Nascimentos prematuros preocupam, sobretudo em locais com falta de leitos neonatal; ONG Prematuridade.com faz alerta.
Dados extraídos pelo Sisab (Sistema de Informações em Saúde para a Atenção Básica), referente ao último quadrimestre de 2021 (setembro a dezembro), mostram situação preocupante: quase dois terços dos municípios brasileiros (65%) não cumpriram a meta de pré-natal adequado no SUS (Sistema Único de Saúde), que, entre outras coisas, prevê que ao menos 60% das gestantes façam seis consultas, sendo a primeira até a 20ª semana de gravidez.A ausência do pré-natal traz diversos riscos, como a questão de prematuridade, que desencadeia outros problemas em um cenário onde há limitação de leitos para atender a esses bebês. O Observatório da Prematuridade, desenvolvido pela ONG Prematuridade.com, indica que o Brasil tem 9.560 leitos de UTI neonatal, divididos entre tipo I, II e III, porém, nem todas as localidades possuem essa última, destinadas à bebês que necessitam de nível de atenção muito alto. No Mato Grosso do Sul, por exemplo, o Ministério Público Estadual pede, na Justiça, que o Estado e o município de Campo Grande sejam obrigados a abrir mais leitos de UTI neonatal. Segundo o órgão, a situação em relação à internação de recém-nascidos que precisam de cuidados especiais está crítica desde outubro de 2020.
"É primordial que as gestantes tenham acesso aos serviços de saúde, que estes forneçam consultas de pré-natal e realizem encaminhamentos e exames necessários para cada trimestre gestacional, evitando, entre outras situações, a prematuridade, que esbarra em séries de dificuldades", salienta Aline Hennemann, vice-diretora executiva da ONG Prematuridade.com, enfermeira neonatal, docente na área e ativista nas ações em prol dos prematuros. "São essas consultas que, além de acompanhar a saúde materna e fetal, o desenvolvimento gestacional e crescimento do bebê, também preparam a mulher e sua família para a maternidade e cuidados com a criança", completa.
O pré-natal iniciado precocemente, no primeiro trimestre de gestação, é fundamental para identificar fatores de risco que podem afetar a saúde materna e fetal, levando ao nascimento prematuro.
"A prematuridade é a principal causa de mortalidade infantil antes dos 5 anos de idade, no mundo todo. O Brasil é o 10º país no ranking global de partos prematuros, os quais ocasionam 10 vezes mais óbitos de crianças do que o câncer. São 340 mil famílias passando pela experiência da prematuridade todo ano em território brasileiro, 12% do total de nascimentos", pontua Aline.
Na pandemia, a realização do pré-natal foi significativamente impactada, uma vez que muitas mulheres ficaram com receio de ir às unidades de saúde. Lançado em março pela Fundação Abrinq, o Cenário da Infância e Adolescência no Brasil mostrou a primeira queda nas consultas de pré-natal em duas décadas no Brasil, no primeiro ano da pandemia (2020): foi reduzido em 1,9% na proporção de nascidos de mães que realizaram pelo menos sete consultas pré-natal. Diante das altas taxas de mortalidade materna, estudo publicado na revista acadêmica The Lancet analisou como as mulheres foram atendidas durante a pandemia da Covid-19. O trabalho indica que "o aumento dos impactos adversos está relacionado à ineficiência dos sistemas de saúde e à incapacidade de gerenciar a pandemia".
"Mesmo com a pandemia, o pré-natal continuou sendo fundamental, seguindo todos os protocolos de segurança e agora, que a Covid-19 está desacelerando no país, se faz urgente que cada vez mais seja reforçada a necessidade da realização de consultas e exames, que os profissionais de saúde intensifiquem as orientações a gestantes e que os equipamentos de saúde tenham a estrutura necessária para o atendimento. Podemos intervir positivamente nesse quadro e vidas podem ser salvas", conclui.