![](static/images/stories-page-entry-detail.png)
![](static/images/bulma/1by1.png)
22 de Setembro de 2013
Victor Hugo: um amor de pequenino
“A história da nossa família começa exatamente no dia 05 de novembro de 2005, quando eu e o Thiago nos conhecemos. Dois jovens adolescentes, ambos com 16 anos, que passaram a dividir a partir dali seus sonhos e a idealizar uma linda família. Ultrapassando barreiras de quem dizia não passar de uma paixão adolescente, e até mesmo da distância, por morarmos em cidades diferentes, desavenças entre família, nada disso foi o bastante para diminuir nosso amor. Muito pelo contrário, ele se fortalecia a cada dia, a cada conquista.
Em janeiro de 2008, resolvemos juntar as escovinhas e dali em diante as conquistas foram imensas, tudo muito bem planejado até mesmo a chegada do nosso pequeno Victor Hugo. A emoção de pegar o teste na mão e reler várias vezes para ter certeza é algo único, o sorriso estampado e o brilho no olhar revelavam a imensa felicidade que sentíamos em nos tornarmos pais. Desde então, cuidamos de cada detalhe, desde o tema da decoração do quarto até as lembrancinhas da maternidade, tudo personalizado, feito com muito carinho e dedicação!
Com 4 meses de gestação, eu já apresentava muito inchaço nas pernas, mãos e rosto, a perda da sensibilidade nos dedos das mãos também foi algo que veio com o tempo. Porém, meus exames estavam todos ótimos e até então o bebê estava se desenvolvendo normalmente. Porém, com 24 semanas de gestação (em um exame de ultrassonografia, o conhecido Ultrassom Morfológico), o resultado foi positivo para pré- eclâmpsia e o médico foi categórico nas palavras que usou para descrever o que significava: ‘isso significa o aumento da pressão arterial da mãe, que pode causar várias complicações para ela e o bebê, inclusive risco de morte, dependendo do caso’.
Na hora fiquei sem reação, não conseguia imaginar o quanto aquela notícia poderia ter impacto em nossas vidas, já que agora não era apenas eu, havia um serzinho dentro de meu ventre. Ele dependia única e exclusivamente de mim e eu não tinha escolha, apenas confiar em Deus e esperar para que tudo acontecesse da melhor maneira possível. Mesmo estando a par da situação em que me encontrava e do risco que corria, nem imaginava quão árdua seria a caminhada, afinal, a realidade era diferente aos meus olhos.
Saí do consultório apreensiva, mas com grandes esperanças dele ter se precipitado e não ser daquela maneira a qual descrevia. No outro dia, tinha consulta com minha obstetra e o que ela confirmou era a realidade que eu não queria. Arrasada, fui para casa imaginando o que poderia acontecer, porém, não tinha idéia de que sofreria e o que teria de passar para hoje estar aqui, no aconchego de meu lar, com meu pequeno nos braços, recebendo o mais lindo e inocente sorriso!
A partir de então, a cada consulta eram perspectivas diferentes. Saber que minha gravidez não chegaria até o fim, como qualquer outra gestação normal (ou seja, meu bebê nasceria prematuro), já era motivo de preocupação. Mais preocupante, era saber que ele necessitaria de uma vaga em UTI e que, nos dias de hoje, é complicado, quase impossível. Mais uma batalha a conquistar.
A semana que antecedeu o nascimento de nosso filho começou a dar indícios de que algo estava errado. Vômitos, cansaço extremo e forte dores na nuca, foram os sintomas que, mesmo tão aparentes, não me fizeram desconfiar que as coisas estavam se encaminhando para o que eu mais temia. E não demorou, às 3h da manhã do dia 17 de fevereiro de 2013, acordei me sentindo sufocada e com muita dor no peito. Meu marido prontamente me levou ao Pronto Atendimento do HEM, onde foi constatada pressão alta. Devido ao meu quadro clínico, permaneci internada sob monitoramento de aparelhos e olhares atentos de um médico jovem, sem muita experiência, e algumas enfermeiras dedicadas que tentavam me acalmar e arrancar-me um sorriso. Àquela altura, não conseguia relaxar nem por um segundo.
O monitor chegou a marcar 19/12, não havia mais o que fazer. O médico de plantão foi chamado e, em uma conversa sincera entre ele, eu e meu esposo, sua conduta seria tirar o bebê, mas que entraria em contato com minha médica para ter uma opinião dela, que foi exatamente a mesma, pois não havia outra alternativa.
A preocupação agora era outra: o bebê tinha que nascer, mas necessitava de uma vaga em UTI, e agora? Os médicos entraram em contato com hospitais de toda Santa Catarina, porém não havia vagas e, mais uma vez, a espera me fazia sofrer ainda mais. Foram dois dias de espera até receber a boa notícia, conseguimos a vaga em Blumenau - cidade vizinha. Imediatamente nos dirigimos até lá, onde médicos e enfermeiros já me aguardavam, sabendo minha situação.
No dia 18 de fevereiro de 2013, às 20h, no Hospital Santa Catarina, em Blumenau, com 1,370kg, nasceu nosso pequenino Victor Hugo. Ele veio para abrilhantar ainda mais nossas vidas e nem o alto risco de morte que corri me fez perder a emoção daquele momento. Me entreguei de corpo e alma à vida daquele serzinho. Por ter nascido prematuro e com baixo peso, nosso pequenino precisou ser encaminhado com urgência à UTI Neonatal daquele hospital, mais uma etapa da vida a ser conquistada.
O fato de não ter visto o rostinho do meu bebê, naquele momento, me deixou apreensiva e, confesso, triste. Toda mãe espera e usa de sua imaginação durante 9 meses (no meu caso, 8 meses) para saber com quem seu filho se parece. Porém, minha realidade não permitiu esse prazer e eu fui conhecê-lo através de fotos que meu esposo tirou dele já na UTI, com vários eletrodos, sonda e até mesmo oxigênio que envolviam seu corpinho tão pequeno. Encontrei forças onde nunca imaginei conseguir e esperei acordada até o amanhecer para poder visitar meu bebê na UTI.
Amanheceu e o momento chegou, talvez o mais emocionante de minha vida. Poder tê-lo em meus braços e ficar horas com ele agarradinhos, juntinho ao meu corpo, jamais esquecerei esse dia, essa emoção, o amor que tomava conta de mim! Mas meu olhar revelava o que meu coração tentava esconder: minha dor, minha aflição, minha vida, meu pequenino. Com lágrimas nos olhos, o admirava dia após dia numa pequena incubadora. Ali, por alguns dias tornou-se seu lar, porém não tinha o conforto de meu ventre e nem mesmo o aconchego de meus braços.
E aí veio mais um medo: minha alta, que estava prevista para o outro dia. Como seria ter que deixá-lo? Me deslocar naquela situação, me recuperando de uma cesárea, todos os dias para vê-lo? Já estudávamos a possibilidade de eu ficar em um hotel, localizado ao lado do hospital, para de alguma forma ficar mais perto de nosso pequenino. Mas os médicos nos deram esperança de que ele não ficaria muito tempo, caso continuasse melhorando, no outro dia iria para o quarto comigo.
Ficamos super animados e esperançosos, porém, isso não aconteceu. No outro dia, ao conversar com o médico, ficamos sabendo que nosso bebê teve intolerância alimentar, algo comum entre os prematuros e, portanto, não tinha previsão de alta. Mais uma vez, a angústia tomou conta de nossos corações, e foi aí que apareceram dois anjos que estiveram ao nosso lado, nos dando todo apoio físico e moral durante este período. Um casal de conhecidos, que nos abrigaram em seu lar durante os 16 dias em que nosso pequeno ficou internado (9 dias na UTI e 7 dias no quarto).
‘Todas as noites eram cruciais e devastadoras, o momento em que o deixava e tinha de ir. Não tinha horários para cumprir, só conseguia me despedir quando você já dormia, aliás, como um anjo mais perfeito que pudesse existir! Meu corpo ia, mas minha alma e meu coração deixava com você todas as noites, intermináveis noites em que o sono não aparecia, apenas a ansiedade e espera para poder lhe rever todas as manhãs, olhar para o médico e ouvir da boca dele que você estava bem’.
Me sentia forte e ao mesmo tempo frágil, me sentia especial e ao mesmo tempo diferente. Por mais que as circunstâncias me deixassem aflita, apreensiva, no fundo sabia que havia sido abençoada, pois ganhei mais que um filho, um guerreiro, meu pequenino. Dia após dia ele me mostrava mais que superação, me mostrava que Deus estava do nosso lado e preparava o momento mais esperado: de deixarmos o hospital como uma família mais que feliz, renovada na fé em Jesus Cristo e com nosso pequenino nos braços.
Todo esse tempo, essa espera só serviu para fortalecer os laços que toda família carrega em si, os laços do amor, da união e da fé! Hoje, me sinto profundamente realizada por ter vencido mais este obstáculo que a vida nos impôs, e por ter o prazer de comemorar com meu bem mais precioso mais essa vitória. Além disso, tenho ao meu lado um marido mais que especial, que em nenhum momento me abandonou, muito pelo contrário, me dava forças para seguir em frente todos os dias, fazendo provar para mim mesma, deixando aflorar a grande MÃE e grande MULHER que existia dentro de mim!
Nossos sinceros votos de felicidade a todos os amigos que fizemos no período em que estávamos no hospital, desde as enfermeiras, recepcionistas, a toda equipe médica. A todas as pessoas que torciam pela recuperação do nosso pequenino e, em especial, às mães da UTI que, dia após dia, encontram em seus filhos o motivo de tanta luta e idealizam o sonho que em todo esse período também foi nosso: o de ir pra casa carregando nos braços o bem mais precioso, a prova de que Deus é pleno e jamais nos abandona!
Obrigada a todos os amigos e familiares que oraram pelas nossas vidas e, mais uma vez, a Deus, que permitiu o momento mais feliz da minha vida e poder dar meu testemunho para todas as pessoas que em algum momento de suas vidas se sintam fragilizadas, tristes, desmotivadas. Não fique triste, não há noite sombria que termine sem um maravilhoso amanhecer! Deus escolhe as pessoas certas, nos momentos certos e as põe em nossas vidas com um propósito, de nos fazer crer que ainda existe união, ainda existe compaixão e solidariedade. Essas pessoas denominamos anjos, anjos que jamais esqueceremos e seremos gratos pelo resto de nossas vidas!”
Pamela, mãe do Victor Hugo
Poema feito pela mamãe, relatando a realidade de uma mãe de UTI:
Dias e noites em uma UTI
Me lembro como se fosse hoje, o dia em que você nasceu, ou melhor, a noite...
A noite mais comprida, mais angustiante e, aos meus olhos, a mais incerta de todas.
... A noite em que lhe tiraram de mim, a noite em que nos separaram, que me senti só, me senti vazia. Senti falta de uma parte de mim. Senti falta de você.
... A noite de maior espera, o amanhecer mais intenso. O momento em que pude pela primeira vez ver seu rostinho, tê-lo em meus braços
e por um instante esquecer de todo o resto.
... Esquecer do mundo, esquecer da dor. Foi como se meu coração tivesse parado de bater por um instante e mesmo assim me sentir viva, me sentir feliz, por ter você comigo. Queria que esse momento fosse eterno, e o fiz em meu pensamento, em meu coração.
Mas chegara a hora de me despedir, ter que deixá-lo... A hora mais dolorosa, a mais sofrida. A hora em que o medo tomava conta de mim, o medo do que estava por vir, o medo do amanhã, o medo de não o ter mais comigo.
...E passaram-se dias, passaram-se noites, presenciei perdas, presenciei vitórias. Presenciei choros de tristeza, choros de alegria. Mais que isso, presenciei vidas... Histórias que se emolduravam à medida que o tempo passava.
E dividi com outras mães uma dor constante, uma dor que nenhum remédio cessava, a única fórmula que amenizava era ouvir uma simples frase: “mãezinha, seu bebê está bem”.
...Dias que deixaram marcas, cicatrizes eternas em meu coração e daquelas que lá estavam, assim como eu, à espera de dias melhores... O momento de cruzar a porta do hospital e deixar para trás toda a tristeza, toda angústia, tanto sofrimento...
O dia de olhar para o futuro com mais esperança, com mais amor, mais apego, com mais fé.
Nos braços, o bem mais precioso, no coração, o amor mais puro e sincero que possa existir... O amor maior do mundo, aquele que não se compra, não se vende, ele simplesmente acontece e acontece de maneira a marcar para sempre nossas vidas!