamento da ONG. Não nos responsabilizamos pela veracidade dos fatos.

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