25 de Janeiro de 2013
O milagre de Ícaro
Obrigada, Giovana, por compartilhar dos sentimentos mais profundos que vivenciaste na chegada do Ícaro. Que ele tenha muita saúde sempre! Um beijo carinhoso.
"Minha vontade de ser mãe era maior do que qualquer outro desejo meu. Aí vem casamento, o tempo passa, e nada. Exames (muitos doloridos), cirurgia, e o diagnóstico de aderência nas trompas, ou seja, nada de filhos. Houve choro e tristeza.
No entanto, cerca de quatro meses depois, provando que o mundo é feito do impossível, eu estava grávida. Foi presente de Deus. Parei de fumar (depois de 22 anos) e entreguei a minha vida para este bebê. Aos três meses de gestação, vieram dor, sangue e questionamentos médicos. Fiz um ultrassom e lá estava ele, aquele coração batendo, como nunca, tão forte, tão altivo. Passou pela primeira prova.
Com 27 semanas, voltou a dor. Fiquei sem lugar, sem chão. O que será que esta acontecendo, perguntei eu. Fui para a maternidade e lá ouvi a seguinte frase: “Você, querida, está tendo o seu bebê. Você já está toda dilatada e ele pode nascer a qualquer momento”. Como nascer? Nem terminei o meu enxoval, nem pintei o quartinho.
Fui transferida para outra maternidade que tinha UTI Neonatal. Sofri uma noite inteira e na manhã do dia 18 de setembro de 2008 a médica rompeu a minha bolsa. Depois de um grande sofrimento, meu filho nasceu às 8 horas e 9 minutos da manhã. Nasceu de parto normal, teve sofrimento fetal. Nasceu em pé, ainda não estava na posição correta. Nasceu com 27 semanas, pesando 1.080 quilos, medindo 34 centímetros. Nasceu prematuro extremo.
E agora, como ter força, coragem para entrar naquela sala, cheia de barulhos, fios, pessoas estranhas, caixas aquecidas. Na porta da UTIN pela primeira vez, nunca estive tão só em toda mina vida. E quando vi aquele ser tão pequeno e disseram ‘este é seu filho’, pensei: “Como meu filho, cadê aquele menino gordinho que sonhei? Aquele garoto de propaganda de fralda? Não, este não e meu filho”.
Chorei e voltei a olhar. Vi um sujeitinho tentando viver, puxando o ar com os bracinhos tão magrinhos, uma cabecinha tão pequena. Uma coisinha tão coisinha. E como numa explosão maternal, numa mágica divinal, meu coração bateu como quando descobri que estava grávida. Sim, ele era meu pequeno, estranho, eu não podia nem pegar, nem ver seus olhos que estavam vendados, nem cheirar, abraçar. Mas ele era meu. Meu grande amor, meu verdadeiro, amor.
Agora começava outra luta. Dor, angústia, tristeza, muitas vezes falta de esperança, transfusão, remédios, antibióticos, falta de oxigênio, hemorragias, tubos, agulhas, mais dor, mais tristeza, mais esperança, mais amor, mais orgulho, mais vontade de viver. Esse era meu filho, um grande guerreiro. Com certeza, vai ser um grande homem. Melhora peso, respiração e finalmente casa, enxoval, quarto...
Aí vem medo, angústia. Fomos direto para casa da minha mãe, minha Regina, minha rainha, que em nenhum momento soltou uma palavra que me colocasse para baixo. Ela e meu pai, o homem mais doce do mundo, estavam como sempre estiveram, me esperando, de braços abertos, para me acolher. Eu e meu pequeno rebento.
Hoje ele está com quatro anos, provando mais uma vez que a medicina pode se enganar, pois o quadro era, sem falar, sem correr, sem andar. Um pequeno vegetal. E ele mostrou que verdadeiramente os melhores perfumes são os dos vidros menores.
Esta é a historia do meu lindo filho Ícaro Francisco Ribeiro da Costa."
Giovana, mãe do Ícaro.