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09.09.2016

O importante é que venha com saúde

“O importante é que venha com saúde”. É o que ouvimos e dizemos frequentemente, quando nos deparamos com uma gestante. Mas… e se não vier com saúde? O que sentirá essa mãe? Como ela poderá lidar com a situação, caso o mais importante falte à sua cria? Venho me fazendo essa pergunta desde que minha filha nasceu. Por ter vindo ao mundo incompleta, imatura, Alice estreou a vida com a saúde frágil.

Na Uti Neonatal, estive na companhia de inúmeras mães que, assim como eu, lutavam por qualquer sopro de vida de seus filhos. Assisti uma delas segurar a mão de seu rebento, aos quatro meses, e se despedir dele no silêncio de sua falta de ar. Acompanhei outra cujos seios jorravam leite abundante, enquanto seu filho permanecia em jejum num quadro fatal de toxoplasmose. Vi também outra mãe mover inúmeros recursos para transferir sua filha de estado, a fim de oportunizar uma delicada cirurgia de coração que pudesse dar nova chance à vida. Presenciei o choro incontido de ainda outra mãe que acabara de descobrir que seu filho, com dois dias de vida, era portador de uma síndrome rara.

Nenhum desses bebês veio ao mundo com saúde. Mas em cada uma dessas situações-limite, aprendi que isso não era o mais importante. Quando se decide ter um filho, decide-se acolher a vida, seja lá como for. O cuidado é assumido como responsabilidade inarredável, inadiável e intransferível pela mãe.

Eu mesma, quando me vi ao lado do corpo pálido e inerte de minha filha, depois de sua prolongada parada cardiorrespiratória aos dois meses, só conseguia desejar que ela vivesse, que ficasse comigo, quaisquer que fossem as consequências para sua saúde. Dias depois, ao saber que havia uma lesão cerebral severa, chorei copiosamente até ser sacudida pela pergunta da médica: “o que você vai fazer? Vai devolver sua filha? Sim, ela tem uma sequela grave, e daí?” Dali em diante nada mais importava a não ser o fato de que ela queria viver e, por ela e com ela, eu também queria continuar vivendo. Nenhum coração de mãe suporta menos que isso depois de ter experimentado outro pulsar. Foi o que aprendi da avassaladora experiência com as mães da Uti.

Compreendi que o contrário da doença não é a saúde, é o amor. O desejo de saúde continua sendo importante, e como! O sofrimento que a doença traz causa traumas cuja dimensão só se pode avaliar com o correr do tempo. Mas o fundamental a cada filho à espera do nascimento na barriga de sua mãe é a certeza de ser amado e desejado. Assim como o mais importante para cada mãe é saber-se capaz de amar. O amor é o princípio da força e da cura de todas as vidas, de toda uma vida."

Mariana Rosa, jornalista e mãe da Alice (Diário da Mãe da Alice)

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