01 de Fevereiro de 2013

A lição de vida de Valentina


Agradeço à Michelle por compartilhar conosco a história de sua valente, hoje uma linda e saudável princesa de 5 aninhos. Parabéns a vocês pela luta e pelas vitórias ao longo dessa jornada. E muita saúde pra Valentina!

"Eu e meu esposo resolvemos ter um filho no início de 2006, após o episódio traumático da perda de meu pai. Porém, quando fui fazer a ultrassonografia morfológica, descobri que o feto estava sem vida e fui submetida a uma curetagem. Foi muito triste, pois queríamos tanto aquele nenê.

Passados alguns meses, queríamos tentar novamente. Como não engravidei logo, o médico receitou um remédio estimulador de ovulação e, no mesmo mês, engravidei e, para nossa felicidade, de gêmeos. Porém, logo que foi feita a primeira ultrassonografia o médico nos avisou que um dos bebes não estava crescendo e, possivelmente, a próxima ultrassonografia não iria mais identificá-lo.

A segunda ultrassonografia, como previsto, somente acusou um nenê. Mas, como já estávamos preparados para isso, ficamos radiantes de felicidade pela criança que viria.

Tudo ia muito bem, até que, na ultrassonografia para ver o sexo do bebê, foi identificado que o feto não estava ganhando peso. O tempo passou e o bebê seguia menor que o normal. Como o restante parecia bem, o médico nos disse que iria nascer com menos peso que os outros, mas bem. Assim, não estávamos tão preocupados.

Porém, no dia 26/07/2007 voltei do trabalho às 18 horas e 30 minutos e como não havia me sentido bem durante o dia todo, resolvi tomar um banho e deitar. Logo que me deitei e me mexi na cama levei um susto, pois estava tendo uma grande hemorragia.

Naquele momento, fiquei tão desesperada que não sabia a quem chamar para me socorrer, pois meu marido estava trabalhando até mais tarde naquele dia. A única pessoa da qual consegui achar o telefone foi meu irmão, que veio tão rápido, nem sei como, e me levou para o hospital. Lá chegando, ligaram para o meu médico, que por azar estava em férias, mas estaria voltando de viajem naquela noite.

Consultaram-me e viram que não havia dilatação. Então ficamos mais tranquilos, pois o bebê não iria nascer e seus batimentos estavam normais.

No outro dia, 27/07/2007, pela manhã meu médico veio e marcou uma ultrassonografia com Doppler. Conhecido o resultado do exame, o médico nos disse na manhã de 28/08/2007 que iríamos fazer uma cesariana de emergência, pois o bebê não estava ganhando peso. Ao contrário, estava começando a perder. E, se não fizéssemos a cesariana, a bebê morreria.

Acho que foi a pior noite da minha vida. A cada hora vinham escutar o coraçãozinho do bebê. E sempre estava lá, forte. Mas em poucas horas poderia não estar mais batendo.

Então às 11 horas do dia 28/07/2007 veio ao mundo minha pequena Valentina, nome escolhido em razão da situação em que a mesma se encontrava: nasceu com 28 semanas de gestação, pesando 470 gramas e medindo 24 centímetros.

Fui para a sala de recuperação sem saber se ela estava viva, pois não nos deram esperanças. Só soube que estava viva quando fui para o quarto e meu marido me trouxe uma foto dela. Assim que pude, fui vê-la. Quando cheguei perto da incubadora em que ela estava, tive um choque. Não imaginava que era tão pequena. No entanto, no mesmo momento tive certeza que ela iria para casa comigo.

Tive alta e que tristeza ir para casa e não levar o bebê. Mesmo contra indicação médica, no quinto dia depois do parto eu já dirigia, subia e descia as escadas, pois não conseguia ficar em casa longe do meu bebê. Cada vez que encontrava o pediatra ele me dizia que cada dia era um dia, não podia fazer previsões, e poderia haver sérias sequelas porque ela era muito pequena e aqui em Erechim, RS, nenhum bebê nascido com o peso da Valentina havia sobrevivido.

Os dias foram passando e a Valentina sempre forte, superando tudo: pneumonias que quase a mataram, uma infecção muito forte e até uma retinopatia da prematuridade, sobre a qual nos falaram que se não operássemos logo a cegueira. Na cidade ninguém fazia essa operação e o pediatra só a liberaria se fossemos de avião com UTI móvel.

Pois conseguimos o tal avião e lá fomos nós duas no dia 12/10/2007 para Porto Alegre fazer a cirurgia. Antes de irmos, as enfermeiras nos deixaram pegá-la no colo. Acho que tinham medo, assim como nós, que ela não aguentasse a viagem. Foi tão maravilhoso poder beijar minha filha e sentir o seu cheiro.

Já em Porto Alegre vivi uma experiência maravilhosa, pois até o momento ela estava entubada e chegando à Capital tiraram-na do oxigênio e eu a vi chorar pela primeira vez. Quanta emoção. Passados 3 dias, voltamos. Ela estava muito bem. Depois dessa cirurgia, só precisava ganhar peso.

Foi um susto quando ligaram do hospital para dizer que deveria fazer a minha mala e a dela, pois passaria alguns dias com ela na UTI para adaptação. Quanta felicidade quando cheguei e ela estava me esperando numa incubadora dentro do quarto da UTI, mas a partir daquele momento ficaria sobre minha responsabilidade.

Foram quase 30 dias de adaptação. Acho que virei um pouco enfermeira, abandonei minha casa, minha família e meu trabalho. Quanta felicidade quando no dia 13/12/2007 o pediatra disse que nos dariam alta. Teve até festa no hospital, pois ninguém estava imaginado que isso poderia acontecer. Foi o dia mais feliz de nossas vidas.

A minha princesa veio para casa, com sonda para alimentação, pois não possuía força para sugar. No dia seguinte, que decepção. Quando fui alimentá-la, a sonda trancou e tivemos que voltar para o hospital para trocar. Durante essa troca, foi leite para os pulmões, formando uma pneumonia por sucção.

Foi um desespero e uma grande tristeza quando a pneumo-pediatra nos disse que teríamos que ficar por sete dias no hospital. Passados os sete dias, fomos para casa com a tal sonda, que foi retirada depois de 15 dias, a meu pedido, porque queria ensinar minha filha a tomar mamadeira. Conseguimos. Mais uma vitória.

Após tudo isso, nos restava somente à incerteza de alguma sequela, como não falar e não caminhar. Fizemos muita fisioterapia motora para incentivá-la e, com 1 ano e 8 meses, ela começou a caminhar. Nem o pediatra podia acreditar. Foi mais uma festa, como todas as que fizemos a cada conquista dela: foi notícia em jornais, rádios e televisão, em programas como Jornal do Almoço.

Hoje a minha Valentina, que passou por tantas e surpreendeu a quase todos, pois poucos acreditavam em sua vitória, está com cinco anos e quatro meses. Tem 12 kg e mede 1 metro. O seu peso ainda nos preocupa. Mas o pediatra nos diz que é normal considerando tudo o que passou.

O que importa é que ela está bem. Vai para a escola no ano que vem, no 1º ano do ensino fundamental. Já conhece letras, números, fala corretamente e, principalmente, sem nenhuma sequela, contrariando a medicina para prematuros dessa linha de peso. Ela e tão linda. É a razão de nossas vidas.

Não voltei a trabalhar. Os meus dias são para ela. Sou fascinada por ela. O pai então, todo babão. Ela é a coisa mais importante de nossas vidas. Hoje o que eu posso fazer é agradecer. Agradecer a equipe de enfermagem, pois todas foram como mães para ela, ao pediatra que é um segundo pai e sempre esteve conosco nos momentos mais difíceis, ao obstetra, que soube fazer a coisa certa na hora certa, a todos os familiares e amigos, que rezaram e torceram por nos, ao papai da Valentina, que sempre esteve ao meu lado e mesmo sofrendo muito me apoiou em todos os momentos, a Deus, a quem pedi tanto para deixar minha filha comigo, e à pequena Valentina, que lutou tanto. Eu pedi que ela lutasse para ficar comigo, pois eu tinha e tenho tanto a oferecer a ela.

Como se esquece? Faço essa pergunta quase todos os dias, e já passaram 5 anos. Em cada olhar e sorriso, em cada birra e choro, as recordações regressam sempre. As dúvidas de ontem, as certezas de hoje. Tudo me tornou o que hoje sou: Mãe! O peso e a responsabilidade dessa pequena palavra. Quando olhas para mim, com o teu doce e malandro olhar, o desafio constante e o amor inexplicável que mutuamente sentimos. A química existente não há formula matemática que a traduza.

Olhas para mim como se fosse capaz de consertar tudo o que está mal no mundo, entrega-me tudo o que se parte como se fosse capaz de arranjar tudo, e não compreendes que nem tudo tem solução, embora eu me esforce para encontrar solução para todos os teus pequeninos problemas.Pergunto-me todos os dias se esta ligação existiria se tudo tivesse sido diferente. Talvez sim, talvez não. A tranquilidade talvez fosse outra, o medo talvez fosse outro.

Como se esquece? Ainda não encontrei resposta. O tempo talvez ajude. Essa é a resposta que convenientemente todos me dão. Vou deixar de procurar respostas. Calar-se não é para esquecer, e sim aprender! A vida é uma aprendizagem, e a maior lição de vida tive da minha filha! Nunca esqueçam: foram 470 gramas de amor e determinação que hoje se transformaram em vários quilos de amor, teimosia, sorrisos. Para o grande amor da minha vida, que já tem 5 aninhos e torna os meus dias mais alegres, agitados, cansativos e felizes."

Michelle, mãe da Valentina.

Responsabilidade do conteúdo por conta do autor, não reflete o posicionamento da ONG. Não nos responsabilizamos pela veracidade dos fatos.

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