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27.11.2014

Mãe faz campanha de doação de leite nove meses após morte de prematura


Notícia original publicada em 17 de novembro de 2014.

por Raquel Morais
Do G1 DF

Inspirada na própria dor, uma professora de Brasília que perdeu um bebê nascido prematuramente nove meses atrás lançou uma campanha de arrecadação de leite materno para celebrar o mês da prematuridade, que tem como dia D esta segunda-feira (17).

Com 29 semanas de uma gravidez cheia de complicações, Glenda Ranielly de Alcântara, de 35 anos, deu à luz ao casal Maitê e Teo. A menina morreu uma semana depois, e o garoto batalhou pela sobrevivência por 69 dias em uma UTI.

“A prematuridade me tirou muito, roubou os meus sonhos, não pude amamentar como queria. Com a idade que meus filhos nasceram, eles não tinham ainda desenvolvido os reflexos necessários para a sucção e não respiravam sozinhos e isso os impedia de mamar. Depois de sair da UTI, meu bebê ainda passou por alguns problemas e precisava ganhar peso, então tivemos que dar o meu leite para ele na mamadeira. Durante esses noves meses tiro leite para ele porque sei da importância”, explica.

[caption id="attachment_15472" align="alignright" width="300"]O casal André Luiz e Glenda Ranielly, de Brasília, durante a gravidez dos gêmeos Maitê e Teo. (Foto: Glenda Ranielly Alcântara/Arquivo Pessoal) O casal André Luiz e Glenda Ranielly, de Brasília, durante a gravidez dos gêmeos Maitê e Teo. (Foto: Glenda Ranielly Alcântara/Arquivo Pessoal)[/caption]

Moradora de Sobradinho, região administrativa a 22 quilômetros do Plano Piloto, Glenda conta que a gravidez foi planejada por anos com o marido. A tão esperada notícia veio cinco meses depois de ela parar de usar pílula anticoncepcional, e a revelação ocorreu durante um almoço da família. A sobrinha leu uma carta escrita por ela, como se fossem os bebês falando com o pai. “Foi um choro só”, lembra.

Com três meses de gestação, a professora viajou para os Estados Unidos para fazer o enxoval das crianças. Lá, teve sangramentos e a primeira infecção urinária. O quadro piorou na volta ao país, com dores, fraqueza e várias internações. Com 25 semanas, ela começou a ter dilatação, e a infecção não passava mesmo com os antibióticos. A mulher deu início a um repouso absoluto.

Glenda precisou então ser internada em um hospital particular da Asa Sul e tomar remédio para prolongar a gravidez pelo máximo de tempo que conseguisse. No último dia autorizado pelo médico para usar a medicação, uma ecografia apontou que havia pouco líquido na placenta de Teo. O parto cesariano foi feito horas depois, no dia 12 de fevereiro, no sexto mês da gravidez.

O menino, que nasceu com 39 centímetros e 1,2 quilo, e Maitê, de 35 centímetros e 1,1 quilo, foram imediatamente levados para a UTI. A menina apresentou hemorragia no pulmão e acabou morrendo seis dias depois. “Estava me preparando para ir para a visita e nos ligaram pedindo para irmos logo. Recebi a notícia na própria UTI. [Eu] Me lembro de gritar de dor, de não conseguir respirar, foi a pior sensação que já senti”, afirma Glenda.

[caption id="attachment_15473" align="aligncenter" width="599"]Os bebês prematuros Maitê (acima) e Teo (abaixo), em incubadoras de hospital particular de Brasília. (Foto: Glenda Ranielly Alcântara/Arquivo Pessoal) Os bebês prematuros Maitê (acima) e Teo (abaixo), em incubadoras de hospital particular de Brasília. (Foto: Glenda Ranielly Alcântara/Arquivo Pessoal)[/caption]

Enquanto isso, Teo travava uma nova luta, fora da barriga da mãe: recebeu diversas transfusões de hemoglobina e plasma e ciclos de antibióticos, ficou entubado por 15 dias respirando com a ajuda de aparelhos, usou oxigênio auxiliar por dois meses, fez cirurgia de hérnia inguinal e passou por tratamento homeopático ainda na UTI, com um médico da família. Quando ganhou alta, tinha 2,6 quilos e 47 centímetros.

“Hoje sou dividida; metade é só tristeza e saudade, e a outra parte de mim é felicidade, orgulho e alegria. A morte da minha filha deixou um vazio enorme em mim, mas tenho que continuar pois tenho um presente de Deus para cuidar. Quando penso que não vou ter forças para continuar, olho o meu filho, que sempre tem um sorriso no rosto, e minhas forças são renovadas”, diz a professora. “Ele é forte, quase não chora nem na hora de ser furado para fazer exames ou tomar vacinas. É muito sorridente.”

[caption id="attachment_15474" align="alignright" width="300"]Glenda, André Luiz e o filho Teo, de Brasília. (Foto: Glenda Ranielly Alcântara/Arquivo Pessoal) Glenda, André Luiz e o filho Teo, de Brasília. (Foto: Glenda Ranielly Alcântara/Arquivo Pessoal)[/caption]

A família ainda não sabe se Teo vai ter sequelas. O menino recebe estimulação precoce em um centro de ensino especial da rede pública e faz fisioterapia e natação. Além disso, é acompanhado por um pediatra especializado em prematuros. As atividades são semanais.

Em homenagem à persistência do pequeno e à memória da filha, Glenda decidiu pedir a outras mães que doem leite. Segundo ela, centenas de mulheres já manifestaram apoio. As doações foram feitas até agora em 2 dos 15 bancos do DF. Sem meta definida, a mulher diz que pretende conseguir “o máximo que puder” de litros do alimento.

“Sei que a arrecadação de leite materno é pouca e os bancos vivem com seus estoques baixos, pois nascem muitos bebês prematuros e com outros problemas de saúde e as mães muitas vezes não têm o leite para dar a esses bebês. O mês de novembro é o mês da sensibilização para a prematuridade. Eu quis homenagear meus filhos e ajudar outros bebês”, declarou.

[caption id="attachment_15475" align="alignleft" width="300"]A professora Glenda Ranielly de Alcântara, durante a gestação dos gêmeos Maitê e Teo. (Foto: Glenda Ranielly Alcântara/Arquivo Pessoal) A professora Glenda Ranielly de Alcântara, durante a gestação dos gêmeos Maitê e Teo. (Foto: Glenda Ranielly Alcântara/Arquivo Pessoal)[/caption]

A professora, que ainda guarda em casa todo o enxoval da filha para “ter um pouquinho mais dela”, diz desejar que toda a experiência vire apenas passado e sirva de lição a Teo. O bebê hoje tem 67 centímetros e 7,5 quilos.

“Senti dor minha gravidez toda, sofri muito, não podia levantar nem para ir ao banheiro. Os dias e as noites eram infindáveis. Mas passaria por tudo novamente se pudesse tê-la [Maitê] comigo ou aguentaria tudo até quando ela estivesse pronta para nascer”, afirma. “[Sobre Teo] Desejo que seja feliz.”

Prematuridade
De acordo com a Secretaria de Saúde, 12,5% das crianças que nascem no Distrito Federal são prematuras. O índice é um dos maiores do país. A última pesquisa feita pelo Ministério da Saúde com dados de 2010 apontou que 11,7% dos partos feitos no Brasil ocorrem antes do período ideal – 37 semanas de gestação.

O estudo "Prematuridade e suas possíveis causas" investigou o número de bebês nascidos antes do tempo e com baixo peso (abaixo de 2,5 quilos). Segundo os autores, tem havido um crescimento nas taxas de prematuridade do país – por outro lado, há redução nos índices de mortalidade infantil.

Dados do Ministério apontam que a condição é a principal causa de morte no primeiro mês de vida – cerca de 70% dos óbitos de crianças ocorrem nos primeiros 28 dias após o nascimento. Atualmente, a taxa de mortalidade de crianças abaixo de 1 ano é de 16 por mil nascidos vivos, segundo a Rede Interagencial de Informações para a Saúde.

A Secretaria de Saúde informou que bebês com menos de 28 semanas são considerados prematuros extremos e normalmente precisam de internação prolongada em UTI Neonatal. Já os prematuros tardios de 34 a 37 semanas podem ficar em Unidades de Cuidados Intermediários.

O leite materno arrecadado por meio dos bancos da rede de saúde é destinado principalmente a esses bebês. Cada litro de pode atender até dez recém-nascidos, dependendo da necessidade de alimentação.

[caption id="attachment_15477" align="alignleft" width="300"]Enfermeira organiza geladeira com estoque de leite materno no DF. (Foto: Agência Brasília) Enfermeira organiza geladeira com estoque de leite materno
no DF. (Foto: Agência Brasília)[/caption]

Leite materno
Estudos da Organização Mundial de Saúde mostram que o leite materno é capaz de reduzir em 13% as mortes por causas evitáveis em crianças com menos de 5 anos – mais do que é evitado pela vacinação ou pelo saneamento básico. Em 2008, 41% das mães brasileiras alimentavam os bebês exclusivamente com leite nos primeiros seis meses de vida.

Atualmente, o Ministério da Saúde estima um aumento de 10,2% no número de crianças sendo amamentadas exclusivamente até seis meses.

Interessadas em doar o alimento podem se dirigir aos postos de coleta das regionais de saúde ou solicitar que uma equipe do Corpo de Bombeiros busque o alimento em casa. O serviço de doação pode ser agendado pelo telefone 160, opção 4, e os bombeiros buscam os frascos nas casas das doadoras.

Durante a coleta, é importante lavar bem as mãos e prender os cabelos para evitar que fios caiam no vidro. As mães precisam estar em perfeitas condições de saúde para doar. O leite deve ser acondicionado em vidros de boca larga e com tampa de plástico, fervidos previamente por 15 minutos.

Após a coleta, o recipiente deve ser colocado imediatamente no freezer de casa, onde pode ficar no máximo 15 dias armazenado. O alimento, após pasteurizado, tem seis meses de validade.

De acordo com a Secretaria de Saúde, os estoques no DF estão em baixa. Foram coletados 1.496 litros de leite em outubro. O mínimo ideal, afirma a pasta, é de 1,5 mil litros. Já a meta é chegar a pelo menos 1,8 mil.

Fonte: G1

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